segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Orpheu

Numa anthologia não descodifica o epigrama de poesia sepulcral na folha petrificada e voga sobre falos bagos de pérolas feridas de uma sombra viva que se intromete num orifício demagogo e se expulsa num esguicho sobre um monte bicéfalo hidrocéfalo dissecado com a máscara da paz içada num nariz que inspira a vertigem ilegal e se inverte no espelho de pregos e parafusos enferrujados que pingam sobre os ombros de uma corcunda saltitante reveste de um ritmo fúnebre o transvio do sossego que transcorre as rotundas movediças que jogam motores a carburar a saudade à deriva numa colónia de macacos com medo de que o ditador lhes azedume o açúcar em triângulo com os catetos opostos à hipotenusa que crescem num fluxo desmedidamente imperfeito num vácuo de fumo preso a um grito branco num irromper de uma tragédia redigida em cascata de fancaria para o mar doce amargo de sargaço que ondula lentamente num baloiço fresco entediante de rosas com glóbulos brancos e vermelhos sobre uma cama de dossel proxeneta onde velam a arder de paixão pelo ódio quanto mais melhor se for num dia um beijo adeus que se confunde com a partida de uma carcaça para um outro foro onde se destaca o negrume e irradiam heterónimos proscritos por defuntos anónimos que se envolvem em pessoas em pessoa e em si ser viúvo de si La Ti Do dá dó oooh ooh; um dos responsáveis pelo Salão Brazil sobe ao palco e anuncia que Fred Frith tem como “única data” a que se está a iniciar e o músico esta a se deslocar timidamente para uma cadeira e segura uma guitarra eléctrica que é manipulada segundo o critério rítmico sobre as cordas e nestas coloca duas circunferências em metal que manuseia que se sonoriza numa tempestade e com um arco dissipa-se no interior de algo este principio é revelador que Fred Frith apresenta uma suite que versa sobre diversas estruturas que quando são compostas de seguida encontram o seu oposto ou algo similar que posteriormente se transformam numa antropomorfia que se insurge contra os pressupostos dominados pela razão que tem como objectivo dinamitar e os géneros musicais emoldurados na vanguarda europeia de década de setenta são meras citações do rock da pop do jazz do flamenco da música clássica e da música celta (entre outros) que são revistas num critério ora de ostensiva perversidade; pintura que berra um besouro indiano milita no sossego da hipnose de férias numa coutada de javalis perseguidos por focos assassinos repatriados de universidades de pobreza onde o currículo disciplinar inclui no último ponto o seu consumo obrigatório que analisado com atenção é uma nuvem de ossos a entaipar o Sol e o Do L.A SIDA; ora de uma ironia dilacerante em que o narrador constrói uma ficção em que as partes se encaixam paradoxalmente evidenciando dessa forma o absurdo um reflexo que absorve os sons e os recria numa sucessão de acasos incidentais que eliminam a rotina dos ruídos e silêncios utópicos e este aparentemente se instala e algo se ouve a se movimentar na cozinha um remate de som concreto de um compositor naive e surge na esquerda uma jovem com um bolo de aniversário e a plateia que se encontrava em pé a aplaudir canta os parabéns a Fred Firth…; injectada em freiras serenas que minguam a cauda e as escamas escamadas misturam-se no salitre da pomada para as rugas velhas sedentárias castradas numa procissão em um nome provavelmente Orpheu ou desejadamente uma virose de substrato de bacalhau em sopas de sangue humano retinto que ferve o estômago numa gravidez imaginaria e a luz frígida invade uma intermitência e se dilui no espaço rectangular de cérebro condicionado aos pressupostos de uma máquina de choque que choca a ovulação de parteiras de gravata e batina que os servem aos viajantes embriagados pela paternidade de um mostruário de feiticeiros com armas de água a atirar indiscriminadamente sobre os rebeldes obreiros de um porto com ameias onde um triste titan resiste às vagas numa preguiça incontinente nos ombros perpétuas marcas defecadas por filhas do mar uma abstracção pontilhista de um pierro alfacinha a dançar num círculo circense perante crianças e alguns adúlteros que batem palmas displicentemente e o elefante levanta uma vassoura e sob um saxofone de varas ébrio jaz nesta pedra tumular James Dunn.

Fred Frith, 17 de Fevereiro, Salão Brazil.