Ele é um suicida de raiz vertical à guerra suspensa numa tripa invicta que se liga a um órgão que defeca tempestivamente o segredo dos restos orgânicos sobre um banho de prata onde circula numa lágrima negra inspirada por um canhão que é conservada num cérebro bipolar de nível três que subtraído por um dá dois e se chegar ao top é da responsabilidade do povo amante de samba e de sertanejo que televisionam novelas entre gangas rivais e a execução barbara de Marielle Franco fã da Daniela Mercury enterrada sob o arco-íris que é a bandeira da Terra; Wipeout Beat são os primeiros convidados do Mercado Nego sediado em Aveiro com vista para um dos canais da ria que se divide num delta policiado por moliceiros castrados e o trio conimbricense apresenta um conjunto de canções que fazem parte do seu primeiro longa duração “Small Cities Big Thoughts” numa sala quadrada em o que som é de uma virilidade synth mas indubitavelmente retro ao qual adicionam uma guitarra distorcida e reverbera o rock and roll que remete para o kraut rock (visceral) e as vozes ora são faladas ou cantadas num desdém de crooners decadentes que vivem diariamente numa ficção com cenário de casino ilegal onde o tempo é uma intermitência entre o do Inverno e o do Verão; adolescente com milhares de séculos a ser penetrada por alicerces de estatuária decadente que promiscuamente se multiplicam por amor e ainda e talvez amor numa divagação segura da sua efemeridade assegurada por médicos que são escravos de doenças venéreas e alguns receitam veneno aos seus entes queridos talvez noventa e nove por cento reza para que uma nova epidemia lhes devolva a terapia ocupacional de uso do Visa amarelo com ideogramas chineses patrocinados pela EDP que ilumina o casario pobre e os castelos que são somente Muralhas bebida numa estrumaria chique que atrai o capital para branquear juntamente com as toalhas da mesa penduradas em fios com molas amolecidas de colchão de palha e tatuagem Real idealizada pela Joana Vasconcelos e prensada pelo Julião Sarmento em exibição na galeria Torcida Verde e no imediato assegura-se que se eventualmente se entender que um outro domina o que; Velvet Kills é um dueto que veste pvc e têm um risco negro sobre os olhos e são louros oxigenados ele domina os sintetizadores e a guitarra eléctrica e ela o baixo eléctrico e a proposta divide-se entre o gótico e a pop confinada ao synth kitsch e ainda canta num eco fantasmagórico e ao dominar o tripé se insinua ciberneticamente é uma boneca que tem o coração a transbordar de um amor electrificante e ao se unir ao do seu companheiro havaiano as canções reverberam com uma vibração hipnótica; Ele é nessa circunstância um rosto vivo que está morto num acto reflexo comunitário de quem se submete a um estado de inacessibilidade intemporal num pontilhismo micro celular que se suspende no ar invisivelmente e emoldura macro organismos que se movimentam segundo o batimento do coração essa bomba pronta a explodir num BANG! e o transforma + ou - em pó radioactivo que o vento cospe para diversos países subdesenvolvidos onde aterra a Coca-Cola e inaceitavelmente é-lhes subtraído naturezas mortas em mesas de madeira carcomidas pelo caruncho esfomeado vizinhos de campos de golf e piscinas paradisíacas com ar condicionado regulado para uma temperatura tépida que afasta os mosquitos e arrefece o papel de parede com “The Dream” do Henri Rousseau; Victor Torpedo apresenta “Karaoke” e o seu último CD “I and I” e o espectáculo é uma constante decomposição da postura de um cantor formatado para seduzir ao estilhaçar as fronteiras do que está legalmente instituído e há flashes em que enfrenta o público ou se deita aos seus pés ou lhes atira com garrafas de plástico de água vazias e se fere com o microfone na testa e o entrega a alguém para que este cante as legendas dos vídeos que são projectados atrás do cantor-performer de Coimbra que é uma figura que combate em nome da anarquia e musicalmente versa a pop com traços de um decadentíssimo kitsch que sublinham o absurdo a que existência do ser humano está consignada; e sobre um outro tempo atemporal submete-se uma linhagem de rodas dentadas que mecanicamente se canibalizam para produzir campos verdejantes colonizados pelas cores quentes às mãos de vento do Van Goth antes de se auto mutilar ao cortar a sua orelha instigado ao suicídio pelo seu amigo-médico Paul Ferdinand Gachet e perniciosamente distante do seu irmão mais novo Theo van Gogh e se há corvos numa das telas é porque antes de se matar o pintor holandês não encontra no horizonte o sortilégio da paz de espírito para continuar a se reflectir na sua palete que anuncia o futuro em filtros do Instagram e é nessa desolação que Ele dispara contra Ele é na sua barriga que entra o projéctil e através da ferida verte as pétalas de girassóis amarelas vermelhas…
Victor Torpedo + Velvet Kills + Wipeout Beat, 30 de Março, Mercado Negro, Aveiro.
Em memória da Marielle Franco e do Manuel Reis.
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