O Teatrão desde o ano passado tem realizado concertos na sua Tabacaria onde tem um palco junto ao bar e para o festival T.N.T (a Tabacaria No Teatrão) com a curadoria do Victor Torpedo abrem as portas do Teatrão onde se encontra instalado um palco de dimensões consideráveis iluminado por vary lights e os responsáveis por subir ao da Tabacaria são os Flugy que apresentam um conjunto de canções aceleradíssimas e nas quais têm a habilidade de incutir inúmeros pormenores os quais potenciam a melodia que é cercada pela vertigem punk que é misturada com o rock e estas são as que agrilhoam o psicadelismo que é relegado para um enquadramento decorativo esta complexidade de texturas é executada com um talento invulgar que os torna arrebatadores; o duo Sunflowers se apresenta com o baixista dos 800 Gondomar no palco do Teatrão algo que os retira da homogeneidade do atol punk que os estava a cristalizar e se associam a um psicadelismo noise que é de facto portentoso de tão grandioso e que paradoxalmente é sufocante inapropriado a quem sofra de ataques de pânico; Cow Cos correspondem a quatro rapazes de fato de macaco laranja liderados por uma bailarina e musicalmente associam-se ao ska e ao dancehall e ao funk e ao blues e à música marroquina segundo uma constante desconstrução que as impregna de nonsense e a voz da bailarina é um grito ou um outro grito ou vogais e frases que são absurdas e veste uma t-shirt de cavas cinzenta apertada que aprisiona os seus mamilos e a saia é um friso que roda à volta das suas nádegas delicadas que atraem o olhar dos presentes mas a sua expressão corporal é de quem pretende ser um objecto de desejo mas que no instante seguinte se reflecte na sua rejeição um jogo hipnótico que Freud usaria para um ensaio sobre a sensualidade versus o líbio; Scúru Fitchádu (palco Teatrão) têm por base o funana que é manipulado numa ordem marcial e ao esgotarem passam para o break beat ambos injectados por doses soberbas de texturas perturbantes que encontram o seu apogeu quando citam o punk e o hardcore mas não é só de violência sonora que se nutrem há também a delicadeza de uma canção com um acordeão que transforma a ruralidade em algo nocturno e fantasmagórico e este é maximizado pelo vocalista/percussionista/performer que nos transporta para um ritual de iniciação em que a antropofagia servia para adquirir a alma do difundo e daí ganhar as suas propriedades de líder da aldeia algures em África representam a paixão pelo abismo; Wipeout Beat (palco Tabacaria) são três ilustres de Coimbra a tocar sintetizadores e os temas versam sobre o kraut rock e a synth pop retro e estes são deliberadamente amestrados a um psicadelismo que os transpõe para um domínio inexoravelmente lúdico num espaço onde somente existe o presente no mínimo arrebatador; The Pacers (palco Teatrão) oriundos do Reino Unido apresentam catorze canções de recorte clássico datadas da década de setenta já que as guitarras ora são elegantemente rock ora soberbamente pop com a mais-valia de terem um guitarrista/cantor com um timbre soul que lhes dá uma vivacidade áspera e que obriga ao ouvinte a se concentrar e aceder à narrativa sobre um universo pop idílico; há uma passagem subterrânea por onde uma toupeira circula numa rotina imposta pelo instinto de sobrevivência que a obriga a percorrer diversas ruas onde se prostitui aos turistas e num quarto fétido com uma teia de aranha suspensa no tecto que se sente atraída por uma luz que lhe provoca uma cegueira que a seduz e o seu calor lhe dá energia e projecta a sua sombra numa dimensão maximizada longitudinalmente e se afasta e observa dois vultos a canibalizarem-se sobre a cama de ferro que chia aceleradamente que associa ao de uma ninhada de ratos famintos à espera da ratazana e o silêncio é acompanhado por uma escuridão que é para si um cinza escuro que é branqueado pelo fumo de um cigarro e identifica a sua ponta vermelha a se iluminar quando é sustida na boca da prostituta que o abandona num cinzeiro transparente e o seu circulo é um anel repleto de beatas com filtros manchados de baton vermelho e acende o candeeiro acompanhado pela Bíblia sobre a qual se encontra uma cruz em prata e o separador é uma fotografia da sua mãe a folheia aleatoriamente e se concentra numa página onde Ele lhe promete a eternidade que não questiona pois está codifica a parábola e a coloca entre as pernas depiladas e junta as mãos e em surdina reza para se libertar do seu pecado que a consome em cada cliente e a aranha ouve um som sustenido que ondula e que gradualmente se dissipa e a jovem sente as lágrimas a sulcarem o seu rosto de mulata descendente de servos da gleba e reincide na leitura e Ele é beijado nos pés pela Maria Madalena e sorri ao ouvir o toque do telemóvel de um outro cliente que ostensivamente ignora e se levanta e acende a luz e de um papel de prata esmiúça a cocaína que deixa cair sobre um espelho e depois de a dividir se socorre de uma palhinha e a inspira e ao contaminar o seu cérebro ergue-se e vê a aranha a percorrer o seu robe de cetim branco e num gesto urgente o despe e o atira contra a cama e inexplicavelmente pára e se aproxima do seu reflexo que lhe é de uma exactidão que a surpreende pois não se reconhece e dá meia volta e na mesa repete o ritual com a palhinha e sente um estrondo que lhe dá energia para saltitar sobre o colchão e o telemóvel toca e tanto faz pouco importa quem seja porque o que a move é a liberdade nem que esta seja tóxica; Bone Zeno (palco Tabacaria) está sentado com a guitarra eléctrica ao colo e uma pandeireta no pé esquerdo e a sua voz é um rasgo de uma navalha num pano-cru e as canções são rock ou punk ou noise ou blues mas o que há a destacar é a sapiência com que manipula cada um destes géneros e os inverte para algo novo num equilíbrio desarmante e sendo assim o músico alemão não é mais um one man band mas um one man show excelente; Queers of Rock´n`Roll (palco Teatrão) não são rapazes com perucas coloridas vestidos de látex e nem a música provém do hair metal que dominou a MTV americana para alastrar aos países ocidentais na década de oitenta antes vestem à punks rockers e as canções são um derivado desta miscelânea e neste ponto são medíocres dada a falta de criatividade mas há uma encenação que é no mínimo abjecta e que passa por exibir o traseiro e aponta-lo para um dos colegas ou ainda um beijo de língua de quem julga que isso é chocante mas o absurdo encontra o seu apogeu quando sobe ao palco um dos membros do público e tenta sodomizar o baixista não sei em que livro sobre o punk encontraram tais exemplos e para ser sincero tal me é indiferente o que eu tenho como certo é que transformar um concerto num antro exibicionista em que domina a idiotia é censurável e como tal é admissível os etiquetar de freak show; Moon Preachers (palco Tabacaria) vertem consecutivamente uma distorção inebriante que se imiscui num psicadelismo perverso já que não tem como objectivo seduzir o ouvinte e a voz é um elemento que grita contra a alienação e bateria advém um tumulto incendiário f-a-n-t-á-s-t-i-c-o; Miscalculations (palco Teatrão) têm como eixo central um vocalista oxigenado com um fato que evoca uma ordem militar que remete para um formalismo excêntrico ao qual se associa os óculos escuros e o guitarrista é o responsável pela fluência sónica de recorte visceral que tanto o é no punk ou no rock e ao se afastarem destas estéticas ao inserirem o pedal do delay surge uma maravilha pop rock soberba com a complacência de uma secção rítmica segura e se me esqueci da descrever a voz do cantor é porque está é de uma incidência predominante eloquente pois é um cantor exímio; Alien Church (palco Tabacaria) são quatro rapazes de Portalegre e a sua proposta se centra no noise mas numa frequência em que as progressões são invertidas para um domínio em que são dilacerantes e o público responde às investidas do guitarrista que implementa descargas inusitadas de rock and roll e ainda enquadram a balada kitsch ou subvertem diversos géneros num ângulo em que impera o espanto imperdível; The Parkinsons (palco Teatrão) são a banda que quase conquistou o Reino Unido e ainda é a única banda portuguesa a subir ao palco do festival Glastonbury mas isto são apontamentos num currículo repleto de glória mas também de tragédia mas está é central no discurso que é predominantemente punk que é épico pois encontram um tradutor exígimio que dá pelo nome de Victor Torpedo e no Alzheimer um cantor que de tronco nu e lesionado numa perna um performer intemporal devidamente apoiados num duo rítmico que sustem a estrutura de forma exemplar e ainda o teclista/percussionista Jorri que insere um azedume esquizofrénico e a isto o público responde com uma mosh ou atiram garrafas de plástico e a certa altura sobem ao palco que milagrosamente os suporta e são enxotados por diversos técnicos que repõem uma ordem que é subsequentemente destruída pelos Parkinsons.
Festival T.N.T, 25 e 26 de Maio, Teatrão, Coimbra.
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