A respiração ofegante de uma máquina em quinta gravita em redor de uma lâmpada led que se apaga e a paisagem urbana no interior da bola de vidro é de uma opacidade desarmante que é rabiscada por raios que atingem um palacete que arde e o fumo intoxica o casal; Lucifer`s Ensemble é composto por três músicos que se dividem pelo contrabaixo eléctrico a bateria e o trombone de varas/mesa de mistura e por dois performers um toca guitarra e o outro assegura a voz mas este último facto somente sucede após a primeira parte da performance e em que estes delimitam o espaço com cinza que sucessivamente é destruído e é deste jogo que se nutre a performance a transformação de seres humanos em algo negativo e que é levado a um extremo em que domina uma loucura advinda da subtracção da razão e é este centro a origem da metamorfose destes dois homens em algo que se aproxima de um bestiário que é o espelho de uma consciência que combate tudo o que aparenta o belo e a música que os estimula a agir dessa forma tem origem num ritmo africano que é o indutor central submetido a uma sucessiva transposição delimitados pelo free jazz imperdível; e após a combustão as cinzas de mãos dadas são noticiadas nos jornais e na televisão estatal associados a um amor tipificado segundo um cliché de dramatismo secular e os espectadores consternados alternam os canais à procura de algo que os liberte da dor e momentaneamente lhes é possível se distraírem com um idoso que dactilografa telegramas que são enviados por um mensageiro que cavalga montanhas e irrompe de um desfiladeiro e o horizonte se afirma através de uma linha irrequieta que é adversária e o seu esforço redunda numa frustração imparável e ecoa o chamamento de um Centauro; Jorge Barco está sentado à frente de uma mesa com diversos objectos que remetem para a ciência tem uns óculos escuros para se proteger da câmara de projecção que predominantemente o ilumina inscrevendo a sua sombra sobre a parede e o músico limita-se a tocar nuns botões e a produzir sons que têm por base o ruído que são manipulados sem que haja qualquer rasgo de génio ou que se aproxime de algo satisfatório porque se limita timidamente a reproduzir o que outros compositores de música electrónica de vanguarda o fizeram há pelo menos uns quarenta anos atrás; que o atrai para um destino com borboletas com asas de cetim que beijam os lábios violetas das estrelícias e uma praga de almas enrolam o cavaleiro e o influenciam a seguir viagem que é uma sucessão círculos que o orientam para um olho que o vê e o hipnotiza a perseguir em vão os quilómetros que o separam da vida e o preto o cinza e o branco se movimentam alternadamente e umas listas brancas e pretas cancelam a emissão do satélite que é iniciada e espelha objectos consumíveis para mitigar a solidão e a música é o sinal para o início de um conjunto de letras a se misturarem numa associação paradoxal que são subtraídas pelo preto e branco que revelam um gigante; Hhy & The Macumbas são compostos por um baterista e um trompetista e um manipulador de uma mesa de mistura e por um percussionista e um maestro que se encontra de costas para o público com uma máscara na cabeça que remete para os sobas das aldeias africanas e é neste continente que advém a sua música que versa a repetição de um ritmo tribal que impõe a hipnose em ciclos e contra ciclos que têm como objectivo transpor os corpos dançantes e os induzir a vivenciar um ritual que os se associam a outras almas que os encaminham a um estado libertário que somente o sonho ou a meditação têm esse poder épico; que através de um monóculo foca uma bailarina que rodopia no gelo e dá a mão a um amigo e deambulam por entre paredes de vidro onde a transparência os reflecte disformemente e os remete para um tempo em que se dissolvem e somente é visível os seus contornos que regressam à moldura óssea onde encaixam as suas carnes irrigadas por glóbulos brancos e vermelhos e se beijam demoradamente algo que entristece o espia que se sente diminuído e eles contornam minas e perpassam árvores de pedra de ançã sujas e sossegam num monte sob uma nuvem encostados a uma coluna jónica e ele colhe uma flor de pétalas em corações em chapa e a coloca entre os botões da camisa da namorada com azulejos de pé de galinha; Hhy & The Macumbas são compostos por um baterista e um trompetista e um manipulador de uma mesa de mistura e por um percussionista e um maestro que se encontra de costas para o público com uma máscara na cabeça que remete para os sobas das aldeias africanas e é neste continente que advém a sua música que versa a repetição de um ritmo tribal que induz à hipnose em ciclos e contra ciclos que têm como objectivo transpor os corpos dançantes e os induzir a vivenciar um ritual que os ilumina a se associarem a uma outra alma que os encaminha a um estado libertário que somente o sonho ou a meditação têm esse poder épico; e o mirone desvia o monóculo e observa estátuas da época rosa do Picasso que ganha a expressão corporal de funâmbulo que percorre lentamente um arame e escorrega e cai sobre a rede verde e a multidão sustém a respiração e o número seguinte é da responsabilidade de um ilusionista que transforma uma mulher em dois; Antippode são um dueto de manipuladores de mesas de mistura e a sua proposta tem como base o beat que é explorado segundo a norma de um esoterismo synth que discorre com o intuito de impor a dança dos presentes que têm que encontrar outras formas de expressão corporal que corporiza uma mecanização com origem no intelecto; e surpreende os presentes que batem palmas de espanto que se silenciam gradualmente o observador dirige a sua atenção para uns passarinhos assobiam intercaladamente num dueto em que domina uma poesia campestre que dura até que o dia se esgote e seja a noite a pigmentar a natureza com uma eloquência nocturna; entre cada um dos concertos o Dj Dead Expotations apresentou um compêndio rap de bandas americanas da década de oitenta do século XX e do hip hop com assinatura de músicos portugueses.
Aveiroshima2027, 19 de Maio, GrETUA, Aveiro.
Em memória do Glen Branca.
segunda-feira, 21 de maio de 2018
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