Daqui a pouco sobem ao palco instalado no pátio do CAV- Centro de Artes Visuais em Coimbra os convidados dos Twist Connection os Wipeout Beat este concerto fora adiado devido à chuva mas hoje há contenção por parte das nuvens cinzentas que gradualmente são escurecidas pela noite e nessa data tal como a de hoje versa a apresentação do segundo LP “Twist Connection” dos Twist Connection; ontem suponho que foi ontem mas para ser cruel poderia testemunhar que ontem não existiu e se as borboletas esvoaçaram e as flores brilharam ao sol e as gaivotas cantaram como fadistas embriagados e os escaravelhos encarregaram-se de carregar caganitas de ratazanas e lamentavelmente o fogo de artificio foi abafado pelo nevoeiro e até os frutos secaram e os compromissos com as estações de ano caducaram e os provérbios populares foram resgatados ao povo por homens de bem e o cimo de uma pirâmide perfurou uma nuvem de latão que se misturava com o rugir de um rei da selva e os lugares recônditos do hemisfério sul abortaram paisagens esfomeadas por chuva e as lascas que esvoaçaram eram palavras de ordem em desuso o lunático que amava a lua e trocava-a pelo quarto onde imperavam obscuros sonhos de uma criança que temia pela morte do irmão num barco de papier-mâché à deriva no Mediterrâneo; e os Wipeout Beat apresentam a sua liturgia de teclados analógicos que desenham diversos níveis seja intercaladamente ou em progressões psicadélicas e ainda num sinfonismo anti-sinfonia e a guitarra eléctrica do Pedro Antunes assume uma preponderância krautiniana em que rasga as suas fronteiras e a remetem para um rock visceral de tão vicioso e as vozes são de três homens que observam o Mundo através da objectiva da marginalidade associada à incapacidade de encontrar um espaço onde lhes seja feliz habitarem; Twist Connection lutam canção após canção para reavivar esse morto-vivo que é o Rock and Roll e se este feito é de facto conseguido é devido à mestria estilística com que sonicamente lhe injectam oxigénio e lhe lubrificam as partes aparentemente irreversivelmente mortas e assim reinventam-no de forma crua e consentaneamente revelam que não têm medo de serem os seus referentes e dilapidares e ainda há que realçar a voz/postura da Raquel Ralha que reforça os pontos positivos anteriormente descritos para além de os incutir com uma frescura endiabrada; salvas por uma santa latina e no oposto da sua mão os nós das cordas eram arremessadas às voluntárias do ócio dedicadas às margens do rio que abanavam o abanico para afastarem os mosquitos e num sucesso de comprimidos defendidos por salvarem dúzias de pagãos que se dia após noite movediça de urânio curtido sobrepunham-se a um bordel de queridas associadas à banalidade que eram vertidas para copos com duas pedras de gelo e no sumário dos argumentos dilacerados numa trama de cabelos cinzentos perfumados de incenso uns incautos aproximavam-se do limbo e a vertigem era-lhes matinal e o imediato sustinha um muro sustentação os sentimentos que ejaculavam a maldade e a distancia que separava um outro de outros filhos da puta é um ulular de idiotice que periodicamente surge no horizonte determinadamente estático perigosamente insolúvel no hemisfério desnorte onde se açoitam as caravelas da fortuna e da desgraça que vogam por entre a memória emérita; em Leiria o Stereogun tem como atracção nocturna a jigsaw And The Great Moonshiners Band e se musicalmente a sua génese é marcada por cores marcadas por um negrume que é como um garrote que lhes provoca uma soltura de desespero por vezes tolhida por uma angustiada agonia estruturadas a partir de uma perspectiva romântica e este fundamento literário impregna-os de um démodé que causa simultaneamente estranheza e familiaridade; e se o numerário é soturnamente confiado a jazigos com elevador num condomínio fechado para obras e se baterem à porta é um carteiro com cartas de amor de um famoso defunto e o que irá fazer se a viúva está de férias no paraíso talvez regressar ao covil onde se trocavam as almas por almas repartidas por cores diversas os loucos estão sentados à secretárias de escravas que rejubilavam com fotografias de lustres de que iluminavam salas multifacetadas de texturas de veludo azul e se o mecanismo que regulava a ansiedade disparatava é lamentavelmente contido através de uma porção psicotrópica e instalava-se a sonolência que apagava os objectos que faziam parte fidedigna de uma história nas quais se representavam em caras maquilhadas de branco o soletrar de um adjectivo depreciativo e valorativo ou depreciativo era impresso em símbolos capitais em armadas de cascos calçados de sapatos de prata a carimbarem contas em offshore bipolares; e sonicamente são tão assertivos a verterem as suas melodias quanto a dominar um silêncio que às perpassa de uma melancolia que por vezes é um vaivém de tristezas e nesta circularidade afixam um poder sónico tão sedutor quanto repulsivo e nestes paradoxos reinterpretam o Country o Rock And Roll a Americana e ainda a João Rui soma-se à voz da Tracy Vandal e eles não se revêem na antítese ou no seu facilitismo antes como se fossem vozes de personagens que se testemunham numa narrativa em que dominam dramas existencialistas e antes de “Bring Them Roses” Tracy Vandal olha para mim e eu para a cantora escocesa e diz-me: “Thank Jimmy for bringing me roses, you always bring..” para a minha musa serão sempre poucas.
The Twist Connection "The Twist Connection" + Wipeout Beat, 21 de Julho, Pátio da Inquisição, Coimbra.
a jigsaw And The Great Moonshiners Band, 21 de Julho, Stereogun, Leiria.
segunda-feira, 23 de julho de 2018
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