Vestígios de cera sobre a toalha branca de papel jornal parecem lágrimas de Santa à qual sou fiel quanto o sou a qualquer prostituta pois não há amor mais demente do que aquele que se encarcera em masmorras e espera pelo fim da sentença que se insurge contra a solidão e se a dama é chinesa é tão tóxica quanto o vazio que me proporciona esta paisagem composta por uma imensidão de palavras que ondulam tais ondas congeladas em sacos de plástico sofro com a multiplicidade de segmentos de ar que me anulam a respiração e evito sufocar com excesso de oxigenação se emito SOS é porque algo está a implodir e não sei se sou eu ou a minha querida lasciva que dorme num espaço adjacente onde se assegura à vida mesmo que esta seja pobre de tão miserável à mercê dos marinheiros sedentos da sua carne malhada de fresco e uma luz é o meu ego que acaricio para o fazer brotar por entre os juncos deste riacho seco onde tento nadar acompanhado de golfinhos filhos de pais incógnitos e ao longe os heróis lutam pelas suas heroínas em dose sucinta para se misturarem com o sangue que os irriga propulsionado e bombeado pelo coração excitado imiscuem-se pombas de asas cortadas que em vão sucumbem à escuridão e revejo-me distante das pessoas que circulam na rotina de um dia como os outros esquecidos entre tristezas e alegrias por vezes tento verbalizar mas a minha mudez é castraria e alternadamente sinto o teu toque na minha pele de leopardo albino que me excita a querer-te rasgar a carne e saciar a minha fome faminta por mais fome num circuito que me obriga a ancorar os pés no fundo do fundo do Inferno onde corro sobre brasas que não conseguem anular a pureza que me contamina com uma felicidade naturalmente efémera não acredito que esteja vivo ou seja o espelho daqueles que se julgam despertos em relação aos sinais exteriores que os obrigam a perseguir a procissão das velas não lamento a minha figura diáfana como a de um fantasma; Spectrum tem como representante Sonic Boom que se divide pela guitarra e voz e teclado e maquinaria digital e tem consigo um tipo na guitarra eléctrica que tal como ele se encontra sentado e não lhe incomoda que a sala esteja praticamente vazia e aliás o que o perturba é começar com sete minutos de atraso e as três primeiras canções têm como referência uma vertente fúnebre algo que é deveras incomodativo porém há aqui uma determinação por parte do emissor que é exigir do espectador a entrega e essa tem que ser total e nestas há guitarras e a electrónica é quase um apontamento que serve como paralelo e ou campos de fuga à voz falada/cantada que não se molda à melodia assegurando distanciamento ao ouvinte e dessa maneira obriga-lo a prestar atenção ao que é cantado e o que domina é a dor e as suas inúmeras vertentes seja a provocada pela solidão pelo desamor e para cortar esta linha de desalento instrui um blues visceral onde são exibidas as entranhas do mal e posteriormente há uma dupla de canções em que a electrónica ganha um domínio que as torna sedutoras de tal é a sua envolvência negra e o no epílogo há um beat que é como uma redenção a quem por mero capricho seduziu a morte; antes de perseguir a nudez de cada uma das palavras que me perseguem para me sucumbirem à sua beleza superficial risco o meu nome desta pedra tumular para ser finito e se não é permitido reavaliar esta condição em que me reduzo ao nada e a partir do qual estou imortalizado num outro tempo onde os sedentos se rebelam contra a sua condição de escravos do aquém e pergunto a que horas é que a paranóia se subjuga à sua porção de cristais que me inspiram a perseguir um poente enevoado onde me limitam a um furacão que se repete segundo após segundo aniquilando sumariamente a minha personalidade que numa bandeja é servida num alguidar que não pinga lágrimas e não sei é o meu o sangue ou o do teu vaginal esse hemisfério sul gretado que se derrete às minhas carícias que te parecem infinitas labaredas e confesso que a ilusão institui uma distancia entre a realidade que é deveras fugaz como as ocorrências que são esquecidas pela memória que as associa conforme o seu grau de familiaridade por vezes tenho a tentação de as reviver para dessa forma experienciar uma liberdade que seja eternamente satisfatória mas tal é tão utópico quanto amar a utopia e os satélites emitem sucessivamente imagens de um episódio em que a coligação de forças se divide em duas frentes que vagarosamente abandonam o teatro onde os mortos são cobertos com lençóis de linho e alguém corre o pano que os encobre e atrás do qual ressuscitam e nesse mundo são alistados para enfrentar o inverno que sopra uma gélido brisa neste verão que se perde em cada instante e o fim está a palpitar neste segundo em que te escrevo e cada termo é um retrato abstracto desse ponto no escuro que segrega os mistérios que te consubstanciam numa mulher que vagarosamente endeuso.
Spectrum, 19 de Setembro, Salão Brazil, Coimbra.
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