terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Enemies, A Love Story

Juncos cobrem os rochedos abandonados por sereias apaixonadas por escravos de piratas que navegam na deriva dos sonhos que se assemelham a uma tóxica liberdade similar a uma canção que se confunde com as tempestades e os seduz aquando da bonança que os mareia como a mim e não há nada para ver e refazer num cone de papel onde se afunila a realidade e se a ubiquidade é delimitada ao poder de outrem que circula por entre os fortalezas de papel em branco que esperam a violência de um aparo ou o assalto de forças da ordem que as transforme em pó a civilização é delineada a partir da destruição de um outro tempo arquitectónico; Baleia Baleia Baleia é o primeiro convidado do Stereogun e a sua actuação é de uma pobreza que arrepia por a maioria das canções versarem a pop ou rock mas tal é somente necessário para os enquadrar estilisticamente pois na prática resumem-se a clichés muito mal colados de tal forma que parecem uma banda que jamais deveria ter saído da garagem e ainda nota negativa à forma e ao uso da língua portuguesa pois é no mínimo aflitivo ouvir slogans pobres e sem sentido e isto durante uma tortuosa hora (durante a qual pede uma canção que seja escolhida pelo público mas aparentemente desdenha o seu pedido “nós fazemos sempre isto e depois cagamos…” ); e se há chamas têm origem num eclodir de diferentes linguagens que naturalmente se apropriam umas das outras para fecundar numa só que descreve o impossível do acaso e o silêncio que as palavras quebram somente por existirem entre nós que em vez de serem fronteiras são esteios onde gravita o amor erguem-se do lado da outra vez o mistério que contamina os supostos seres malditos por se nutrirem do legado negro impossível de decantar haja Deus ou diabo que o conheça e os tente destruir e se tal suceder que se desfaça em lágrimas cada uma destas palavras sentidas para além do meu coração que bombeia sem que tenha consciência que me dá vida somente porque assim é obrigado por um organismo tão saudável quanto organizado segundo um tempo que estremece ao acordar e ao adormecer num travesseiro de milhares de pérolas que irradiam luz para o interior do meu cérebro e que cultivam imagens que vos dou graciosamente; Cave Story dividem-se em dois pontos o primeiro versa a new wave à qual associam um psicadelismo que lhes confere uma vivacidade atraente as outras seguem uma linha rock que por vezes é punk e são de facto de uma unidimensionalidade atroz provocando desequilíbrio no concerto algo que é deveras entediante; porque amém vos digo que não sou eu talvez um gémeo destituído de saudade e lamurias infundadas que se insurge contra os caprichos e as veleidades de quem se encontra sentado no topo da pirâmide haja destino que me separe dos verbos e dos adjectivos e esta contemplação verbal se reduza a escombros de ossadas e o repudio seja um veneno que infecta com repugnância os vossos olhos de quem está imerso num jogo de lógicas instituídas que enaltecem a existência da alienação e tal está ferido de moralidade; Fugly são um estilhaço punk que é expresso velozmente sem que haja tempo para absorver cada um dos acordes e tal é de facto de salutar assim como a postura de quem está aparentemente a realizar a sua última actuação (épico); desligam-se os interruptores que escurecem as vivendas de fachadas empobrecidas que sujeitas ao cinza parecem de matéria biodegradável em cada uma há famílias abandonadas aos jogos das cartas numa paciência de quem está a por em risco o seu futuro e atrás de cada porta há um túmulo marmóreo onde descansa o rei das espadas e num outro os versos de Alberto Caeiro são declamados por um voz que plana suavemente e tem um perfume a pétalas dissecadas que intensamente se propagam pelas janelas para o exterior onde o frio escurece as árvores e silencia os pássaros que planam em redor do rebanho que é controlado por um cão que os orienta num terreno inóspito e o sol é fumado por nuvens cinzentas atrás das quais continua a brilhar como se fosse um rosto ao qual é anulado a expressão da melancolia e que venha o messias que por vezes envia sinais antagónicos sobre a condição humana.

Fugly, Cave Story, Baleia Baleia Baleia, Festival Super Nova, 8 de Dezembro, Stereogun, Leiria.