sexta-feira, 29 de março de 2019

George Harrison: Behind the Locked Door

Se decorre uma tempestade que luta contra uma outra tempestade e após diversas investidas de parte a parte há uma que é dominante e em rodopio dá movimento aos elementos naturalistas que se contorcem e por vezes partem-se em pedaços de lenho inerte que será consumido pela terra que se estrumara em favor do nascimento de rosas e malmequeres e como é possível que algo tão belo tenha origem em algo tão negro e esse mistério poderá estar no meu pensamento vegetal que vive condicionado com as estações do ano e envenenado por uma crescente poluição mas mesmo assim as flores irrompem ao sol que tem os mandamentos energéticos para as fazer crescer até ao Outono e nesse estorvo se tento folhear-me indisciplinadamente à procura de um sentido à essa fatalidade através do encadeamento aleatório de diversos quadros que se remetem para um obscurantismo bucólico que é por vezes alimentado por uma luz que palpita de satisfação por se manter activa e se fosse regar as plantas e podar as árvores e se tivesse que estrumar-me para que deste peito fosse possível irradiar a beleza que este rochedo é incapaz de tornar visível às investidas do sol à melanina que parece bater palmas no subsolo da minha pele sinto as ondas de calor a espalharem-se anarquicamente e resisto-lhes heroicamente para defender os aglomerados inertes que parecem abatidos por resplandecerem contrariadamente e tento reescrever a árvore da vida e a do destino mas nesta equação há uma distopia que me fragiliza como ser vegetativo que se limita a consternar a sua condição de espectador e se as pedras fossem eternas e os rochedos penedos da saudade haveria fé nessas árvores que se limitam ao assalto do céu na tentativa frustrada de lhe cravar as unhas pode ser que amanhã haja outros nessa predisposição na busca infinita de um paraíso que somente será descoberto se for fiscal; Wipeout Beat são um trio que faz uso predominantemente de teclados vintage e a sonoridade é uma expressão repetitiva e ou progressiva de uma textura que é aguda que é reveladora de um conjunto de ressonâncias com um timbre que remetem para o sinfónico pop que é elevado à uma condição de exacerbação tal que é hipnótico emanando um universo inapropriadamente decadente e se à pop adicionam o kraut rock este é vilipendiado e reinscrito num outro tempo que é imperscrutável que tenha uma baliza a cerceá-lo e a isto soma-se uma tempestuosa e por vezes anarca representação do que é estranho por ser deveras marginal; sinto a minha folhagem a divagar na brisa quente que é um continuo entre mim e o desconhecido e prevejo que se eventualmente me libertar desta raiz que me segura à vida que encontrarei num destino plausível de ser descrito por outras palavras que não estas que pecam por se nutrirem de seiva e que engordam como os meus anéis ano após ano não quero que os pássaros se pendurem nas minhas tatuagens de autores enamorados que com uma navalha inscreveram corações partidos e ou feridos por setas do doido do Cupido e nesta preze reinscrevo-me no decair da luz que escurece o eu esse que substantivamente luta diariamente por uma eternidade que se esvai num relógio de areia que verdadeiramente parecem as cinzas de outrem que amei durante um incêndio de almas que fugazmente me rodeiam como se fossem árvores fantasmagóricas a absorverem-me numa levitação que me parece perniciosa mas não há tempo para reagir e alimento-me destas de forma a crescer para fora da minha casa em madeira parda que treme se algo intempestivamente numa circularidade me tinge de uma fragilidade inapropriada para uma figura que tenta verticalmente agrupar-se num circuito que à partida está de tal forma viciado que é frustrante descreve-lo porque é dominado por limitações de um organismo que simultaneamente se encontra no limite da sua existência.

Wipeout Beat, Quintas da (In)certeza, 28 de Março, Fábrica das Ideias, Gafanha da Nazaré, Ílhavo.