Há tempo desse lado da barricada ou o que parecia ser o tempo nunca verdadeiramente o foi se associado ao que se passa na televisão revive um outro tempo que provoca uma alienação que como quase todas adormece prematuramente o seu cérebro e o consigna a uma perversa contemplação de um vazio que somente existe se for construído e continuamente regado para que se mantenha com a configuração que consigna um vazio que difere de pessoa para pessoa de alienado para alienado de vazio para vazio há tempos fugazes e outros que se prolongam numa eternidade volátil e se há uma paragem cardíaca o mecanismo tem que ser limpo e calibrado e devidamente oxigenado para retomar o ritmo decadente de combustão a gás que consome as calorias e o tronco emagrece e adapta-se à moda do stress em que se limita a ligar a e a desligar os olhos para se relegar ao sono e transforma-se em vorazes ladrares que se atropelam sucessivamente num flash e nesse instante violenta-se contra as muralhas que o cercam como se fosse um tempo que não existe e que o torna estéril e que o sufoca; Evandro Capitão socorre-se de uma trompete e de uma mesa de mistura que introduz o ritmo pró-dançavel a dinâmica entre ambos nem sempre é concisa mas poderá ser catalogada de Intelligent Dance Music (IDM) a isso soma-se a versão do Charles Mingus e a introdução de um sample de Agostinho da Silva e isto denota cultura musical e livresca as reticências prendem-se ao facto de as canções estarem meramente delineadas parecendo que esta a decorrer um ensaio; e ao respirar há uma consciência que sobrevém num repente e na persecução dos segundos aspira ser tão imortal quanto o tempo que irá para lá da sua existência detentor de um poder nuclear que é um agulheiro onde tudo é consumido de tempos a tempos na subtracção surge o fim que se julga no passado por ser incapaz de dar passos firmes na história rotineira dos dias acompanhados por almas que em tempos vivenciaram o abismo da super essência e o Dominó dança numa abadia imune à passagem das máquinas de lavrar a terra ou os assobios que se cruzam num silêncio comunicacional e pouco importa se a invasão poderia ser eterna se não fosse somente um desordenado de palavras por arrumar debaixo do tapete fúnebre que representa uma peste que deflagra num contínuo de ponteiro de relógio usado por Damocles; Elephant Maze uma dupla de guitarra/voz e bateria que são tocados rapidamente quase se aproximando do trash mas que é delimitado por um psicadelismo retro que causa estranheza e quando esta desaparece há de facto algo deveras impressivo; e se o fogo for uma mera evocação de opostos para o qual e do qual saem diabretes enlouquecidos que supostamente se julgam bestas que se estoiram como se fossem homens bomba que aterrorizam os passeantes que são de origem terrorista tal como vós que encabeça uma outra figura que pode ser ou não uma outra pessoa ou mera representação de uma outra pessoa que se multiplica na esperança da imortalidade algo deveras inacessível para um drogado que se repete num constante distanciamento da realidade que gradualmente desaparece até se tornar em pó assim nasceram tantas civilizações que se sobrepuseram para reafirmar uma nova ordem moral uma outra forma de usufruir o tempo; Moon Preachers outra dupla bateria/voz e guitarra/voz que discorrem pelo rock and roll que é apresentado numa mesma canção com diversas secções que ao se encaixarem provocam que não haja uma estrutura estereotipada que lhes seria fatal e esta vivacidade inscreve uma violência que é de uma tal preponderância que é provocadora de uma desordem que se instala e reinscreve um outro tempo; que é impossível de destruir porque lhe faltam forças para tal e mesmo que aparentemente tente não passa de uma sugestão que não consegue concretizar talvez se fosse um outro com mais poder de decisão é possível que se liberte dessa fossa de escaravelhos onde se passeiam nus cadáveres esquisitos que têm tantos pais e mães que desconhecem quem em tempos foram ou se verdadeiramente tiveram o prazer de existir foca um tosco foco de luz inebriada sobre as mãos que cavaram a terra e a estrumaram com os seus dejectos e dos seus animais fraternos que simbolizam a felicidade que um dia vivenciou num outro corpo e com uma consciência que irradiava luz que o cegava e lhe escondia as riquezas que se encontravam num outro ponto negro.
Arcups Night Out IV (Moon Preachers + Elephant Maze + Evandro Capitão), 19 de Abril, Antiga Escola Primária da Ilha de Baixo, Pombal.
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