As sombras proporcionadas pelos diversos prédios assimétricos contrastam com uma estrutura neo-gótica algo que revela um mau gosto de um romântico que fazia do seu canto o de uma alma que sofria pela sua amada tal como nas cantigas de amor que tinham o mesmo propósito mas numa vertente popular nesse castelo viveu o meu pai até aos dezoito anos algo que contava com orgulho aos seus parceiros de lar e a forma como o dizia elevava o castelo à palácio com bordados e salvas de prata um pouco por todo o lado ou serviços de chá banhados a ouro isto fazia dele um rei que tinha como reino os objectos que o distinguiam dos pobres que se afogavam em vinho ou dividiam uma sardinha e uma broa como se estivessem a saborear caviar ele ri-se ao encenar a hora de almoço com a empregada a servir-lhe a sopa ou o cozido ou as caras de bacalhau que tanto o satisfaziam e em criança era caracterizado como irrequieto que se supunha que advinha da sua incapacidade de concentração mesmo com estes obstáculos era um dos melhores alunos da classe pois era o único que vomitava todos os nomes dos rios e afluentes de Portugal; Lonz`s Dale Fantasy são um duo que tem como premissa inicialmente a IDM e posteriormente enquadra-se no rap isto numa perspectiva acentuadamente retro mas desconstrutivista o que é de facto caso para destacar como sublime mas há uma nota dúbia que recai sobre a performance do cantor que parece um cavalo aquando da fuga do estábulo isto é a sua loucura não encontra enquadramento na música porque como qualquer loucura prima por excesso de devaneios que por vezes ganham cariz de risco para o cantor e intimida o público da Tabacaria no Teatrão que este ano abre as portas a uma segunda edição do festival TNT com a curadoria do incontornável Victor Torpedo; Subway Riders (palco Teatrão) perfazem este ano trinta anos de uma carreira que pode e deve ser apelidada de não-carreira aliás se traduzir o “não” para no e acrescentar wave obtém-se o centro que norteia esta banda de bandidos de Coimbra que pretendem aniquilar clássicos ou revirar o lógico e nessa medida instalar a anarquia que se nutre do absurdo (venham mais trinta!); Futuro Terror (palco Tabacaria) são uns espanhóis que cantam em castelhano e as canções são rugosas e rápidas por vezes trash outra menos trash para não provocar qualquer intoxicação alimentar outras mais noise e há umas menos noise gritadas em versos dolorosos em que há uma noção de quais os sentimentos que primam pela frustração que devem ser exorcizados; ou as linhas de ferro e a predominância do minifúndio sobre o latifúndio detido por um dos seus familiares pois descendia de uma família que era comum o casamento entre primos em segundo grau para manter o sangue puro mas que tinha o inconveniente de gerar inúmeros idiotas endinheirados que rapidamente faliram assim sucedeu ao meu avó algo que jamais lhe perdoou mas mesmo assim restaram uns baldios que ainda suportam umas vacas e cabras para abate mas para o meu pai estas são touros prontos para a lide e tece aleatoriamente críticas a diversos toureiros e apoderados com os quais habitualmente lidava e enumera-os como se estivesse a saborear a sua vida de picador de touros quando o visito fico à espera que me diga algo diferente do que me havia dito mas o seu fio condutor é determinantemente repetitivo e circular e não consigo não talvez seja capaz de fazer de conta que estou a ouvi-lo pela primeira vez sem que me pareça enfadonho e depois de meia hora de histórias intercaladas com gargalhadas de quem está ausente despeço-me com um beijo amargo e os seus companheiros acenam-me tristemente como se estivessem num prisão a quem chamam velhice; The Cannibals (palco Teatrão) é liderado por Mark Spencer que surge vestido como um pedinte chique oriundo de um século imaginário e apoiado a muletas (que rapidamente irá rejeitar) tem a cara manchada de sangue e óculos escuros e uma boina completam a sua figura com um mistério que pressupõe que não perspectivo se vive no meio dos vivos se dos mortos e o quinteto demonstra o poder sónico do trash-punk-rock isto é são um compêndio que escreve esses estilos de forma primeva e irrepreensíveis neste desígnio numa pureza como um estado de alma a minha fica a seus pés à espera de beijar os dos Cannibals; King Salami and The Curberland Three são uns rapazes de proveniências díspares e isto esta referido nos acordes exóticos numa associação por exemplo aos acordes do mambo mas a base é aceleradíssima que tem a cadência de uma máquina que repete constantemente um mesmo movimento sem qualquer sinal de proibição nisto alguém elogia o “ass” do cantor (uma estátua neo-africana) e ele faz gala do seu “ass” e deve a este o hipnotismo às jovens que o seguiram incansavelmente; Natty Boo And The Peligro 5 é um postal de uma ilha que poderá ser um pensamento que migra de ilha em ilha como uma gaivota tonta que por vezes é ska outras calipso mas segundo uma perspectiva vibrante de tão dançante que os metais e principalmente a secção rítmica providenciam magistralmente indicado como anti-depressivo; mas por outro lado podem-no convidar a jogar às cartas algo que ele não diz que não mas enaltece o Xadrez por ter cavalinhos pretos e brancos que serviram para inúmeros cavaleiros que saiam da praça aos ombros com as orelhas do touro nas mãos e as montadas subiam automaticamente de preço algo que parece uma parodia da razão contra a besta e a sua entoação poética de quem está a dizer algo retirado da Reader`s Digest com uma acentuada pronúncia londrina que surpreendia as utentes do lar que educadamente o enxotavam para fora do quarto todas as mulheres que conheceu e que inventariou num caderno que era um diário sobre as suas aventuras sexuais que por vezes redundaram em abortos clandestinos e ou pancadaria que o levara ao hospital e exibia as cicatrizes como se fossem troféus de uma guerra imaginaria entre ele e o esposo da mulher que estivera a foder para ele as mulheres eram como as vacas do estábulo meros objectos com os quais atingia um clímax que não o satisfazia antes o obrigava ao périplo de fecundador destituído de qualquer critério para além do seu único e exclusivo prazer.
Festival TNT, 25 de Maio, Teatrão, Coimbra.
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