As mãos querem correr para fora da sensibilidade ou da possibilidade de redigir um testamento onde constem os desperdícios dos dias e a reciclagem dos sentimentos ou transformar o fuso horário num outro domesticado segundo esse ditador que é invisível e que poderia ser uma larva ou insecto ou talvez a lagarta a abandonar o casulo para se transformar numa bela borboleta de asas multicoloridas que ao esvoaçar é tão leve quanto poderão ser os pensamentos que se libertam do jugo do ditador rude e atroz parece de ficção mas não o é reclama para si o que pertence a esta gente suja e gasta sentada à borda da fronteira entre a fome e a miséria há lutas algures no meio de militares contra militares fascistas contra fascistas e cada um tem o seu ditador um magro o outro um velho desgraçado que transmite a sua doença venérea aos escravos da sua herdade que lhe parece o seu país não há futuro neste ou com este outro ser do mesmo poço fundo repleto de seres microscópicos se regressa-se o que deveria ocorrer como se fosse algo inevitável deveria suceder e se tal se cumprisse que fosse enquanto se aparelha um ser bicéfalo com cornos e outras decorações do domínio da imaginação do senso comum e se fossem mortificados dos braços tatuados com rostos de canibais e o resto entra-se em autocombustão a justiça estaria a se instituir como denominador entre os rebeldes que esfomeados se insurgem contra o preço milionário do pão e as migalhas para os pombos têm o preço da cocaína que passeiam num quietude de figuras de um museu da natureza e o bem-estar mas esqueléticas e com falhas na penugem por vezes irrequietas num arrulhar de pássaro solitário que esfomeado patrulha a varanda que se abre para um azul que teima em se empalidecer como se através da negação surgisse algo diferentemente belo mas aparentemente é um dia igual ao anterior com sangue nas ruas desta cidade de paredes feridas por balas de um calibre que vai além da sua proporção e que simbolicamente representam a violência que se divide em diversas e perniciosas manifestações a mais violenta é a tortura dos fascistas sobre os fascistas; a proposta para esta noite fria de Junho é a união de duas entidades naturalmente distintas os GNR ligados à corrente eléctrica com A Banda Filarmónica de Matosinhos-Leça da qual é presidente o Rui Reininho que teve a amabilidade de os convidar para abrilhantar o concerto e estes apresentam um medley que começa pelo hino da RTP e pelo meio tocam “Maria Faia” música popular para um público que cantarola as letras das canções e ao fim de vinte minutos desta temática surgem os GNR que se fazem às “Asas” e ouve-se o sustentáculo da filarmónica que enaltece a beleza da canção assim como sucede em “Popless” e esse papel é de realçar nas canções predominantemente lentas haverá em outras que tal é diminuído quase ao mínimo como se estivessem somente a decora-las mas ganha-se numa performance sonora vibrante por parte dos GNR que jogam entre si a pop em “Efectivamente” ou “Mais Vale Nunca” e o rock psicadélico de “Las Vagas” e ainda reggae em “Mosquito” e o dramatismo pop em “Morte ao Sol” e a eloquente por ser naturalmente épica “Pronúncia do Norte” a versatilidade estilística é representativa de quase quatro décadas a reafirmar novas fronteiras à música à passagem dos mutantes GNR; que mesmo que confessem a verdade dos seus actos jamais serão absolvidos deste sacrifício em que a vítima geme e chora antes de ser manietada com mãos de ferro com uma corrente presa aos pés de cimento e que empurram para o interior de uma piscina de água salgada e alguém salva-o e deixa-o na borda à espera que se desequilibre e ouvem-se fogos a estoirar ao longe surgem focos de fumo sobre as cabeças dos revoltosos que descodificam-no como focos que se elevam ao céu num transferir de almas que somente sobem e nada desce nem um raio de sol parece que repentinamente escureceu porque alguém correu o pano do teatro italiano onde as marionetas jogam xadrez contra damas numa imagem que representa o que se transmite das ondas de revolta que assolam as estações de televisão manipuladas pelos fascistas e minada de comunistas e o povo aparentemente serena na expectativa de que o fio que os prende ao silêncio que seja finalmente talvez um dia cortado e se tal suceder que seja como o sempre foi um novo fascista que institui as suas leis que se regem segundo os seus estados de alma ou pelos caprichos decadentes da sua consorte que consome o tempo a mima-lo a trata-lo por pai a paparica-lo e a dar-lhe tautau ou a roubar-lhe a constituição para analisar as alterações introduzidas pelos assessores de multinacionais de produtos de origem animalesca em vias de extinção.
GNR & A Banda Filarmónica de Matosinhos-Leça, 10 de Junho, Senhor de Matosinhos, Matosinhos.
quarta-feira, 12 de junho de 2019
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