quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Música e Músicos Modernos

Portanto receio acabar de escrever esta canção porque se tal suceder a sua memória seria um silêncio interior que era um vai vem de dentro para fora e vice-versa que me provocava um desequilíbrio existencial como se este fosse as minhas mãos ou pés e até pénis ou calçava a saia e vomitava nos ténis se me ouvia com atenção não tinha a certeza de quem é que estava ao comando da nau de velas desfraldadas a navegarem com destino incerto talvez alguém conhecido nos bordéis universitários ou se calhar um mero justiceiro que via nascer um prazo que se prolongava infinitamente e ou possivelmente o autor de tramas fundadas na paranóia crítica não sei se tais eventualidades se aproximavam de meras máscaras que de transparentes revelavam uma distorção com feedback que se aglomeravam em redor de dúzias de figuras naturalmente disformes que se socorriam do meu oxigénio para viverem como se fossem uns parasitas íntimos que me manipulavam segundo caprichos horrendos que se digladiavam com mandíbulas de tubarões famintos por carne humana pela minha alma essa luz obscura mas bela segundo as normas do tenebrismo que era constante mesmo à luz de um dia de Verão numa tempestade perpétua e era este ciclo que se fazia passar por algemas que me cegavam perante a eventualidade de um abismo que seria o último e por isso o mais perigoso e tentava esquecer e fazer desaparecer essa constância prolongando-a numa dose de alienadas injecções sobre a veia que se encontrava no meu pescoço e o sangue salpicava o Rei Artur que se fazia passar por um gato persa castrado para abandonar as fêmeas do seu harém constituído por adolescentes imberbes que a partir dos seis meses estavam activas para procriarem mais gatinhos; Mundo Segundo e Sam The Kid são dois MCs que se fazem acompanhar por dois Djs de renome e a relação entre as duas estrelas é a da simbiose ou mais concretamente de uma intercalação quase perfeita que passa por um ter o predomínio de rapar sobre o outro que é secundário e as rimas encaixam-se nos beats que predominam sobre a melodia (que raras vezes se fez presente) e o ritmo que imprimem é rápido não só o das canções hip hop como na sequência de umas para as outras (quase) sem pausas e esta chega a quase uma hora de show quando os Djs se mesclam em ritmos diversos e regressa o ritmo e as rimas que se plasmam segundo uma lógica do senso comum que alterna entre eu bom versus o(s) outro(s) mau(s) (uma perspectiva infantil de reconhecimento da realidade) as que versam sobre rivalidades entre MCs são muito pobres porque revelam um ego que é meramente competitivo e nessa medida destruidor e por fim as narrativas que remetem para a adolescência ou um amor chamado “Sofia” são derivativas de uma lógica näive e a envolver estes elementos estruturalmente encontra-se um moralismo que se limita a criticar os moralistas detentores do poder na sociedade e é este paradoxo que afunda as rimas e consequentemente as canções para o nível zero da estética hip hop (nota negativa onde decorreu o espectáculo que tem um lago entre o palco e o público algo mais adequado para o jazz ou a música clássica e a moderna); e temia que o efeito fosse imediato e letal mas jamais se concretizou a sua vertente funesta violenta e venenosa língua a sugar-me em definitivo para o exterior por vezes tremia e as palavras tremiam imersas num signo que não se revelava com a força que lhes estavam contidas e derrapava num jogo de representações inócuas que somente afundavam-me para uma sonolência que provocava a dispersão de um eu que jamais respondia a questões que o deixassem de rastos caso contrário o paciente (isto é) eu ou talvez um outro eu ou tantos quanto diversos não desapareceriam antes assimilavam-se aos palhaços da fase rosa do imortal Picasso que os transformou em tristes figuras circenses se me deixar cair no engano de uma falácia instituída por quem detém o poder no interior deste país de órgãos nucleares outros são meras pontes que fazem passar nas suas portagens a toxicidade e não percebo como é que ainda tenho corpo ou melhor nem sei se este ainda existe isto segundo os cânones da saúde e bem-estar que obriga a respirar a um ritmo relaxado para iluminar a dopamina e limito-me a contorcer-me como se fosse uma raiz de um plátano destinado ao abate por parte dos defensores dos animais e por isso reviro o olhar para tentar focalizar sobre quem se diz o meu patrono esse que me parece viscoso de tão nojento que tem o poder nas assas brancas que em tempos ou se calhar foi ontem cristalizaram sobre os ombros de vidro de um busto da Rainha Isabel II que se assemelhava aos acordes destrutivos de um hino que a decompunham num retrato de peças que encaixaram num carril que une numa soldadura uma ilha velha egoística e miserável onde cresci vizinho de boxers famintos que snifavam o que me ofereciam.

Dia Mundial da Juventude (Mundo Segundo & Sam The Kid), 13 de Agosto, Espelho de Água- Preguiça, Figueira da Foz.