sábado, 14 de setembro de 2019

Plan 9 From Outer Space

O Figueira Film Art 2019 promove Cine Concertos e convocou diversos músicos para musicarem filmes com os quais se identificavam o primeiro é “O Barão” (2011) de Edgar Pêra e é Vítor Rua que com a sua guitarra eléctrica faz o complemento sonoro-- originalmente o filme tem banda sonora mas encontra-se anulada e tal é discutível porque há uma alienação de um filme sonorizado para um mudo e esta transposição é no mínimo arriscada e discutível-- e os acordes dos primeiros vinte minutos são repetitivos e sem qualquer poder de indução no filme que segue uma narrativa que não encontra reflexo nas partes subsequentes salva-se a mestria técnica do músico que é de facto eloquente; Victor Torpedo, “A Bucket of Blood” (1959) de Roger Corman (com o som original audível), e o músico mune-se de uma guitarra eléctrica e invariavelmente insere três acordes mas por vezes introduz um som wah wah algo insípido e que se limita a se submeter à narrativa sem lhe introduzir outras perspectivas e nem o facto da banda sonora original ser o jazz altera o seu registo; The Parkinsons, “A Long Way to Nowhere” (2015) de Caroline Richards corresponde a um documentário que registou o périplo do quarteto conimbricense por Londres e as vicissitudes e incongruências e ou paradoxos que ditaram quase a implosão da banda e há ainda a realçar que a realização da Caroline Richards é fantástica; Subway Riders, “Missile to the Moon” (1958) de Richard E. Cunha (com o som original audível), são um caso estranho de sonorização ao se enunciarem através de elementos mínimos que sublinham o filme de um lo-fi que enaltece a narrativa e a tolhe de elementos que a engrandecem e a traduzem de uma forma minimalista (épico); Marcelo dos Reis, “White Dog” (1982) de Samuel Fuller (com o som original audível) (que esteve presente há vinte e sete anos no Festival Internacional da Figueira da Foz), tem banda sonora original do Ennio Morricone e somente este facto faria temer o pior mas se inicialmente há somente um complemento ao filme através da guitarra eléctrica gradualmente logra ultrapassar este óbice ao introduzir outros timbres e equiparar-se dramaticamente à música do maestro italiano no mínimo apoteótico; Pedro Chau, “A Viagem Cósmica” (1936) de Vasili Zhuravlov, que é originalmente um filme mudo e a proposta do músico enquadra-se na trama futurista hoje meramente retro e é esse o universo que evoca através do teclado ou do baixo eléctrico porém se as texturas são por si só um indutor poderoso falta na primeira meia hora uma adequação à narrativa e na restante ultrapassa-a ligeiramente mas somente é suficiente; Vítor Rua, “A Caverna” (Versão inédita 3D 2019 Mix) de Edgar Pêra, Filme & Câmara ao vivo Edgar Pêra, Vjamming Cláudio Vasques, o filme é composto por diversos níveis uns encontram-se gravados outros são filmados ao vivo pelo Edgar Pêra que por sua vez são misturados pelo Cláudio Vasques e projectados na tela e que são traduzidos sonoramente pelo Vítor Rua e o resultado é um somatório lúdico por vezes ou muitas vezes psicadélico que poderia ser o reflexo de um cérebro sob o efeito de ácidos; Luís Pedro Madeira, “The Unknown” (1927) de Tod Browning (filme mudo), encontra na música um sustentáculo que acrescenta à história um aprofundar que lhe confere uma natureza evocativa de inúmeros universos mas tolhidos por uma ingenuidade que afunila o drama vivido pela personagem principal e através deste encontramos um quadro psicológico complexo que atrai e repele o espectador (épico).

Figueira Film Art 2019, Cine Concertos, 5; 6; 7; 8; 9; 10; 11; 12 de Setembro, Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, Figueira da Foz.