O Grupo Novo Rock (GNR) são a instituição pop portuguesa que ao longo de trinta e oito anos no activo procurou alterar esta natureza que lhes é intrínseca para outras e diversas latitudes sem que tenham reflectido se tais variações lhes fossem benéficas mas é inegável que eram (e ainda o são) ousados ao ponto de muitas das vezes esta tenha sido um acto hara kiri e num país de poucos amantes de música pop e avessos a esta heterogenia muitos tenham abandonado a banda e isto principalmente após o álbum “Rock In Rio Douro” responsável por terem sido a primeira e única banda portuguesa a encher em 1992 o Estádio de Alvalade não era um recinto qualquer por ali haviam passado Rolling Stones ou David Bowie e a isto somou-se uma exposição mediática sem paralelo sobre os GNR e que lhes causou danos pois após o “Sob Escuta” (1994) estariam irremediavelmente reduzidos a um trio que inclui o compositor Tóli Cesar Machado --que se afirma como dominante a partir do “Psicopátria” (1986)-- e o Jorge Romão figura que nos concertos é imparável na forma como toca o seu baixo eléctrico e o Rui Reininho um poeta pop surrealista que por si só preenche um palco com a sua gestualidade teatral e o Parque Municipal de Exposições recebe os GNR acompanhados pelo habitual Samuel Palitos na bateria que em tempos foi um punk de Alvalade que tocava nos Censurados e o estreante Rui Maia no lugar do Paulo Borges e do Marco Nunes e como tal encarrega-se-ma do teclado vintage e da guitarra eléctrica num exercício de alternância que se devera reconhecer como de inexcedível de tão virtuoso e é esta alteração que me traz à Marinha Grande que é tão feia quanto outras tantas cidades mas uma fealdade ímpar algo deveras paradoxal e antes deste concerto vi os GNR com a Banda Filarmónica Matosinhos-Leça (da qual Rui Reininho é o presidente) e na Gafanha da Nazaré sob um temporal que quase levou ao cancelamento do concerto que não teve direito a qualquer encore apesar dos resistentes clamarem pelas “Dunas” e como tal aqui estou no backstage a conversar sobre arte contemporânea com o Tóli Cesar Machado ou a dissertar sobre Nietzsche com o Rui Reininho ambos de uma simpatia e cordialidade que os engrandece dois dos motores criativos dos GNR responsáveis por hinos rock/pop que definiram esteticamente a década de noventa do século XX e numa altura em que se celebriza o António Variações é de lembrar que o Tóli Cesar Machado esteve envolvido na produção do primeiro álbum do cantor de Amares e sobre o Rui Reininho a lista é tão extensa que inclui inúmeras posições tão polémicas que eram meros absurdismos que se transformaram em escândalos ou a irar-se contra o público do Super Bock Super Rock ou a insurgir-se contra a estética da Casa da Música ou ainda o litigo que manteve com o ex-presidente da câmara do Porto Rui Rio que durante a sua vigência vetou os GNR a pisarem o palco da Avenida dos Aliados mas perante a adversidade (seja ela qual for) os GNR transpõe-na com inteligência mas com um instinto de sobrevivência que transversalmente percorre o concerto demonstrando que estão dispostos a se libertarem de inúmeros elementos que datavam as suas canções a uma determinada época e por norma é aquela que lhes deu fama e fortuna e ao fazerem esta subtracção estão a libertar-se umbilicalmente do passado e dispostos a enfrentarem o amanhã com uma renovada e virtuosa pele que os regenera incutindo-lhe tonalidades pop soturnas encadeadas em repetições minimalistas que paradoxalmente maximizam o âmago das canções num fluxo narrativo que é da ordem do inconsciente engrandecendo a dimensão melódica e psicadélica que é um subtexto ao canto irrepreensível do narrador Rui Reininho que encontra na base sonora espaço para expandir-se de uma forma tão eloquente quanto lírica e como tal quem sabe se no próximo seja ainda melhor e tudo o que escrevi é um mero postal de uma banda que se faz de novo ao futuro sem medo aliás como sempre e para sempre amarei os GNR.
GNR, 6 de Dezembro, Parque Municipal de Exposições, Marinha Grande.
Dedicado à Rosa Balreira.
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