domingo, 1 de agosto de 2021

Ballet of Lepers

Na galeria das fotografias amarelecidas algumas exibem vómitos alheios de figuras esqueléticas que se atiram para o chão com dor no ventre algum veneno tomaram ou algum desejo lhes tenha corroído o organismo não sabiam se estavam doentes se em êxtase por ejacularem vertiginosamente sobre os seios da mulata feia velha ou nova um ponto de encontro de forasteiros e viajantes e encantadores de serpentes ou domesticadores de elefantes ela aceitava quem se venha por bem mas somente se for pago antes do acto imundo numa favela ou numa barraca na Jamaica ou noutro bairro qualquer de arranha-céus de pele vermelha e ossos de madeira e cornos de marfim e água da chuva e electricidade roubada à EDP haja despacho para salva-los de um terramoto ou tempestade ou da noite ou do dia esses são cárceres para os que vivem subjugados à sujidade do vento e à perenidade do presente porque o futuro e o passado estão fundidos num só como se fossem matéria orgânica que cozinham para que possam sobreviver e alimentar a bicha-solitária ou solitárias que vivem alojadas no organismo sem qualquer encargo ou perturbação que parasitam o interior e revelam um exterior carcomido e que se desmorona em cada dia que passa elas e eles têm sorrisos de marfim; Ensemble Decadente são um colectivo que se movimenta no interior da Igreja de São Pedro e o que se ouve são os seus passos e a respiração funda e alternada que ecoa nas abobadas que transmite algo que se poderá associar às almas, esta primeira fase é por um lado angustiante por ser confessional de uma mortalidade atroz por outro é libertadora porque enuncia a existência e prevalência de algo (por mais ínfimo que seja) para além da vida; as fases seguintes são substancialmente menos dolorosas há diálogos inconsequentes, uma das almas dá ordens gestuais (como um Mestre de Orquestra) e estas reagem e silenciam-se, ou, essa mesma segura um microfone e processa a sua respiração exorbitando-a para a era digital; haverá micro momentos como o de uma alma que chora para um outro microfone como se fosse um rouxinol agastado com uma austera Primavera, há o silêncio o fim do silêncio e o início de um outro surto sonoro que se ensimesme com o reinar da rotina; que contrasta com a pobreza que os rodeia e os limita a uma constância tão decadente quanto imunda mas para eles o que ferve é o calor não são fezes mas rosas vermelhas o que se canta é a preguiça da cigarra é impossível oferecer-lhes uma consciência tortuosa ah mas se eles fossem esculpidos como se fossem de terra e de cinza seriam um mero fruto do escárnio de silêncios escassos de noites de doenças prolongadas como sentimentos que jamais foram sentidos pelas pessoas que por estarem vivas parecem que espelham os mortos que se movimentam normalmente mas na veracidade do seu interior há felicidade mas uma felicidade tolhida por uma tristeza profunda que iludem com sorrisos e gargalhadas estão vivos e são como eu e tu como nós meu irmão e irmã se fosse possível rezar por um mundo melhor onde imperasse a igualdade da felicidade que deveria ser oferecida de peito para peito aberto onde palpita o coração órgão tão possante quanto sentimentalmente repleto do mais puro do amor provindo do coração de Jesus.

Ensemble Decadente são um colectivo que se movimenta no interior da Igreja de São Pedro e o que se ouve são os seus passos e a respiração funda e alternada que ecoa nas abobadas que transmite algo que se poderá associar às almas, esta primeira fase é por um lado angustiante por ser confessional de uma mortalidade atroz por outro é libertadora porque enuncia a existência e prevalência de algo (por mais ínfimo que seja) para além da vida; as fases seguintes são substancialmente menos dolorosas há diálogos inconsequentes, uma das almas dá ordens gestuais (como um Mestre de Orquestra) e estas reagem e silenciam-se, ou, essa mesma segura um microfone e processa a sua respiração exorbitando-a para a era digital; haverá micro momentos como o de uma alma que chora para um outro microfone como se fosse um rouxinol agastado com uma austera Primavera, há o silêncio o fim do silêncio e o início de um outro surto sonoro que se ensimesme com o reinar da rotina. 

 Ensemble Decadente, Ciclo de Música Exploratória Portuguesa, 31 de Julho, Leiria.