quarta-feira, 25 de agosto de 2021

John Gabriel Borkman

Bruno Simões desapareceu em 2016 e foi músico de bandas como Tu Metes Nojo ou Sean Riley & The Slowriders, julga-se que partiu para um lugar melhor do que Coimbra ou Lisboa cidade onde se encontrava quando se deu o acaso, não se sabe ao certo quais ou qual a motivação para deixar órfão uma trupe de amigos que o adoravam e o acarinhavam assim como uma a mãe e uma irmã, algo terá sido mais forte do que toda essa força que o levava a compor e a subir a um palco, o mistério envolve a sua motivação poder-se-á presumir que foi um acto desesperado por uma causa maior que os amigos e os familiares. Por isso hoje vinte e quatro de Agosto (dia do seu aniversário) reúnem-se inúmeras almas que o conheceram ou que apenas furtivamente tiveram essa oportunidade (como foi o meu caso) no Tributo Acidentalista no Grémio Operário de Coimbra. Paulo Lima é quem toma a palavra para enaltecer as características do Bruno Simões “que era um verdadeiro acidentalista”, ou grita para o microfone palavras de ordem que faziam parte da tribo na qual se inseria o músico, hoje tornado mito porque tem um culto à sua volta.

O primeiro a subir ao palco é o To Rui (foi colega do Bruno Simões no Tu Metes Nojo) que com a guitarra acústica canta de voz continuamente embargada, dedica uma canção à mãe do Bruno que se encontra na plateia e ainda se atreve a tocar uma versão do “Bird on the Wire” do Leonard Cohen que “diz muito sobre o Bruno”, pouco ou nada se compreende de qualquer uma das canções, mas isso não importa porque o que está em causa é a homenagem a um amigo que merece que o To Rui tenha a coragem de subir ao palco sozinho e relembra-lo e com toda essa emotividade realçar o quanto lhe era valiosa essa amizade.

The Grau não chegam a ser uma banda pop ou rock talvez mais um conjunto de amigos onde pontuou o Bruno Simões como convidado, as canções são cantadas em português mas num português muito primário onde a repetição de um termo torna-se o refrão ou o drama é sublinhado por acordes densos plenos sentimento, com alguma benevolência poderão ser caracterizados de naive, poderiam ser jovens que chumbaram na disciplina de português que mais tarde ou mais cedo cairiam na rede dos bailes da paroquia ou outras festividades populares.

Subway Riders rasgam a lógica do noise ou da new wave ou do free pop ou outras quaisquer decomposições, energia crua não lhes falta nem tão pouco loucura-- com os quais o Bruno Simões tocou themerim num Salão Brazil de lotação esgotada-- será que uma das sua características mais fundas seria dar-se sem preconceito a músicos de diferentes proveniências sonoras? A banda continua a tocar o seu compendio de canções demoníacas que tanto é um jogo de espelhos em relação ao que é bom e deve ser respeitado e o que é mau e deve ser ignorado, a violência sonora é de uma violência estonteante onde se encontram os músicos é onde paradoxalmente diferem, foram no total três canções, a última dedico-a ao Bruno Simões por ser mais brava a mais desvairada a que enche estádios e encerra clubs cheio de moscas, por não ter sentido e o pouco que lhe resta é a demência viva e crua como é ou poderá ser uma vida, não a do Bruno Simões, mas a que surgiu para alguns de nós após o seu desaparecimento.

Tributo Acidentalista, 24 de Agosto, Grémio Operário de Coimbra, Coimbra.

Em memória do Bruno Simões.