Bruno Simões desapareceu
em 2016 e foi músico de bandas como Tu Metes Nojo ou Sean Riley & The
Slowriders, julga-se que partiu para um lugar melhor do que Coimbra ou Lisboa
cidade onde se encontrava quando se deu o acaso, não se sabe ao certo quais ou
qual a motivação para deixar órfão uma trupe de amigos que o adoravam e o acarinhavam
assim como uma a mãe e uma irmã, algo terá sido mais forte do que toda essa
força que o levava a compor e a subir a um palco, o mistério envolve a sua
motivação poder-se-á presumir que foi um acto desesperado por uma causa maior
que os amigos e os familiares. Por isso hoje vinte e quatro de Agosto (dia do
seu aniversário) reúnem-se inúmeras almas que o conheceram ou que apenas
furtivamente tiveram essa oportunidade (como foi o meu caso) no Tributo
Acidentalista no Grémio Operário de Coimbra. Paulo Lima é quem toma a palavra
para enaltecer as características do Bruno Simões “que era um verdadeiro
acidentalista”, ou grita para o microfone palavras de ordem que faziam parte da
tribo na qual se inseria o músico, hoje tornado mito porque tem um culto à sua
volta.
O primeiro a subir ao
palco é o To Rui (foi colega do Bruno Simões no Tu Metes Nojo) que com a
guitarra acústica canta de voz continuamente embargada, dedica uma canção à mãe
do Bruno que se encontra na plateia e ainda se atreve a tocar uma versão do
“Bird on the Wire” do Leonard Cohen que “diz muito sobre o Bruno”, pouco ou
nada se compreende de qualquer uma das canções, mas isso não importa porque o
que está em causa é a homenagem a um amigo que merece que o To Rui tenha a
coragem de subir ao palco sozinho e relembra-lo e com toda essa emotividade
realçar o quanto lhe era valiosa essa amizade.
The Grau não chegam a
ser uma banda pop ou rock talvez mais um conjunto de amigos onde pontuou o
Bruno Simões como convidado, as canções são cantadas em português mas num
português muito primário onde a repetição de um termo torna-se o refrão ou o
drama é sublinhado por acordes densos plenos sentimento, com alguma
benevolência poderão ser caracterizados de naive, poderiam ser jovens que
chumbaram na disciplina de português que mais tarde ou mais cedo cairiam na
rede dos bailes da paroquia ou outras festividades populares.
Subway Riders rasgam a lógica do noise ou da
new wave ou do free pop ou outras quaisquer decomposições, energia crua não lhes
falta nem tão pouco loucura-- com os quais o Bruno Simões tocou themerim num Salão
Brazil de lotação esgotada-- será que uma das sua características mais fundas
seria dar-se sem preconceito a músicos de diferentes proveniências sonoras? A
banda continua a tocar o seu compendio de canções demoníacas que tanto é um
jogo de espelhos em relação ao que é bom e deve ser respeitado e o que é mau e
deve ser ignorado, a violência sonora é de uma violência estonteante onde se
encontram os músicos é onde paradoxalmente diferem, foram no total três canções,
a última dedico-a ao Bruno Simões por ser mais brava a mais desvairada a que
enche estádios e encerra clubs cheio de moscas, por não ter sentido e o pouco
que lhe resta é a demência viva e crua como é ou poderá ser uma vida, não a do
Bruno Simões, mas a que surgiu para alguns de nós após o seu desaparecimento.
Tributo Acidentalista,
24 de Agosto, Grémio Operário de Coimbra, Coimbra.
Em memória do Bruno Simões.