A viagem até à Ilha foi
quase um episódio trágico caso não tivesse curvado quando era suposto curvar, estaria
ainda encarcerado no meu carro que é tão velho quanto eu, decerto que tive
sorte e pode-se acrescentar que foi mera suposição da minha parte dada a má
visibilidade apesar do sol raiar e o tempo se aproximar das dezoito, à hora que
estão escalonados os Cariño Muerto (excelente nome) na Ilha de baixo ou de cima
(não sei em qual)-- o que sei é que fica algures no fim desta estrada sinuosa e
verdejante— ; que felizmente surgem atrasados no palco do “Isto não é um
Arraial de Verão”, um festival organizado pelos Arcups também responsáveis pelo
festival “Ti Milha”, quanto à dupla há a destacar as programações com origem no
início da década de oitenta que sintetizam a new wave de Madrid ou de Valência
e esta geografia prende-se com o facto da vocalista cantar em castelhano algo
que oferece um exotismo decadente às canções que são sublinhadas pelos acordes
do guitarrista, é certo que arriscam o inglês e o português mas não são tão
sedutoras, também é verdade que há que ganhar um maior dinamismo conjugado com
uma melhor estruturação das canções, e sobre este casal luso-mexicano não há
mais nada a acrescentar.
Luz Clandestina é a
designação de um trio que tem por missão dizer poesia popular ou de cariz
sentimental-- aparentemente memórias da adolescência já que dois dos seus
membros apresentam uma calvície tão precoce quanto pronunciada-- um dos quais
canta umas cantiguinhas à guitarra acústica, um outro faz apologia do
Salazarismo para pôr “ordem” nos políticos corruptos (palmas do público,
cúmplice nesta idiotice) e a jovem de cabelo avermelhado e de vestido preto é a
que se pronúncia eroticamente sobre alguém que conhece fisicamente à lupa.
Left são dois músicos
um dos quais canta e toca guitarra ao estilo digital r&b e o colega tem os
samples e tudo o resto que é preciso para a recriar esse género, são tão
eficazes quanto profissionais, o problema é que a identidade é similar a outros
produtos norte americanos que pululam nas rádios portuguesas.
10000 Russos são um
trio explosivo dada a mistura entre o stone rock e o psicadelismo que são
complementados com uns teclados decadentes, aliás o centro nevrálgico desta
banda é equilibrar esses dois géneros musicais e recoloca-los na década de
setenta, inflamando-os com texturas diversas tão atraentes quanto repulsivas, e
é neste paradoxo que se estruturam as canções, e há que adicionar uma voz
monótona mas que é fantasmagórica e que os coloca num âmbito estético
simultaneamente ficcional quanto real.
Segundo Dia
Labaq corresponde a uma
loura que canta com o violão amores e desamores num brasileiro doce, que
poderia tocar para além do tempo que lhe está destinado que seria maravilhoso,
somente m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o.
O Rapaz Improvisado
faz-se acompanhar com um contrabaixista e passeiam por uma Lisboa mestiça do
fado vadio ou por exemplo pelo nacional cançonetismo, numa abordagem não de minimização
mas de recorrer a essas memórias e recria-las de forma a oferecer-lhe uma contemporaneidade
retro.
The Miami Flu
(excelente nome) reverberam diversas tonalidades mas a que domina é o funk
psicadélico executado de forma eficaz e que lhes permite arriscar pela soul ou
ainda pelo blues estes géneros são ora compostos ora decompostos de forma
abrasiva e sintética que é difícil exercer a destrinça, supremos nessa
heterogenia mesclada por pontuações kitsch.
Isto Não É Um Arraial de Verão, 11 e 12 de Setembro, Ilha, Pombal.