segunda-feira, 13 de setembro de 2021

The Favourite Game

A viagem até à Ilha foi quase um episódio trágico caso não tivesse curvado quando era suposto curvar, estaria ainda encarcerado no meu carro que é tão velho quanto eu, decerto que tive sorte e pode-se acrescentar que foi mera suposição da minha parte dada a má visibilidade apesar do sol raiar e o tempo se aproximar das dezoito, à hora que estão escalonados os Cariño Muerto (excelente nome) na Ilha de baixo ou de cima (não sei em qual)-- o que sei é que fica algures no fim desta estrada sinuosa e verdejante— ; que felizmente surgem atrasados no palco do “Isto não é um Arraial de Verão”, um festival organizado pelos Arcups também responsáveis pelo festival “Ti Milha”, quanto à dupla há a destacar as programações com origem no início da década de oitenta que sintetizam a new wave de Madrid ou de Valência e esta geografia prende-se com o facto da vocalista cantar em castelhano algo que oferece um exotismo decadente às canções que são sublinhadas pelos acordes do guitarrista, é certo que arriscam o inglês e o português mas não são tão sedutoras, também é verdade que há que ganhar um maior dinamismo conjugado com uma melhor estruturação das canções, e sobre este casal luso-mexicano não há mais nada a acrescentar.

Luz Clandestina é a designação de um trio que tem por missão dizer poesia popular ou de cariz sentimental-- aparentemente memórias da adolescência já que dois dos seus membros apresentam uma calvície tão precoce quanto pronunciada-- um dos quais canta umas cantiguinhas à guitarra acústica, um outro faz apologia do Salazarismo para pôr “ordem” nos políticos corruptos (palmas do público, cúmplice nesta idiotice) e a jovem de cabelo avermelhado e de vestido preto é a que se pronúncia eroticamente sobre alguém que conhece fisicamente à lupa.

Left são dois músicos um dos quais canta e toca guitarra ao estilo digital r&b e o colega tem os samples e tudo o resto que é preciso para a recriar esse género, são tão eficazes quanto profissionais, o problema é que a identidade é similar a outros produtos norte americanos que pululam nas rádios portuguesas.

10000 Russos são um trio explosivo dada a mistura entre o stone rock e o psicadelismo que são complementados com uns teclados decadentes, aliás o centro nevrálgico desta banda é equilibrar esses dois géneros musicais e recoloca-los na década de setenta, inflamando-os com texturas diversas tão atraentes quanto repulsivas, e é neste paradoxo que se estruturam as canções, e há que adicionar uma voz monótona mas que é fantasmagórica e que os coloca num âmbito estético simultaneamente ficcional quanto real.

Segundo Dia

Labaq corresponde a uma loura que canta com o violão amores e desamores num brasileiro doce, que poderia tocar para além do tempo que lhe está destinado que seria maravilhoso, somente m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o. 

O Rapaz Improvisado faz-se acompanhar com um contrabaixista e passeiam por uma Lisboa mestiça do fado vadio ou por exemplo pelo nacional cançonetismo, numa abordagem não de minimização mas de recorrer a essas memórias e recria-las de forma a oferecer-lhe uma contemporaneidade retro.

The Miami Flu (excelente nome) reverberam diversas tonalidades mas a que domina é o funk psicadélico executado de forma eficaz e que lhes permite arriscar pela soul ou ainda pelo blues estes géneros são ora compostos ora decompostos de forma abrasiva e sintética que é difícil exercer a destrinça, supremos nessa heterogenia mesclada por pontuações kitsch.    

Isto Não É Um Arraial de Verão, 11 e 12 de Setembro, Ilha, Pombal.