O Teatro Aveirense
apresenta os Três Tristes Tigres que no total são seis músicos ligados
electricidade (excepto a harpista) dos quais se destacam os mentores: Alexandre
Soares (guitarra eléctrica) e Ana Deus (voz) a linha que fluentemente apresentam
é a da electrónica que progressivamente se torna ora incomodativa ora sedutora
mas é nesta dualidade que se encontra um centro sonoro que se espraia com o
intuito de se dividir entre o bonito e o belo e é este último que tem
ascendência sobre o primeiro, mas esta beleza é incomodativa porque provoca
inquietação que se de uma forma ou de outra é acutilante porque recorre à
repetição para que assim seja passível de ser assimilada e nessa medida ter
cabimento como estética que se liberta das suas condicionantes formativas (ou
assim o pretende) e procura evolucionar num sentido que se estava proibido
seria por falta de experiência por quem tentou bater nessa porta blindada e
construir um fluxo que se corre para o mar (como sucede com os rios que
nasceram para desembocar numa área bem maior e complexa), a amplificação de
elementos que parecem ter origem numa tribo que consigna ao coração o seu poder
supremo e que a partir do qual reconhecem à realidade um contexto que se imerso
nessa complexidade detona numa violenta extroversão e que pretende revelar algo
de novo que transmutará o espaço e o tempo em outros espaços e tempos que
sucessivamente são o futuro e o passado num vórtice que não consegue fazer
desaparecer o contexto em que a música faz ressurgir um outro presente, a
documentação do tempo psicológico é um compasso que se reporta a inúmeras texturas
numa continua circularidade que incute dois binómios: um segue por uma melodia
que é (por vezes) de uma aspereza cruel e que detona um mal-estar que ninguém
pretende prender ou segurar e segunda uma maliciosa melodia pulsante que irriga
o corpo das canções, se há dissonância é num organigrama em que o organismo se
contrai e desconstrui como se fosse o apelo sedutor da autocombustão deste
efeito poderiam surtir diferentes sinónimos para justificar esse emaranhado
distorcido que discorre no interior do absurdo, a lentidão liderada pela harpa
consigna a algumas canções um misto de volúpia onírica pop que revela uma
delicadeza que se fosse um sentimento seria o amor ou a perda desse (aparente)
eterno sentimento mas a crueldade é revelada pela fragilidade da condição
humana, o rock apresentasse segundo ditames que revelam a sua raiz é por
sistema invertido e alterado para um registo que se revela numa máscara que é a
da angustia ou do desespero que deliberadamente se entranham como se fossem um
misto de veneno com água baptismal: esta viscosidade escorre tal ácido sobre um
espelho e retalha-o segundo uma estrutura que faz emergir uma beleza profunda, se
há espaço para que se reflicta numa turbulência pop/rock e surja um outro
entendimento quer seja com os sentimentos seja com a realidade que a rodeia com
a perspectiva de que há esperança para lá do reflexo…
Três Tristes Tigres,
“Mínima Luz”, 22 de Abril, Teatro Aveirense, Aveiro.