A associação entre a
Orquestra Jazz de Matosinhos e Rui Reininho encontra o seu segundo capítulo na
Praça Real Vinícola (antes havia decorrido na Casa da Música) inserido no
conjunto de concertos Jazz Na Real Vinícola; o cantor dos GNR traz consigo o
Alexandre Soares e o Paulo Borges que juntamente com a orquestra
(maioritariamente constituída por metais) executam as canções que decorrem do
segundo álbum de originais de Rui Reininho “20000 Éguas Submarinas”. A relação
que estabelecem é a de acentuarem os elementos estéticos que se evidenciavam em
cada um dos temas do álbum, isto sem serem meramente retratistas, mas na
procura de evidenciar pormenores que se encontravam no subtexto da linha melódica
dos originais: onde há delicadeza e profundidade acentuam-se as mesmas, onde há
excesso e opulência acrescenta-se ainda mais a densidade; destas ondas sonoras
(o que remete para que esteja inerente uma ondulação que não afecta somente
“Fartos do Mar” mas também as suas congéneres) provém universos abstractos e
outros oriundos-- de e por exemplo-- do flamenco a sua coexistência confere às
canções uma profundidade extravagante pois se encaixam sequencialmente ora
derivadamente e tendencialmente criando um “big picture”. Porém e
comparativamente quando Rui Reininho se apresenta somente com os seus quatro
comparsas há um aprofundar senão mesmo um denso sublinhado sobre o psicadelismo
que confere uma dimensão “inconsciente” às canções, mas dado o facto de a
orquestra ser composta por metais a que se juntam uma bateria e um baixo eléctrico, as opções teriam que passar
obrigatoriamente por esse conjunto de músicos, logo essa dimensão psicadélica
está alienada dando espaço a arranjos que complementam as canções noutros domínios
(como o aqui evidenciado flamenco),-- resolvendo assim-- o que em quinteto era
uma constante enunciação que se insinuava e se exprimia para além da moldura do
tal “big picture” extravasando as suas fronteiras mas sem se perder a narrativa
sónica. A surpresa final é “Sete Naves” --original dos GNR e uma das
composições co-escritas com o Alexandre Soares, um dos membros fundadores do Grupo
Novo Rock-- e que a Orquestra Jazz de Matosinhos transforma numa tempestade,
mas em vez de soprarem ventos adversos sobre embarcações fantasmagóricas há uma
felicidade destemida contra toda e qualquer perturbação que se torna numa
esperança que enche de força os marinheiros que usam a voz do Rui Reininho para
se vingarem de residirem no além, e o único desassossego é ouvirem-se através
da sua voz e por essa e somente por essa razão sentirem-se vivos.
Rui Reininho & A
Orquestra Jazz de Matosinhos, 04 de Junho, Jazz Na Real Vinícola, Matosinhos.