O Centro de Artes e Espectáculos
da Figueira da Foz anuncia para noite de hoje “Mário Laginha & Pedro
Burmester tocam Bernardo Sasseti”, este último evaporou-se há uma década atrás
algo que foi uma tragédia para a cultura musical portuguesa, para além de ter
sido um excelente pianista, revelou-se através da composição que discorria
entre a música clássica, a música para filmes e o jazz, o que perpassa estes
géneros musicais é a elegância com que os transforma em quadros visuais
dinâmicos ou como refere a folha de sala: “Bernardo transforma uma herança rica
de Bach a Mompou, Chopin a Bill Evans, em imagens sonoras únicas”. O seu
carácter criativo era complexo e amplamente culto pois através de cada
composição estruturava de forma simples os géneros musicais que se propunha
explorar, tal sucede em “Prelúdio em Sol Maior”, uma música que é leve apesar
de ter como centro a repetição de um punhado de notas a partir das quais há
diversas variações.
Que fora antecedida por
dois temas que não fazem parte da lavra do Bernardo Sasseti e que foram
executados a quatro mãos-- às do homenageado foram tocadas a duas mãos em que
os dois músicos se intercalaram-- Astor
Piazzola “Grand Tango”, Mário Laginha “Concerto para dois Pianos”- primeiro
andamento, e que revelaram a mestria dos pianistas que se “encaixaram” quase
como fossem ambos peças únicas e que por essa razão revelaram quanto é
complicado executar estes dois temas e o resultado foi deveras excelente pois
cativaram a multidão irremediavelmente.
Já “Inquietude” de Bernardo
Sasseti é de uma solenidade desarmante quase uma canção fúnebre que ainda
encontra esperança num reflexo de fancaria, onde em vez de se encontrar a morte
vê-se uns lampejos crónicos de vida. “I Left My Heart In Algândaros de Baixo”
de Bernardo Sasseti e tocada por Pedro Burmester refere-se a algo entre o jazz
e a música clássica, pois é difícil destrinçar onde começa o primeiro e se
imiscui a segunda, dada a sua ambiguidade estética é de difícil catalogação
para além de ser de uma tristeza à qual está aguilhoada por uma tragédia. “De
um Instante a Outro” de Bernardo Sasseti e tocado pelo Mário Laginha que é o
único tema que é ostensivamente jazz com as devidas variações de notas e de
ritmo, um caminho serpenteante por uma montanha à qual não se encontra o cume.
Encerram o concerto com
o “Bolero” do Maurice Ravel a quatro mãos e mais uma vez as duas partes
dialogam mas seguindo a cadência repetitiva em crescendo da qual surge a
melodia, um tema que é de domínio comum de quem conhece minimamente a música
clássica e que foi aplaudido de pé numa longa ovação e que levou os músicos a
realizarem três encores com as canções do Bernardo Sasseti. Bravo.
Mário Laginha &
Pedro Burmester tocam Bernardo Sassetti, Figueira Jazz Fest, 3 de Setembro, Centro
de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, Figueira da Foz.