domingo, 4 de setembro de 2022

Teremos Sempre Tebas

O Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz anuncia para noite de hoje “Mário Laginha & Pedro Burmester tocam Bernardo Sasseti”, este último evaporou-se há uma década atrás algo que foi uma tragédia para a cultura musical portuguesa, para além de ter sido um excelente pianista, revelou-se através da composição que discorria entre a música clássica, a música para filmes e o jazz, o que perpassa estes géneros musicais é a elegância com que os transforma em quadros visuais dinâmicos ou como refere a folha de sala: “Bernardo transforma uma herança rica de Bach a Mompou, Chopin a Bill Evans, em imagens sonoras únicas”. O seu carácter criativo era complexo e amplamente culto pois através de cada composição estruturava de forma simples os géneros musicais que se propunha explorar, tal sucede em “Prelúdio em Sol Maior”, uma música que é leve apesar de ter como centro a repetição de um punhado de notas a partir das quais há diversas variações.

Que fora antecedida por dois temas que não fazem parte da lavra do Bernardo Sasseti e que foram executados a quatro mãos-- às do homenageado foram tocadas a duas mãos em que os dois músicos se intercalaram--  Astor Piazzola “Grand Tango”, Mário Laginha “Concerto para dois Pianos”- primeiro andamento, e que revelaram a mestria dos pianistas que se “encaixaram” quase como fossem ambos peças únicas e que por essa razão revelaram quanto é complicado executar estes dois temas e o resultado foi deveras excelente pois cativaram a multidão irremediavelmente.

Já “Inquietude” de Bernardo Sasseti é de uma solenidade desarmante quase uma canção fúnebre que ainda encontra esperança num reflexo de fancaria, onde em vez de se encontrar a morte vê-se uns lampejos crónicos de vida. “I Left My Heart In Algândaros de Baixo” de Bernardo Sasseti e tocada por Pedro Burmester refere-se a algo entre o jazz e a música clássica, pois é difícil destrinçar onde começa o primeiro e se imiscui a segunda, dada a sua ambiguidade estética é de difícil catalogação para além de ser de uma tristeza à qual está aguilhoada por uma tragédia. “De um Instante a Outro” de Bernardo Sasseti e tocado pelo Mário Laginha que é o único tema que é ostensivamente jazz com as devidas variações de notas e de ritmo, um caminho serpenteante por uma montanha à qual não se encontra o cume.

Encerram o concerto com o “Bolero” do Maurice Ravel a quatro mãos e mais uma vez as duas partes dialogam mas seguindo a cadência repetitiva em crescendo da qual surge a melodia, um tema que é de domínio comum de quem conhece minimamente a música clássica e que foi aplaudido de pé numa longa ovação e que levou os músicos a realizarem três encores com as canções do Bernardo Sasseti. Bravo.

Mário Laginha & Pedro Burmester tocam Bernardo Sassetti, Figueira Jazz Fest, 3 de Setembro, Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, Figueira da Foz.