Se
fosse uma noite de inverno daquelas noites que os poetas de espírito tão nobre
quanto negro fazem uso para delinear os seus poemas românticos, muitos dos quais
fora de moda, alguns até representativos de outras eras que não esta em que
vivemos. Caso se confirmasse que há tempestade como da a última vez que BALLA
passou pelo Salão Brazil e teve direito a uma plateia exígua, justiçava-se o
grupo de desconhecidos e amigos que deixam muito espaço vago na sala de
concertos mais popular da cidade de Coimbra. E quais ou qual poderá ser a justificação?
Para mais o músico lançou “Cãs” talvez referente ao facto de que ultrapassou os
cinquenta anos e os trinta de carreira durante a qual se foi desmultiplicando
em outras personagens que correspondiam a outras sonoridades. Mas BALLA resistiu
às mudanças talvez porque augura de certa forma algo que move muitos artistas
pops: a canção perfeita a que se repete na rádio sem cansar o ouvinte e por
outro lado o faz querer voltar a ouvi-la, talvez seja isto ou o facto da música
pop movimentar multidões que histéricas descobrem nelas episódios que marcaram
a sua vida e lhe deram um reconhecido valor. Dos compositores de música electrónica
talvez Iánnis Xenákis seja preponderante na obra de Armando Teixeira (BALLA),
isto inserido na música pop oferece às canções um sinfonismo que foi
ostensivamente utilizado por exemplo por Jean-Michel Jarre (um discípulo do Mestre
grego/francês); e confere às do músico português uma inquietação desmedida como
se fosse um despertar não só do corpo mas da sua consciência e dessa forma oferece
ao ouvinte a possibilidade de elaborar um outro universo. Há a excelente “Natureza
Humana” ou a “Lixo” ou a oportunidade de dançar ao som da ritmada “Sobressalto”;
sem esquecer o clássico “Construi Ruínas” que revela a pop synth delicada e
ostensivamente angustiante; já “Segredos” (o single de avanço de “Cãs”, o seu último
Lp) é uma balada com direito a distorção da guitarra eléctrica e por fim a
dupla de pérolas pop “O Fim Da Luta” e “Outro Futuro”. Por estes exemplos foi triste
de ver o Salão Brazil a receber um dos nossos génios da pop electronica vazio
ou meio vazio despendendo da perspectiva.
BALLA, "Cãs", 25 de Março, Salão Brazil, Coimbra.