sábado, 26 de agosto de 2023
sexta-feira, 25 de agosto de 2023
Goth
O Festival EXTRAMURALHAS decorre na cidade de Leiria e o seu cartaz é consignado na totalidade ao gótico e aos subgéneros a ele associados. Os cabeças de cartaz desta noite são os suíços Young Gods que segundo a organização foram precisos “trinta e três anos” para que fosse possível trazê-los à Leiria.
A adjetivação que poderá descrever este concerto é
violento e introspetivo, esta relação parece estranha porque o que dominou foi
a violência sonora detonada pelos samples que funcionam como uma base plástica
que expressa diversos sentimentos perturbantes. A somar aos samples está a
guitarra elétrica, a sobressair da massa eletrónica espessa, quase como se
fosse lama, a voz segura de si, fosse principalmente nos graves numa segurança
que é contagiante mas em simultâneo repelente, um elemento que percorre
diversas incidências, na sua maioria trágicas. Orgânico, se tal se pode
chamar—à bateria que resplandecia e dava relevo à maquinaria de onde são debitados
os samples, que são a base de cada canção. Não há lugar para nada de lúdico ou
de belo o que se ouve são canções tão clássicas quanto “Skinflowers” ou
“Gasoline Man”, que perturbam por si só, pois são inscritas numa asfixia
delirante, dada a complexidade rítmica e melodicamente arrepiantes. Não se
conte com os Young Gods para tramas de contos com final feliz, na verdade o que
instituíram durante cerca de uma hora de concerto foi uma sonoridade industrial
sendo que o gótico decorreria dos samples que de agrestes e violentos
provocavam aos mais incautos uma asfixia que poderia ser letal e por isso o
concerto foi épico.
The Young Gods, 24 de Agosto, Jardim Luís de Camões,
Leiria.
terça-feira, 22 de agosto de 2023
segunda-feira, 21 de agosto de 2023
As Palavras Interditas
Na tarde de quarta-feira inicia-se o festival Luna
Fest, esta primeira edição decorre até Domingo, altura em que os responsáveis do
encerramento serão os Gang of Four. A começar a tarde de hoje são os THE DSM IV
que têm uma base electrónica muito bem estruturada e que ganha uma dimensão
épica quando deambulam e se imiscuem noutras voragens mais abstratas com a
cumplicidade do vocalista com uma voz interventiva e uma movimentação dinâmica
que fazem deles a grande surpresa do festival. The Speedways um quarteto
clássico guitarra-voz, guitarra-solo, baixo e bateria, e são tão clássicos que
a estrutura das canções é básica, sem nada a acrescentar a este género de
pop/rock tipicamente inglês. Robert Grol and DAF, o primeiro encontra-se
acompanhado por uma mulher que se responsabiliza pelo computador de onde são
debitadas as canções industriais que são por norma minimais (é a chamada Cold
Wave), na essência muito bem delineada, com a voz de Robert Grol grave num
contraponto à sedução industrial. The
Undertones sofrem do mesmo mal dos The Speedways com a agravante de serem
consideravelmente mais velhos e ocuparem o intervalo das canções para dizerem
piadas. John Cale and Band, o mítico John Cale apresenta-se com um baixista
angular e com um guitarrista de construtivista e um baterista tão sóbrio quanto
assertivo, Cale remete-se ao teclado onde tocou temas do seu novo álbum “Mercy”
assim como para “Waiting for The Man”, pode-se caracterizar de equilibrado e de
sóbrio, interessante quando tocou guitarra eléctrica e se instalava a jam e as
canções ganhavam uma outra dimensão nem pop nem rock, algo intermédio.
Segundo dia
A abertura do palco cabe aos valencianos Finale que
são como que um murro que esmurraça continuamente o nosso cérebro com disparos
punks, complementada por uma voz aguda rápida, o som destes quatro rapazes poderia
estar a demolir muros com a sua sonoridade. Oh Gunquit é um conjunto esquisito
porque é complicado afiançar que género é que tocam talvez um western spagueti?
Talvez. A figura que se destaca é uma loura vestida como as meninas do Moulin
Rouge que toca trompete e simultaneamente rodopia um arco nas ancas; quando a
guitarra se esfuma por questões técnicas ela convida os presentes a telefonarem
para casa através, é o chamado absurdo inglês. Hickoids são uma banda texana e
o que toca é um country-hard-rock e pouco mais há acrescentar, talvez que são
competentes mas não deixam de ser entediantes. La Elite são um duo espanhol um
dedica-se a inserir as melodias e os beats o outro a discorrer sobre a sua
realidade social, isto tudo com muita adrenalina. Black Lips são assertivos
quando se limitam ao rock, mas perdem esse poder quando o misturam com outros
géneros musicais. Buzzcoks apresentam um power pop reminiscente da década de
setenta do século passado, cantaram hinos e fizeram levantar muita poeira.
Terceiro dia
The Phobics não têm nada a acrescentar a outras bandas
punk inglesas, é curioso que quando
desaceleravam é que ganhavam mais interesse estilístico. The Star Spangles são
uma mistura de pop-punk, quando tocam as canções com duas guitarras ficam menos
entediantes. The Fleshtones datam de 1976 e estão excitados ao ponto de
declararem inúmeras vezes que eram os “Fleshtones”, não se destacam da pop
clássica assinada em Inglaterra. Fora do cartaz surge Victor Torpedo and The
Pop Kids que delineiam canções de alto teor pop que são viciantes; estes são
substituídos pelos The Parkinsons (em substituição dos The Damned) e não
poderiam estar tão electrizantes e até disponíveis a instalar a loucura no
público seja através da guitarra eléctrica do Victor Torpedo ou as investidas
sobre o público do Afonso Pinto. La Femme conjunto de homens e mulheres com os
seus teclados vestidos de forma elegante que debitam um trip-hop de linhas
elegantes e bem delineadas.
Quarto Dia
Os 5ª Punkada, banda pop/rock da Associação de
Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC), tocaram na essência blues de forma tão
assertiva quanto elegante. Eel Men tocam um pop/rock tipicamente inglês mas são
encantadores da forma como executam as canções. Onde Robert Grol é frio e
distante Martin Dupont é quente e lúdico. Os escoceses The Rezzilios praticam
um rock and roll básico, repleto de clichés. Dissidenten praticam um som
tipicamente indiano ou próximo dessa região, quando anulam a parte acústica as
canções ganham uma densidade estética aprazível. A Certain Ratio apresentam o
seu último álbum “1982”, e é estruturado em épicas linhas de baixo associado a
uma bateria segura e inteligente, ganham grandiloquência quando instituem o
psicadelismo.
Quinto dia
Bruno And The Outrageous Methods Of Presentation
pratica um rock and roll indie, as canções não têm mais de dois minutos, no
intervalo das mesmas há a ironia do Bruno, que veste à Elvis Presley e canta
desalmadamente. Ruts DC são punks da velha guarda devem tocar as mesmas notas
musicais desde 1977, tiveram em palco na voz para duas canções o Captain
Sensible (dos Damned, que estiveram anunciados para o festival mas tiveram que
cancelar por motivos de saúde do seu vocalista). Yummy Fur produzem um rock
indie sem grandes soluções de canção para canção; assim como os The Only Ones
com a diferença de tocarem pop indie. Gang of Four são militantes contra o
capitalismo com diversos slogans a serem projectados para o palco como por
exemplo “Make Proverty History”, em termos músicas são uma bomba de new wave,
com excelentes músicos a debitar as canções repletas de frases políticas,
contra um sistema político e social que consideram obsoleto. A determinada
altura do concerto, trazem ao vocalista um taco de basebol e um micro-ondas que
é literalmente e simbolicamente destruído, a imagem é óbvia: marchar contra o
capitalismo.
Luna Fest, 16-20 de Agosto, Praça da Canção, Coimbra.
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