Entro em palco acompanhado por mais quatro elementos, os seus braços são alimentados à electricidade, sobre as nossas cabeças temos candeeiros indústrias, com a marca americana: Nine Inch Nails. Acelaramos para o tema que escrevi quando estava à beira da falência técnica dos meus sentidos, e a razão apenas me feria em cada raciocínio:"Mr. Self Destruct." A distorção acende e apaga as luzes ininterruptas que queimam o olhar dos portugueses, aceito as palmas mas tenho medo de “fuck up our first concert”. A minha voz escarra contra os "March of Pigs", que se clonam para alimentar o futuro. Já sofri por "Something I Can Never Have", mas nunca percebi o destino das minhas ansiedades que me rejeitavam para o colo dos americanos: "Help Me I Am In Hell, Hell!" Fui ignorado pelo sorriso dos meus pais, que julgavam que deram ao mundo um falhado que veste na alma os ossos da morte. Hoje sou o capataz desta fábrica de onde caem pingos do tecto e a guitarra se digladia com a maquinaria, o alarme dispara e bloqueia as luzes de palco: “Just pretend we have kick ass lights”, a multidão é rasgada pela revolta dos que instauram a anarquia e a dor nos seus congéneres. “You Know What You Are?”, mas ninguém responde à minha inquirição, ouvem-me para se libertarem da alienação que a sociedade lhes incute. Magoo-me em cada nota do piano e os versos são o testamento de uma nação que me baptizou de Trent Reznor: ”What have I become/ My sweetest friend/ Everyone I know goes away/In the end.”
Nine Inch Nails, Coliseu de Lisboa, 10 de Fevereiro