O pano branco está colocado na boca de cena, é-lhe projectado um X, é uma incognita ou uma premissa? XX é a designação adoptada por uma banda de adolescentes, timidos, introvertidos, monosilabicos. O som prolonga-se em eco, as luzes atrás dos músicos projectam as suas sombras ritmicamente sobre o tecelão, a batida é manipulada por um Dj, ouve-se a guitarra e o baixo, ela é feminia, ele masculino, são os cabecilhas dos XX. Romy Madley-Croft, tem um timbre sussurrado, “yeaahhahaaaa”, Oliver Sim grave, mas pausado num arrastar constante das vogais, “AaaaaAAaaAA”. O pano cai e as silhuetas ganham matéria humana, ela é baixa e entroncada, ele é alto e magro, os penteados e a roupa negra, são retro. As palmas eclodem na Aula Magna, repleta de melómanos, curiosos, e estrelas da rádio e da TV como Silvia Alberto. A sincope marca o ritmo, os acordes wenstern da guitarra impõem-se ao baixo: “And forgive, and forgive”, “to keep you satisfye”, Oliver diz que estará “away”, “Aiaiaiaiaiaiiaaai”, acordes da guitarra, “in my direction”, “your afection”. Ambos: “OOOOoooOOOOOOOOOO”, “slow”, “slow”. A lentidão é uma constante, como se a furia fosse algo de domesticavel, a simplicidade é monastica tal como os primeiros registos de Robert Smith/The Cure. A poesia frágil proveniente de um impeto que descobre o amor e se liberta: “I don´t have to live anymore”, “here I”, “I `m your smile”, a batida é hard, a resposta do baixista, “I found my desire”, Romy, “I `ll be”, “desire”, “I`m yours now”, pop, “I´m yours now”, pausa, os acordes que ilustram o refrão emitem da guitarra, o Dj incute o freestyle, as luzes decoram o palco de vermelho é o fim da virgindade: “So you feel like never before?”. A “fantasy” é carnal, a penetração é sub-aquatica, “oooooo”, “I can be your fantasy”, o ritmo é proveniente de Portishead, com o baixo em loop, a voz é exclusivamente masculina, está é mais pobre do que a da guitarra, que se sobrepõe através de um solo sobre o todo, “I found a shelter in this World”, “could I be?”, “I feel cristal in the air”, “please teel me gentil how to breathe!”, “So you can see”, com uma batica robotica dos Kraftwerk. “Boa noite tudo bem? This is our first show here in Portugal!”. “VCR”, é revista, tal como é apresentada no álbum de estreia dos XX. “Nothing there”, break-beat, “left behind”, responde a voz quente e sussurrada. As duas vozes: “they say space, yeah, yeah,”, “nothing there.” O teatro das vozes é uma peça radiofonica, ou, será telefónica? Creio que poderá ser via internet, que é mais actual e veloz, contudo os efeitos secundários para a juventude são letais, o envelhecimento é uma droga que nos consome todos os dias lentamente: “I can give up”, “I can see you”, “leave”, fechem os olhos, oiçam somente, “see your eyes”, “I can give up”, a bateria ressoa chicoteando a carne, “I can give up”, a ansiedade é acutilante e espeta na veia da saudade numa ilha onde reina a melancolia.
XX, The XX, Aula Magna, 25 de Maio, Lisboa.
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