Mark Steiner sobe ao palco do Teatro Aveirense e empunha uma guitarra eléctrica, que alterna uma sequência de acordes agudos e graves num ritmo rock and billy, a sua voz é preponderantemente grave: “I`m tired of this city”. “Mistakes”, os acordes repetitivos são desferidos rapidamente aumentando-lhe a carga dramática “this skin”. A declaração em forma de confissão derrotada e derrotista: “like a ghost”: “Woman and alcohol”. As cores adensam-se num black billy, “I`m just an angel who lost his wings, went to the sky and lost his skin”. “I`m so tired of this town”. Palmas. “Muito obrigado. Meu nome é Mark Steiner e ´Estes são os meus Problemas`. This next song is about Rowland [S.] Howard. A friend of Mick Harvey who you are going to see tonight. Google Rowland [S.] Howard”. Os acordes da guitarra são ritmados de forma pouco espaçada, mas simultaneamente contida, a partir da qual se sobrepõe o canto ligeiramente mais agudo do que na canção anterior. “Cigarretes”. Sobre o dilaceramento da guitarra canta: “Overdose”. O lamento após acordar do trance: “Why I`m here?” . A melodia é black billy. “Overdose”. Palmas. “This `s my third time in Portugal. I love Portugal”. A guitarra introduz acordes dormentes, Mark Steiner canta pausadamente num timbre semi agudo e grave, uma lâmina que corta sobre “my heart is with you”. “To recall out of me”. Surge um mulher composta por uma túnica branca com uma tiara a segurar-lhe a franja, a luz ilumina o rosto de Tracy Vandal. O seu timbre é de veludo negro que responde ao seu interlocutor como se estivesse a induzi-lo numa lullaby perniciosa: “Trough the years”, “broken”, “I can`t wait for you”. Tracy reza uma tragédia anunciada: “You still love me”. As duas vozes juntas: “And all I want, and all I need”. A voz de Tracy Vandal é um canto irresistível, flutuante e acutilante, belo e feio: “You”. “Youuuuu”. “Youuu”. A guitarra é cúmplice de Mark Steiner, ao se assumir como a testemunha do amor secreto que os une, a súplica: “I can see you?”. Tracy Vandal: “You can see me”. Mark Steiner: “Desire”. Tracy Vandal: “You can walk”. Tracy e Mark: “And all I need is you”. A guitarra eléctrica suaviza a sua intervenção assumindo uma perspectiva pop. Tracy e Mark: “And all I need is you”. Palmas. “Anybody knows this woman?”. Ouve-se uma voz do público: “Tracy Vandal”. Os acordes que Mark Steiner introduz na guitarra são de rock com origem nos Clash. Que impregna a terceira canção de uma urgência que se repercute como uma lei imposta para ser corrompida. A voz de Mark Steiner é grave e funda: “Night or day?”. “Dream”. “Away”. “Black and white”. O ritmo diminui, e a voz de Mark Steiner é predominantemente aguda “be with you”. Tracy Vandal retrai-se no eterno medo de se enclausurar no amor: “is passing me at the speed of the light, I`m afraid”. “Belive in me”. Tracy Vandal e Mark Steiner: “Changes”. O ritmo acelera, “I need to be with you”. Mark Steiner informa o público: “Last night I was in Coimbra”. Tracy Vandal: “And can you remember?” (ri). O cantor americano introduz acordes predominantemente agudos da sua guitarra, num ritmo lento, “beautiful thief”, “my heart”, “no longer be free”. “Beautiful thief”, os acordes da guitarra aumentam ritmicamente. Tracy Vandal intervém como se fosse a voz da tragédia: “My life”, “the last thing I need”, “dreams”, desorientada ignora quem esteja “wrong or wright”. A sua voz é um sopro no escuro: “OOOO”, “OOOO”. A guitarra propõe uma crescente agressividade, Mark e Tracy: “Beautiful thief”. Tracy Vandal: “Who can give you back your heart?”. Sobre os acordes em gradual quebra, Tracy Vandal exibe a mascara de cobra egípcia: “We have a problem, I think I`m still in love with you. So you are the thief”. Palmas. (Tracy Vandal abandona o palco). “This is our last song. In the end you can have a cigarette and have some stuff”. O público ri, Mark, aproveita para concluir: “I didn`t mean some drogas but merchandise”. Surge no palco uma mulher magra, veste de negro, e segura nas mãos um contra baixo eléctrico, chama-se Rosie Westbrook. “The sea of disappointed”. A guitarra eléctrica está alinhada na semi distorção com delay, as palavras são cuspidas por Mark Steiner, marcadas pelo veneno do ódio e da autopunição: “I ´m sorry”. O contrabaixo eléctrico acompanha o ritmo agressivo da guitarra tentando ocupar o espaço vazio que a raiva naturalmente não permite. A separação entre um casal: “I'm worry”. “You don't worry”. As lágrimas que lhe toldam do rosto têm as propriedades amargas do sangue: “Taste of tears”. “But you don`t worry”. O baixo insere a sua vertente pulsante equilibrando a balança “wrong”, a voz: “don`t be sad girl”, “tomorrow”, “don`t be sad girl”. “Hey”, o ritmo gradualmente decresce e a voz de Mark Steiner ganha corpo esotérico: “I`m floating”.
Surge Mick Harvey (guitarras) acompanhado por J.P. Shilo (guitarra/violino) e Rosie Westbrook (contra baixo eléctrico). A primeira canção é dominada pela guitarra acústica do cantor australiano, o ritmo é lento, mas a forma como Mick Harvey canta é compassada: “You say”, “glass of wine”, “me”, “drunk”, “In the end I`ll be fine”. Entre o cantado e o declamado: “If flowers dancing in the sea”. J.P Shilo remete a sua guitarra numa contínua expectativa que acompanha o narrador pela tragédia romântica, “never being”, “time and space”, quando a guitarra e o baixo se intrometem a canção ganha um fulgor inesperado mas que é quebrado pelo lugar comum: “Glass of wine”. Palmas. As guitarras eléctricas dominam “I told you boy” estabelecem uma progressão crispada através da qual rejeitam “sang this song of sadness”. A voz de Mick Harvey perde o sentido folk rock da canção anterior mergulhando numa textura de tinta permanente: “Book of the day”, “me”, “writing”. “Song of the book of the days”. O diário de quem bebeu a porção mágica: “Rock and Roll poison”. Quando Mick Harvey canta: “I told you boy” a sua voz ganha um timbre de uma entidade que o alertou para o enigma que desaparece quando o futuro é concretizado. As guitarras de J.P. Jhilo e Mick Harvey, instalam um ritmo minimal descontínuo próximo da tortura: “I told you boy”. “Flowers”. “Torture”. Canta: “If I write a song for ´The book of the Days`”. No terceiro tema Mick Harvey enverga uma guitarra acústica e o seu ritmo impõe-se ao baixo e a guitarra eléctrica. Esta pontua-a com uma lenta intromissão: “Birds sing”, a voz prolonga as frases procurando fugir à métrica da sua guitarra, “city (OOOOO)”. Os acordes crispados de Mick Harvey são penetrados transversalmente pela guitarra de J.P. Shilo, gradualmente tornam-se exasperantes porque marcam na nossa consciência a necessidade absurda da inconsciência. “Can´t find”. Palmas. Na quarta canção a guitarra eléctrica de Mick Harvey reflecte meios tons e a sua voz alastra num chamamento de uma história de um “young man”. A narrativa versa um crime cometido por seu pai: “Kill the wife”, o jovem fica sozinho após “mother`s dead”, o violino acende chamas finas de uma alma que está a abandonar o corpo. Mick Harvey declama: “So this history can`t be told”. E num suspiro onde impera uma profecia: “Caaaaan`t”. Caaaaan`t”. O violino impõe num negrume cintilante: “It`s forbiden”. Mick Harvey dirige-se ao escasso público convidando-o: “just spread out. Make you confortable”. A guitarra eléctrica de Mick Harvey insere os acordes sustenidos da quinta canção, a guitarra de J.P.Shilo convoca pontualmente notas agudas, ele é o negativo de Mick Harvey: “Trouble dream”. O solo de J.P. Shilo é um gradual mergulho numa lava que ao escorrer sobre a terra queimada cria uma nova paisagem, é a natureza a cúmplice de Deus? A voz de Mick Harvey encontra-se entre o falado/cantado numa ligeira aproximação ao canto celta, “child too old”. A guitarra de J.P. Shilo remete os agudos para um universo subaquático mas com o mar revolto à superfície, “go child go”. A frieza e a passividade do contra baixo permite a J.P. Shilo intervir como se estivesse a rasgar o ventre de uma grávida da qual lhe é retirado um bebé “cry”, o Messias é identificado, “child is a stranger”, e a guitarra de J.P. Shilo emerge num lodaçal de esperança: “God help me”. Palmas. “Thank you very much. Kind people of Aveiro. We are going to play some songs from the new album”. A cadência da guitarra électrica com a semi acústica insinuam um ritmo marcadamente slow, J.P. Shilo é responsável pelos solos que procuram desconstruir a sexta canção e importa-la para um domínio do desconhecido, mas indubitavelmente impregna-a de uma densidade negra. Mick Harvey canta/fala: “Joy”, “hammer”. O ritmo da sétima canção é crescente e em paralelo, com o contra baixo eléctrico de Rosie Westbrook a suportar a progressão imposta pelas guitarras. O canto de Mick Harvey é seco e contido com ligação a um órgão interno que lhe atinge as pulsações cardíacas. “I sang”, “the unseen”. As guitarras revelam-se através de uma sequência rítmica que modela a cor dos acordes fulminando-os com inesperada luminosidade. “I pray the earth”. “I sang”. “Summer sky”. As guitarras aumentam a sua cadência importando a canção para o centro do sol. “To the unknown”. Palmas. Os acordes ostensivos das guitarras inscrevem a oitava canção numa vertente assumidamente rock, sobre os quais canta Mick Harvey: “Sometimes”. A crescente circularidade repetitiva dos acordes são devidamente perturbados pela guitarra semi distorcida de J.P. Shilo. “Lá”. “Lá”. “Lá”. Os acordes das guitarras são predominantemente agudos e ligeiramente distorcidos. “Sometimes”. “OOOO”. O trio marca um compasso decrescente e inscreve na melodia as coordenadas estéticas do blues de inspiração satã. “Child playing”. “OOOO”. Palmas. “Obrigado! This is our last gig here…and it`s being nice here. Obrigado”. Os acordes das guitarras são rápidos e concisos: “I wish I was stoned”, a guitarra eléctrica de J.P.Shilo insere um solo descontinuo que amordaça o ar nos pulmões: “Happy on your own”. A rapidez da métrica endossa-a para o domínio do inconsciente, onde prevalece como um avatar sanguinário. “Cowboy”. “I wish I was stoned”. Palmas. A guitarra Mick Harvey introduz os acordes de forma espaçada algo que lhe permite alternar as estrofes entre o falado e o cantado e assim institui uma oração celta com a conivência do violino de J.P. Shilo. Verso falado: “This eternal fear”. Verso cantado: “Love is something to be found”. Verso falado: “She left her man”. Verso cantado: “And he sang all night long”. Os instrumentos alinham numa progressão gradual, pausa, “open your arms tonight”, “lost his pride” a melodia celta desvanece-se quando o violino rejeita a sua componente decorativa e assume-se dissonante. “To the heaven”. “Way”. “And he took his life”. “A toast”. Cantado: “All might bring”. “In this trial song”. “Open your eyes, open your tongue”. Palmas. A programação rítmica insere um beat que ganha forma gradualmente, com as guitarras a instaurar uma melodia áspera completada pela voz entre o desespero e a resignação: “Still be a woman”, as guitarras isolam-se do ritmo, repetindo o mesmo conjunto de acordes em simultâneo. “Day”, o trio ganha uma rugosidade rock, “thank God”. “Take my hand”. “Ready for the last finally?”. Palmas. “I'm going allwright. How is your Saturday night?”. A introdução é realizada pelas guitarras, com a de J.P.Shilo mais rápida do que a de Mick Harvey, sobre esta surge o lamento: “For all the memories gone too soon”. “Feel this way”. “Turns around”. As guitarras recrudescem: “Fell this way?”. Impõe-se o meio tempo impregnando-a com uma melodia impiedosamente negra: “I wanna be too”. “I have to say, why does it make you feel this way?”. “I have to say, why does it make you feel this way?”. “I have to say, why does it make you feel this way?”. A décima terceira canção já se encontra fora do “main set”. As guitarras dominam agressivamente com a semi-distorcida de J.P Shilo em pontual descarga de raiva: “Make love to me”. Por contra posição ao rosto gentil e sereno que suplica: “I do anything”. O parternalismo do amante: “I want to protect you” para sempre “in slow motion” o contra baixo eléctrico pulsa febrilmente, “fall in love” para sempre “in slow motion”. A escravidão do amante: “I do anything to see you again” o ritmo aumenta gradualmente: “I do anything to see you again”. “I do anything to see you again”. Os três músicos abandonam o palco do Teatro Aveirense sob uma contínua salva de palmas. A penúltima canção “is for a friend call Bruno…”, mas que acaba por dedicar ao técnico de som homónimo do seu amigo. Palmas. O tempo pausado da canção, sublinhado pelas guitarras em uníssono, “to be part of me”, “always be a start”, “the lethal vision”, “to be part”, pausa, com as guitarras a assentarem sobre o ritmo slow do baixo, relvando-se através de um perfil pop. Palmas. Cada uma das guitarras apresenta os seus acordes alternadamente, a voz de Mick Harvey divide-se entre o narrado e o cantado, como se fosse uma ode a favor de “one man rocks” que se revolta contra “a man toy”, “one man step” a guitarra de J.P.Shilo soa transversalmente ao ritmo lento. “Plesure”. “Gay”. Questiona o público: “Who`s wrong? Who`s wright?”. A melodia country parece desarticulada com a narrativa contra a morte prematura de um “angel”, “any fear”, “man dream”. A moral de contornos absurdos: “One man daughter makes other man cry”. A profecia: “The storm she brought”.
Mick Harvey e o convidado especial Mark Steiner & His Problems, 25 de Maio, Teatro Aveirense @ Aveiro
domingo, 26 de maio de 2013
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