A tribo que surge no ecrã dança em redor de um objecto sagrado em tempos sacrificado em nome da paz de espírito. Este ritmo é devidamente processado por uma métrica digital. O cantor, que ocupa o palco vazio do Beat Club, segura o microfone, veste casaco branco e calças de ganga e sapatos castanhos, anteriormente conhecido como the one and only Victor Torpedo que abana as ancas e o microfone como se fosse um órgão inumano, a voz canta num registo “feling dizzy”, “feling alive”, o meio tempo do beat é continuo relegando a tribo para um ponto abstracto no futuro. Na segunda canção, o beat convida à dança num salão inundado por uma espuma ácida e a guitarra emerge impondo-se à fluência rítmica. A voz de Victor Torpedo rasga a garganta em cada palavra “it´s over” , “OOO”, dança, no ecrã surge uma família tipicamente afro-americana com os valores de uma texana. A voz punk “out of control”, “it`s over”, surgem no ecrã blacks embriagados à volta de um fogareiro com cadáveres do reino animal. Victor Torpedo senta-se na margem inferior do ecrã: “I ` m sick of the city”, a hipérbole: “I`m sick of the world”, a progressão estabelecida pela guitarra manejada por Johnny Marr (“AAAA”) aprofunda a vertente kitch. Na terceira canção, a programação corresponde a um ritmo curto perturbado pela cadência jungle, que acelera a narrativa com o baixo a intrometer-se a expandi-la explosivamente transformando-a numa melodia pop. Victor Torpedo instala a anarquia “people kill people” e bate duas vezes com o microfone sobre o peito. “Die”. “People kill people”. O ritmo misturado (jungle) com a melodia (dark) impõe uma progressão continua que resulta na hipnose. Palmas. “Arigato”. Na quarta canção, o beat mistura-se com o teclado perversamente OMD, no ecrã surgem humanos em férias “you and me”, “from the shadows”, a melodia é allegro ma non troppo, “like you and me”. A melancolia é inebriante com perspectiva sobre a vertigem “runaway”, “of our lives”. Victor Torpedo isola-se no palco, sentando-se como se estivesse à espera do medo. “Of our lifes”. O Pedro Calhau, que se encontra na pista de dança, movimenta-se ao ritmo de cada sad beat revelando que se encontra no interior da narrativa, “of our lifes”. Na quinta canção Victor Torpedo convoca New Order mas refutando uma mimésis melódica. Victor Torpedo ou a personagem que o representa e que tem uma identidade abstracta canta: “Now is time”, “ We don`t care”. O baixo de Peter Hook domina a melodia do sexto tema conspurcando-o com o suicídio associado a Joy Division. “No friends”, o baixo suicida sobrepõe-se à melodia cool kitch “you can show”, “their`s no escape” , “you can show” , no ecrã surge Ellizabet Taylor fardada de egípcia. Victor Torpedo ou a personagem que o representa senta-se sobre o monitor que transmite a informação para os seus ouvidos, o baixo processado digitalmente sobrepõe-se à textura pop, a voz punk é assumidamente punk: “I`m sick of the world!”. Na sétima canção, Sua Majestade Victor Torpedo dirige-se directamente ao público que ocupa a pista de dança do Beat Club: “Olá Leiria!”. A guitarra semi-distorcida é gradualmente triturada pelo beat com a conivência do baixo em slow motion. Victor Torpedo dança de costas para o público ensaiando uma gestualidade digna de Elvis Presley após o consumo de comprimidos tóxicos regados a champagne bebido do salto alto de Marilyn Monroe. A oitava canção é construída a partir de um beat allegro mas que não esconde uma melodia doentiamente triste, a estrela da noite canta: “Look at my eyes”, “my TV”, “you and me”. Uma espontânea rouba um dossier que se encontra sobre o palco, Victor Torpedo: “love and hate”, “it`s just a beautiful vírus”, a melodia corresponde a uma textura de lava a arrefecer: “”When you are around”. No nono tema sobrepõe-se um baixo pungente “I belive”, senta-se sob o ecrã “give me”, a programação harmónica impõe-se melodicamente “I belive”, mas o baixo assume-se como o ponto central de um remoinho matematicamente criado para induzir o desconforto que o distanciamento provoca no espectador. “Esta é fodida!” o beat da décima canção corresponde à imagem de um elefante cria a saltitar num estúdio de Walt Disney. Victor Torpedo é assertivo: “You can see the pictures on the walls”. Resposta de um ser superior: “I can see behind the walls” a canção impõe a dança às ancas adornadas para engatar. “Os one man band acabaram! Agora é só ´Karaoke`”. A radiação nuclear de “Meet my Tribe”, estabelece um groove tribal, uma decomposição à Suicide. Victor Torpedo é o chefe e o membro da tribo e dança como se estivesse a encarnar em Morrissey num barbecue vegetariano. A voz é grave “meet my tribe” mas melodicamente outonal “meet, meet my tribe”, o ritmo dub-tribal ganha uma dimensão digital e os exploradores fecundam as mulheres autóctones. O beat é contínuo e progressivo e Elvis descobre-se através da gestualidade exagerada e a sua voz é uma perturbação instituída pela angustia que o grito revela: “Meet my tribe”. “Meet my tribe”. Victor Torpedo dispara sobre o peito a cabeça do microfone que sangra os tímpanos do público “sun” , “meet my tribe”, “AAAAA”. “Até o [The Legendary] Tigerman vai ser `Karaoke`”. E isola a presente “Tracy Vandal a primeira ´Karaoke` soul de Portugal”. No décimo segundo tema há o predomínio da decoração do sintetizador que se sobrepõe ao beat e expõe uma fluência perversamente Duran Duran quando ecoavam na MTV através de “Rio”. “OOO”. “OOO”. O décimo terceiro tema é numa imposição puramente e falsamente rock and roll com ácido nas rolling stones. “IAAA”. “Get out”. A mecânica do décimo quarto tema é dominada pelo baixo “let´s”, “off the world” surgem no ecrã militares a marchar sobre Paris “off the world”, “girl”. O baixo bombeia sangue para a melodia e Victor Torpedo dança ao ritmo da marcha fúnebre, “girl”, a violência associada a um amor eterno: “Let´s make explotions”, a frase chave “let`s make some love”, “I don`t know”, “I don`t even even fuck”, “just a girl”. O ritmo da décima quinta canção é um beat que é acompanhado por um efeito especial denominado de fuzz que aclara a consciência hipnotizada da audiência. Victor Torpedo dança no meio do público, o predomínio do baixo é como uma corda atravessada por um trapezista a partir da varanda de onde o Papa Francisco influência o Mundo. “Déjà vu”, “trop tard”. Victor Torpedo mete a mão no bolso do casaco branco, que se sobrepõe a uma camisa com cowboys rendados, e retira um pente. “Il est trop tard mon ami”. E quando penteia a poupa surge a personagem que resulta do somatório entre Morrissey e Elvis Presley, a melodia resulta numa convergência de perspectivas atingindo o climax através de um choque frontal. Pedro Calhau despe as calças pretas e exibe o seu traseiro como símbolo da anarquia social “mes amis merci”.
Victor Torpedo, “Karaoke”, 21 de Setembro, Beat Club @ Leiria
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
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