terça-feira, 9 de junho de 2015
Primavera Sound
Noite quente na baixa de Coimbra e a esta temperatura não é alheio o Salão Brazil onde decorre o Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo. No palco encontra-se o curador Carlos Dias ou Carlos Subway quando assume a sua persona de músico nos Subway Riders; promete: “que vão ser dois dias de loucura absoluta”, mas o acaso subtraiu potências festivaleiros, tudo por culpa “do Primavera [Sound]”, que se encontrava em simultâneo a decorrer no Porto e das “marchas”; mas para gáudio dos presentes Carlos Subway acrescenta que há uma estrela contratada “à última da hora”, essa é nada mais nada menos que “kazuza”. Alexandre Valinho Gigas é poeta e diseur e fá-lo concentradamente sobre o loop, o poema versa sobre alguém que se encontra numa situação desesperada, causada por um acidente e que tem como companhia uma “garrafa de gin”, vê o “limite” onde passa o tempo a “olhar para ela”, “onde repousa inquieta”; sobre o loop, “liberdade”; “garganta”; “as palavras isoladas: pois”; “translúcido”; “tão só”; “o odor a fresco”; a voz de Alexandre Valinho Gigas aumenta o seu dramatismo, “outro lado”, “outro lado”, “outro lado”; “outro lado”. O primeiro músico a subir ao palco do Salão Brazil é o Marquis de Cha Cha que apresenta um conjunto de canções ecléticas, em que o pormenor gradualmente ganha domínio e se estabelece como denominador comum; a música concreta marca lugar através do uso de um objecto que arrebenta e que espalha cofetis coloridos pelo chão; o uso do megafone como se fosse uma voz estranha. Os universos sonoros por onde nos faz viajar é a feira com cavalos de pau saltitantes, a austeridade kitsch da música clássica, a paródia ao rock e ao rocka billy e à infância através do xilofone, tudo delineado com uma elegância irrepreensível. Carlos Subway que é o mestre de cerimónias do Mono/Stereo assume que: “Já a seguir mais uma estrela de Portalegre o Johnny Luv & os Hate Killers, mas antes mais umas palavras do Gigas”; que coloca a voz sublinhando os graves: “essa força”; “há uma força em mim maior que as intempéries”; “toda a gente vê casas coloridas”, dominadas por uma “impaciência frágil”; “na cave sombria” o nosso corpo é um “bunker certo, a recogitar”; “poema”; “sou um obelisco”; “estéctica”; “liberdade”. Surgem os Johnny Luv & os Hate Killers, que na verdade é a banda de um jovem magro e branco que se senta na cadeira e ergue a guitarra eléctrica e dirige-se directamente para o escasso público: “Boa noite pessoal!”. A relação voz + guitarra eléctrica + caixa de ritmos é de facto ainda muito imberbe, mas há algo de especial nas suas canções que é o absurdo das letras, repetitivas e primárias e consequentemente destituídas de lógica: a primeira versa a sua aversão ao “Sushi”, a segunda “Chic Guitar` vamos ver se corre bem”, a terceira inscreve estilisticamente o rocka billy; antes da quarta há um percalço: “Esqueci-me da letra!”; o público identificou as potencialidades Pop de “Sushi” e clama pela canção; o músico: “Ok! Sushi!”, despe a t-shirt e no peito tem uma cruz tatuada a preto e no pescoço um fio grosso, canta/fala repetitivamente sobre a guitarra não sincronizada com a caixa de ritmos: “Sushi up your ass”. Palmas. Carlos Subway é perentório: “Estamos com mais público”; conclui: “Estamos a roubar público ao Primavera [Sound] e às marchas!”. Reapresenta o “Gigas” que se dispõe a narrar mais um poema sobre o som arábico: “as trevas e a luz” são as sombras que “seguem a minha amante” e no silêncio “sem música silenciosa” surge “o céu azul de nada”; “outra vez”; “céu azul” em derrocada. Alexandre Valinho Gigas muda de poeta “e agora Heiner Müller”, a sua voz é frugalmente agressiva pois tem a língua ferida, “mostra” (agudo), o canibal: “ouvi estalar então os seus dedos”, o teclado emite sons densos e dilacerantes de tão introvertidos, a morte “inolvidável”, eu de “sorriso inolvidável”, ele “não sabe nada”, ignora “o terror” que é “carne quotidiana”, um escravo “da espécie” faz parte de “o terror o seu terror, o nosso terror”, “carne”, merda, “gordura quotidiana, grito da criação”, reflexo, “a indecência da espécie”. O terceiro convidado do Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo é o Bode que corrresponde a um indivíduo denominado de Bode Rice. Este utiliza programações maioritariamente etéreas beliscadas pela guitarra eléctrica, através desta relação constrói canções numa cadência progressiva com inúmeras texturas, tudo tão bem executado que os fiordes que erige estão constantemente banhados com sangue de baleias e orcas que se recusaram morrer às mãos dos arpões japónicos. Palmas. Alexandre Valinho Gigas descreve que “ele nunca viveu” e consentaneamente “morreu à procura da causa”; “morreu à procura da causa”; “morreu à procura da causa”; “a causa estava a morrer à procura dele”; um homem seco de esperança pois “nunca deu o seu coração aos seus irmãos” e em vão divaga “por toda a cidade à procura da causa”, a esquizofrenia é alimentada pela “overdose”; “alicerces”; sobre o seu caixão “bandeira para sempre”; “ele morreu à procura da causa”; “morreu a manhã”; o Alexandre Valinho Gigas num falsete que encanta: “morreu cego, surdo e mudo”; impositivamente: “nós aqui somos a causa”. Os quintos convidados são os Subway Riders, a banda do ausente Augusto Subway, Victor Subway e de Calhau Subway liderados pelo mítico Carlos Subway, que tem o dom da palavra: porque “não nos convidam a nós para organizar um Primavera [Sound]?”; ainda por cima: “roubou-nos público!”. Depois do acidente de Johnny Luv & os Hate Killers, os Subway Riders confrontam-se com dois problemas: “não temos teclista” , e “nem baterista, mas temos a Paulinha [Nozzari]”, que enverga um vestido de princesa num conto de fada em que o palácio é um labirinto entre a fantasia e a realidade e assim surge Jackie la Feline pintada por Tim Burton. As canções que apresentam são de uma visceralidade sónica que versa por vezes a cacofonia, ao segundo tema surge Chau Subway que se coloca ao lado de Jackie la Feline a acompanhar o seu ritmo catártico, “AUAUUAUA”. Carlos Subway agradece à “grande Paulinha Nozzari” ou Jackie la Feline (que abandona o palco do Salão Brazil), anuncia que “é a primeira vez que o Chau [Subway] vai tocar sentado” na bateria “num concerto dos Subway Riders”. Antes da quinta canção chama ao palco “o grande Kazuza”; “vai buscar o teu micro”; e é ouvi-los a debitar uma canção rock and billy-- mas desconstruída-- com o Kazuza a vociferar indiscriminadamente a sua voz de vento de Inverno, enquanto investe sobre a multidão numa salutar demência. A sexta canção cita os acordes do clássico “Satisfaction” dos Rolling Stones, Kazuza entoa a letra numa perspectiva de uma criança fechada numa cave onde é violada pelo padre católico. Palmas. Carlos Subway discursa sobre as características únicas do Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo: “Trinta e cinco minutos para cada banda”, com “só um palco, não têm que se perder de palco em palco e não vêem as bandas” todas, algo que sucede no Primavera Sound. Os Subway Riders tocam a última canção que versa um rock psicadélico com direito a solo da bateria de Chau Subway. Por fim, uma dupla denominada de JAE Sessions, constituída por Paulo Travassos na bateria e por Zé Djalo na guitarra eléctrica, a relação que estabelecem tem duas vertentes centrais: a dinâmica e a melodia, neste composto percorrem diversos géneros musicais, mas uns resultam simples e consequentemente previsíveis, outros complexos e por vezes imprevisíveis, executado segundo critérios que deveriam estar diluídos nas suas composições e dessa forma encontrariam a emancipação.
A tarde está abrasiva na baixa de Coimbra, no palco do Salão Brazil encontra-se o infatigável Carlos Subway, que expressa o seu descontentamento para com o escasso público no Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo: “Ontem fomos roubados pelo pessoal do Primavera [Sound]”; mas uma estrela, que se estivesse no céu seria gigantesca, salvou a noite de ontem: “O Kazuza esteve em grande”. Anuncia o poeta/diseur: “Gigas e eu vou manipular o piano” de cauda, a toada que implementa é da música contemporânea, Alexandre Valinho Gigas toma a palavra, quem “inventou a civilização”? “Foste a resposta, o equilíbrio entre as duas”, o Ícaro pegou numa “pedra e matou-o”, assim “tinha inventado uma arma”. O primeiro convidado da tarde é o Drunk Dancer que tem uma t-shirt psicadélica, que apresenta um conjunto de canções que têm por base um groove dançante, as melodias que reproduz são cativantes mas têm três problemas: não têm uma estrutura definida algo que inscreve alguma monotonia, são melodicamente muito similares umas às outras e esta homogeneidade é de facto redundante; para além das vocalizações em inglês serem de tal forma desgarradas que não acrescentam qualidade Pop às canções. Segundo Carlos Subway: “foi o mítico Drunk Dancer” e “agora são “os Vaginas Convulsivas”; “antes de mais, anda para aí um boato que os Vaginas Convulsivas andam a roubar as músicas aos Subway Riders, é verdade”, faz eco da sua contínua ironia: “Os Subway Riders têm que roubar as músicas aos Vaginas Convulsivas”. Mas antes, é a vez de Alexandre Valinho Gigas: perturba-o “isto de facalhões e palavras”, assim como “o inominável”; e as “cores salientes”; “de todas as cores”; ah “isto da solidão acompanhada” é uma merda, “a ironia da história” advém da “impermeabilidade ao toque”. Icáro pretende alcançar “o sol dos dias da minha aventura”. Carlos Subway toma o seu lugar no centro do palco ao lado de Calhau Subway e Chau Subway, diz que a primeira música é um: “original que os Subway Riders nos roubaram”; é o espelho de todas as que irão tocar: uma excelente decomposição de géneros adjacentes ao rock e nessa medida fazem parte da new wave nova iorquina da década de setenta do século passado, devidamente representadas por letras absurdas. Entra em cena Alexandre Valinho Gigas: vamos “alucinar com o Rimbaud”: “a virgem doida”; “que vida”; “neste momento”; “delírios nem torturas”; “sofro grito” como um golfinho que vem à superfície respirar, “tudo é permitido”; e a frustração perante a chegada da velhice: “desperdicei corações”. A voz de Alexandre Valinho Gigas é a de um torturador a impedir a sua vítima de adormecer dia após dia, eu sou “aquele que perdeu as virgens doidas” numa madrugada de céu turbulento sobre um mar encapelado, fundem-se raios selvagens que acendem uma vela minúscula no horizonte encoberta pelas nuvens cinzentas. “Um pouco de ar” para que o corpo inconsciente se sinta vivo pela última vez, “misteriosas”, surge a voz de uma “querida” que é o representante do “demónio” que determina: “Anda cortar-me o pescoço”. Empunha a espada e reflecte sobre a mortalidade: “todas estas coisas por onde tens passado”; “olhos”; “anda para bem longe” onde “o mar está por inventar”; a declaração que ele é o Diabo em carne e osso: “sou de raça remota”, a voz ganha uma violência desmedida: “ferveram as costelas, bebi o próprio sangue”; “vereis que morri”? Carlos Subway constata: “Está calor!”; apresenta: “G.G Ramone do Porto”. O seu espectáculo tem por base canções pré-gravadas dos originais dos Ramones mas executadas por três dos seus membros, já que G.G Ramone mimetiza (ao vivo) na perfeição a guitarra eléctrica semi-distorcida de Johnny Ramone, numa análise racional parece uma proposta absurda, mas a sua postura séria e concentrada obriga a fixar o olhar sobre este homem com um boné azul com a inscrição N.Y a esconder a falta de cabelo, se não fosse a barba esbranquiçada julgaríamos que estaríamos perante um adolescente egocêntrico. Os três Ramones poderiam surgir consubstanciados em hologramas e estaríamos perante um espectáculo arrebatador. Se estivesse ao meu lado Andy Warhol diria que se poderia “equivaler a um ready made sonoro”, que estaria na disposição de filmar G.G Ramone na Factory e dessa forma “elevá-lo à obra de arte”. A poesia ouve-se da voz do incansável Alexandre Valinho Gigas: “vou ser apedrejado pelos mares”; “vou ser um asteróide”; “ó noite”; há vazio no “espaço”; “ligeiro e impalpável”; “majestática dignidade do silêncio”; “dos seres que se devoram”; inevitavelmente ocupado por “criaturas que rastejam” na noite, “ó noite”, “tudo constróis”; naturalmente: “em seu abandono”, com ondas de “sangue derramado sobre o mundo”; “ó noite”; “via láctea” que nos ensombra, “sombra”; “grande noite” denso arvoredo de almas a flutuar “outra vez”; “nunca houve noite”; “definitivamente aliás”. Carlos Subway sublinha que foi: “mais uma fantástica apresentação do Gigas!”, anuncia que os “Subway Riders decidiram ligar a um promotora e criar um festival”, que se supõe que será a segunda edição do Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo: “Para o ano há quatro dias de festival” com “bandas mais fora”; “pessoas amigas” e por fim remata: “Divirtam-se com os Mokes”; um quarteto composto por uma guitarra eléctrica, uma segunda guitarra e voz, baixo eléctrico e bateria. As canções que apresentam têm uma base predominante Pop, algumas das quais pecam por apresentarem soluções que redundam em clichés, mas o interessante é a distorção que contra balança positivamente e lhes oferece uma textura rock que controlam profissionalmente. Carlos Subway assume pela última vez o papel de representante do festival: “A última banda são os Carne Pa Canhão” para “o ano cá vos espero se não forem ao Primavera [Sound]!”. Os Carne Pa Canhão são um quarteto: guitarra e baixo, voz e bateria e as suas canções versam o punk, com uma dose de distorção elevada e as dinâmicas que implementam são vibrantes e deveras agressivas sem que resvalem na redundância. Os quatro músicos estão pintados e vestidos de guerreiros Apocalipse, usam um adereço que é uma caixa/TV atrás da qual canta o Comando, a sua voz deflagra em ordens diversas, a principal é que os alienados e os funcionais são todos: “Carne para canhão”.
Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo, 6 e 7 de Junho, Salão Brazil @ Coimbra
A tarde está abrasiva na baixa de Coimbra, no palco do Salão Brazil encontra-se o infatigável Carlos Subway, que expressa o seu descontentamento para com o escasso público no Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo: “Ontem fomos roubados pelo pessoal do Primavera [Sound]”; mas uma estrela, que se estivesse no céu seria gigantesca, salvou a noite de ontem: “O Kazuza esteve em grande”. Anuncia o poeta/diseur: “Gigas e eu vou manipular o piano” de cauda, a toada que implementa é da música contemporânea, Alexandre Valinho Gigas toma a palavra, quem “inventou a civilização”? “Foste a resposta, o equilíbrio entre as duas”, o Ícaro pegou numa “pedra e matou-o”, assim “tinha inventado uma arma”. O primeiro convidado da tarde é o Drunk Dancer que tem uma t-shirt psicadélica, que apresenta um conjunto de canções que têm por base um groove dançante, as melodias que reproduz são cativantes mas têm três problemas: não têm uma estrutura definida algo que inscreve alguma monotonia, são melodicamente muito similares umas às outras e esta homogeneidade é de facto redundante; para além das vocalizações em inglês serem de tal forma desgarradas que não acrescentam qualidade Pop às canções. Segundo Carlos Subway: “foi o mítico Drunk Dancer” e “agora são “os Vaginas Convulsivas”; “antes de mais, anda para aí um boato que os Vaginas Convulsivas andam a roubar as músicas aos Subway Riders, é verdade”, faz eco da sua contínua ironia: “Os Subway Riders têm que roubar as músicas aos Vaginas Convulsivas”. Mas antes, é a vez de Alexandre Valinho Gigas: perturba-o “isto de facalhões e palavras”, assim como “o inominável”; e as “cores salientes”; “de todas as cores”; ah “isto da solidão acompanhada” é uma merda, “a ironia da história” advém da “impermeabilidade ao toque”. Icáro pretende alcançar “o sol dos dias da minha aventura”. Carlos Subway toma o seu lugar no centro do palco ao lado de Calhau Subway e Chau Subway, diz que a primeira música é um: “original que os Subway Riders nos roubaram”; é o espelho de todas as que irão tocar: uma excelente decomposição de géneros adjacentes ao rock e nessa medida fazem parte da new wave nova iorquina da década de setenta do século passado, devidamente representadas por letras absurdas. Entra em cena Alexandre Valinho Gigas: vamos “alucinar com o Rimbaud”: “a virgem doida”; “que vida”; “neste momento”; “delírios nem torturas”; “sofro grito” como um golfinho que vem à superfície respirar, “tudo é permitido”; e a frustração perante a chegada da velhice: “desperdicei corações”. A voz de Alexandre Valinho Gigas é a de um torturador a impedir a sua vítima de adormecer dia após dia, eu sou “aquele que perdeu as virgens doidas” numa madrugada de céu turbulento sobre um mar encapelado, fundem-se raios selvagens que acendem uma vela minúscula no horizonte encoberta pelas nuvens cinzentas. “Um pouco de ar” para que o corpo inconsciente se sinta vivo pela última vez, “misteriosas”, surge a voz de uma “querida” que é o representante do “demónio” que determina: “Anda cortar-me o pescoço”. Empunha a espada e reflecte sobre a mortalidade: “todas estas coisas por onde tens passado”; “olhos”; “anda para bem longe” onde “o mar está por inventar”; a declaração que ele é o Diabo em carne e osso: “sou de raça remota”, a voz ganha uma violência desmedida: “ferveram as costelas, bebi o próprio sangue”; “vereis que morri”? Carlos Subway constata: “Está calor!”; apresenta: “G.G Ramone do Porto”. O seu espectáculo tem por base canções pré-gravadas dos originais dos Ramones mas executadas por três dos seus membros, já que G.G Ramone mimetiza (ao vivo) na perfeição a guitarra eléctrica semi-distorcida de Johnny Ramone, numa análise racional parece uma proposta absurda, mas a sua postura séria e concentrada obriga a fixar o olhar sobre este homem com um boné azul com a inscrição N.Y a esconder a falta de cabelo, se não fosse a barba esbranquiçada julgaríamos que estaríamos perante um adolescente egocêntrico. Os três Ramones poderiam surgir consubstanciados em hologramas e estaríamos perante um espectáculo arrebatador. Se estivesse ao meu lado Andy Warhol diria que se poderia “equivaler a um ready made sonoro”, que estaria na disposição de filmar G.G Ramone na Factory e dessa forma “elevá-lo à obra de arte”. A poesia ouve-se da voz do incansável Alexandre Valinho Gigas: “vou ser apedrejado pelos mares”; “vou ser um asteróide”; “ó noite”; há vazio no “espaço”; “ligeiro e impalpável”; “majestática dignidade do silêncio”; “dos seres que se devoram”; inevitavelmente ocupado por “criaturas que rastejam” na noite, “ó noite”, “tudo constróis”; naturalmente: “em seu abandono”, com ondas de “sangue derramado sobre o mundo”; “ó noite”; “via láctea” que nos ensombra, “sombra”; “grande noite” denso arvoredo de almas a flutuar “outra vez”; “nunca houve noite”; “definitivamente aliás”. Carlos Subway sublinha que foi: “mais uma fantástica apresentação do Gigas!”, anuncia que os “Subway Riders decidiram ligar a um promotora e criar um festival”, que se supõe que será a segunda edição do Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo: “Para o ano há quatro dias de festival” com “bandas mais fora”; “pessoas amigas” e por fim remata: “Divirtam-se com os Mokes”; um quarteto composto por uma guitarra eléctrica, uma segunda guitarra e voz, baixo eléctrico e bateria. As canções que apresentam têm uma base predominante Pop, algumas das quais pecam por apresentarem soluções que redundam em clichés, mas o interessante é a distorção que contra balança positivamente e lhes oferece uma textura rock que controlam profissionalmente. Carlos Subway assume pela última vez o papel de representante do festival: “A última banda são os Carne Pa Canhão” para “o ano cá vos espero se não forem ao Primavera [Sound]!”. Os Carne Pa Canhão são um quarteto: guitarra e baixo, voz e bateria e as suas canções versam o punk, com uma dose de distorção elevada e as dinâmicas que implementam são vibrantes e deveras agressivas sem que resvalem na redundância. Os quatro músicos estão pintados e vestidos de guerreiros Apocalipse, usam um adereço que é uma caixa/TV atrás da qual canta o Comando, a sua voz deflagra em ordens diversas, a principal é que os alienados e os funcionais são todos: “Carne para canhão”.
Mono/Stereo—O Maior Pequeno Festival do Mundo, 6 e 7 de Junho, Salão Brazil @ Coimbra
segunda-feira, 8 de junho de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
Just Kids
O Parque da cidade do Porto acolhe a quarta edição do festival NOS Primavera Sound em que se inclui Patti Smith a musa de Robert Marplethorpe, testemunha ocular de uma Nova Iorque da década de 60 do século XX que fervilhava em criatividade e em luxuria. A poetisa americana surge da esquerda do palco acompanhada por quatro músicos: o homem da guitarra eléctrica de cabeleira comprida e esbranquiçada tal como a da Patti Smith, um outro ostenta o baixo eléctrico e outros dois que sentam-se respectivamente nos bancos do teclado e da bateria. O sol ilumina gloriosamente o palco e o vento expira a maresia de um mar que não se encontra encarapelado, Patti Smith coloca no seu rosto ossudo uns óculos escuros para se proteger da luminosidade primaveril; a banda prepara-se para dar início a “Gloria: In Excelsis Deo”, o primeiro tema do álbum “Horses” (1975) que vêm ao Porto apresentar na íntegra. Patti Smith cumprimenta alegremente a multidão: “Hello everybody!”; “olá!”. Sobre o piano lento de “Gloria: In Excelsis Deo”, Patti Smith canta como se estivesse a incendiar uma floresta de enganos: “Jesus died for somebody's sins but not mine”, o piano continua a impor a melodia amordaçada pela alegria, “They belong to me, me”, o compasso do bombo encaixa-se no piano e sublinha: “me”; “I walk in a room, you know I look so proud”; aparentemente Patti Smith não vê o seu reflexo no espelho do quarto de banho do Chelsea Hotel: “She looks so fine”; o ritmo acelera-se e a canção ganha densidade emocional, ferida aberta pela voz angustiante de Patti Smith: “Walking down the street”; “here she comes”; coro: “OOOO”. “She looks so fine”. Há um recrudescer do ritmo e consequentemente as cores rubras dos acordes de “Gloria: In Excelsis Deo” ganham um dramatismo Pop que é sublinhado pelo coro: “OOOO”, resposta da diva, “I'm gonna make her mine”, repete angustiantemente: “She told me her name”; “AIAIAI”. Patti Smith dança enquanto os músicos transcrevem a Pop para a transgressão Rock, antes do fim do verso: “And her name is, and her name is, and her name is, and her name is G-L-O-R-I-A”, o público grita libertariamente: “Glória”; e os dois cantos imiscuem-se livremente: “G-L-O-R-I-A”; público: “Gloria”; Patti Smith: “G-L-O-R-I-A”; coro: “Gloria”; Patti Smith: “G-L-O-R-I-A”. Patti Smith junta os braços ao seu tronco, que veste um blazer preto, a agradecer ao: “Porto”. Antes da segunda canção da tarde, "Redondo Beach", gera-se a primeira ovação da tarde; a toada espaçada do piano e da guitarra eléctrica revelam um ritmo reggae, o groove Pop é fornecido pela bateria acompanhado por um baixo eléctrico encorpado. “Late afternoon, dreaming hotel”; e sobre os acordes alegres canta: “I was looking for you, are you gone gone?”; o break da bateria não retira “Redondo Beach” do seu ritmo lento, “Well, you never returned, oh you know what I mean”; a bateria sublinha a Pop e a guitarra domina a toada reggae e sobre este composto dança a poesia de Patti Smith: “On Redondo Beach and everyone is so sad”. A guitarra eléctrica suporta melodicamente o verso entre da angustia relacionada com a rotina: “are you gone gone?”; “gone, gone”. “preaty litle girl”; “she was the victim of sweet suicide”. O ritmo Pop joga às escondidas com o reggae como se fossem duas máscaras sobrepostas que aparecem e desaparecem intercaladamente--- “you”, coro: “UUUU”; “I was looking for you”; e eventualmente: “Desk Clerk told me girl was washed up”, “are you gone, gone”?; coro: “UUUU”-- que oferece à canção um estado de espírito arrepiante; “Went to my room, started to cry”, “for you”, e sobre a melodia Pop reggae: “Gone gone, gone gone, good-bye”. Ouvem-se gritos e os braços ao alto da multidão que agradecem à cantora norte americana a bênção da sua presença alegre e comunicativa. Antes da terceira canção, Patti Smith mune-se de uma folha de papel branca onde consta a letra de “Birdland”; o piano insere umas notas corridas mas lentas, a sua voz canta/fala e narra: “His father died and left him a little farm in New England”; do piano surgem notas que são tocadas de forma decrescente/inversa aos tocados inicialmente criando um dramatismo pejado de suspense, “because when he looked up they started to slip”; o baixo, a guitarra eléctrica e com a anuência da bateria revelam uma consistência Pop mas mantém-se subjugados sentimentalmente à dor preguiçosa do piano, “because he was not human, he was not human”; num sponken word frio e dilacerante observa: “And then the little boy's face lit up with such naked joy”; insurge-se um crescendo que gradualmente transcreve na melodia Pop melancólica, “No, daddy, don't leave me here alone”, e o prog-rock é inscrito e dessa forma acrescenta uma agressividade que se imiscui inscientemente no consciente, “Pushing it all out like latex cartoon, am I all alone in this generation?”; uma perspectiva sobre a alienação que domina a população globalizada: “We'll just be dreaming of animation night and day”. “Birdland” continua dominada pelo rock com laivos incisivos de prog, “The son, the sign, the cross”, a canção ganha uma suavidade Pop que acompanha a repetição do termo: “up, up, up, up, up, up”, Patti Smith levanta o braço direito e com o indicador aponta para: “up”. Por fim, o quarteto de instrumentistas revelam um blues/lento mas estranho por ter origem na miscigenação entre a Pop e o Rock (prog), “And where there were eyes were just two white opals, two white opals”, coloca as mãos sobre os olhos como se desconhece-se a sua própria narrativa, “Up up up up up up”, o público acompanha a sua gestualidade e entoa a letra que é rap, “Sha da do wop, da shaman do way, sha da do wop, da shaman do way”, “birdland”. Em “Free Money” é inicialmente o piano que intervém lentamente como se estivesse a retirar pétalas de um girassol: “Every night before I go to sleep”; “Find a ticket, win a lottery”, a lullaby encantada é levemente imposta pelas notas doces do piano, após o canto de sereia acutilante sustenido: “Cash them in and buy you all the things you need”, a bateria com a sua cadência bombeada pelos bombos substitui as tonalidades doces e a espaços agrestes do piano e com conivência estilística do baixo e da guitarra eléctrica assumem tonalidades Pop/Rock: Pop porque incorporam dinamicamente os acordes do piano, Rock porque instituem uma agressividade melodia de salutar. “I know they're stolen, but I don't feel bad”. “Oh, baby, it would mean so much to me/ Oh, baby, to buy you all the things you need for free”. Em regime de spoken word Patti Smith refere: “I'll buy you a jet plane, baby”. “And we'll roll, dream, roll, dream, roll, roll, dream, dream”, o coro responde-lhe: “Dreaming”. É a guitarra numa frequência agressiva que domina o composto sónico: “Find a ticket, win a lottery”; o fluxo dominado pela guitarra eléctrica é de uma aspereza dilacerante, coro: “dreaming”. Patti Smith num timbre diáfano do qual desconhecemos o seu género sexual: “Let's dream it, we'll dream it for free, free money/Free money, free money, free money, Free money, free money, free money, free”-- canto de uma ideologia utopica inscrita numa poetica Rock and Roll. Ovação. A quinta canção “Kimberly”, consta segundo Patti Smith no “Side B” do álbum “Horses”; quem sobressai do quarteto de músicos é a bateria num ritmo dois por dois, mas é o piano e a guitarra quem desenham a melodia Pop com alguns laivos perenes de reggae, “the sky will split/And the planets will shift”, o break da bateria encaixa-se na melodia Pop-- “the sky is falling, I don't mind, I don't mind”, “OOOO”-- que é hiperbolizada pela guitarra eléctrica, “Oh baby, I remember when you were born/ It was dawn and the storm settled in my belly”; “And I lit a match and the void went flash”; “Balls of jade dropped and existence stopped, stopped, stop, stop”. A bateria executa novamente um break que apenas serve para incutir a “Kimberly” um repente que a faz baloiçar numa ténue represa Pop, “I was going crazy, so crazy I knew I could break through with you”, sublinhada pelo trinar eléctrico da guitarra eléctrica: “fire on a mental plane”; a represa liberta a contenção rítmica e o rock domina, “The palm trees fall into the sea”; “As long as you're safe, Kimberly”; “OOO”. Patti Smith dança e empunha o microfone para os seus lábios húmidos: “Kimberly”, “OOOO”. Quanto a “Break it Up” Patti Smith é taxativa: “This song was written in loving memory of Jim Morrison”. O piano assume uma cadência lenta, “Car stopped in a clearing”, a bateria introduz um ritmo dormente, “I saw the boy break out of his skin”. Coro: “Break it”; as harmonias da guitarra eléctrica enunciam uma primavera tingida de cores outonais, “Break it up, don't talk to me that way”, o seu solo agudo é descrito como se fosse um raio resultante da reunião de duas nuvens antagónicas, “I could hear the angel calling”; após a repetida intromissão da guitarra eléctrica sobre o baixo e a bateria que suportam o coro: “Break it up”, Patti Smith relata suavemente: “Break it up, oh, I want to feel you”. A tragédia surge aos nossos olhos secos de esperança: “The boy disappeared”, a guitarra eléctrica revela-se como se fosse uma alma incandescente a aceder a um céu que nunca se realizou em qualquer pôr-do-sol-- a cadência mantém-se funebremente Pop-- Patti Smith clama: “I cried, ´Take me please!`". Coro: “Breaking up”; a guitarra eléctrica realiza um solo épico que congrega uma dor tão excessiva quanto real. Palmas. A penúltima canção que consta em “Horses” é "Land: Horses / Land of a Thousand Dances / La Mer(de)". O primeiro momento é dominado pela guitarra eléctrica que discorre através de uma semi-distorção em delay: “The boy was in the hallway drinking a glass of tea/From the other end of the hallway a rhythm was generating”, “coming”. Patti discursa assertivamente que somos vítimas de “governments! Corporations!”; “Corruption in the world”, o público pronuncia-se em uníssono e responder-lhe como se Patti Smith fosse a líder de um partido constituído por activistas do Rock and Roll. A guitarra continua a dominar, mas num ritmo crispado, “Johnny”; “The boy disappeared, Johnny fell on his knees”, palmas, a solidão é-lhe delirante de tão doentia: “started crashing his head against the locker”. Quando Patti Smith canta, “horses”, há a marcação do bombo que é o alicerce a partir do qual o piano, guitarra e o baixo eléctrico descrevem um conjunto de acordes puramente rock e este é revertido para uma cadência mais lenta, violentada pela frequência agonizantemente da guitarra eléctrica (wah wah com delay), “Roll down on her back, got to lose control, got to lose control”, ovação, a canção ganha uma embriaguez imposta pela bicefalia Pop/Rock, “fucking games”; “Life is filled with holes, Johnny's laying there, his sperm coffin”; quando informa que Johnny está “dancing in Porto”, recebe um sonoro e pronunciado espanto, estupefactos por fazerem parte da narrativa trágica sobre Johnny. O piano reincide os acordes Pop de “Gloria: In Excelsis Deo”, a multidão delira e canta: “Gloria”. Patti Smith pronuncia-se tragicamente livre: “Jesus died for somebody's sins but not mine”, as palmas estalam como o chicote aplicado sobre o dorso branco de Jesus da Nazaré, o público delira, “glória”, hipnotizados por uma estranha beleza épica Pop, “G-l-or-i-a”. “G-l-o-r-i-a”, palmas e por fim uma violenta ovação: “Thank you!”. "Elegie" é a “last song from ´Horses`” e descreve-a como: “is a little song”, dedica-a: “in loving memory of Jimi Hendrix”; “and to all the people I love”, “to all of them”. O músico da bateria passa a ostentar uma guitarra eléctrica que se soma à pré-existente e ao baixo eléctrico. O piano introduz uma melodia de uma valsa tão suave quanto esotérica, com a pontuação de uma das guitarras que a sublinha delicadamente e o baixo confere-lhe um andamento longitudinal, a sua voz é um canto profundamente expressivo, “I just don't know what to do tonight”, as guitarras revelam-se poeticamente como se fossem violinos introvertidos. “There must be something I can dream tonight”; “All the fire is frozen yet still I have the will”, “UUUU”, uma das guitarras sobressai num crivo Blues mas sem redundar no cliché, Patti Smith em regime de spoken word: “Trumpets, violins”; “but I think it's sad, it's much too bad/That our friends can't be with us today”. Enumera diversas figuras míticas da cultura Rock and Roll: “Lou Reed”, palmas, “Joe Strummer”, palmas, “Sid Vicious”, palmas, “Fred Sonic Smith”, palmas; novamente lamenta: “That our friends can't be with us today”. Patti Smith e a sua banda dão por encerrado o capítulo das canções que compõe “Horses”. “Because the Night” é o primeiro bónus da tarde e tem um inicio dominado pelo piano, “Take me now baby here as I am”; “Desire is hunger is the fire I breathe”; a angustia melancólica trasveste-se de uma alegria Pop imposta pelo break da bateria com devida parcimónia dos restantes instrumentistas, “Come on now try and understand”; “Take my hand come undercover”; numa festividade Pop que encontra reflexo numa multidão enfeitiçada por Patti Smith, quando canta o refrão: “Because the night belongs to lovers/ Because the night belongs to lust/ Because the night belongs to lovers/ Because the night belongs to us”; coro: “Because the night belongs to lovers/ Because the night belongs to us”, deflagra uma histeria generalizada que a acompanha irrepreensivelmente; sobrevém o piano e o baixo resumindo pacientemente os seus acordes, “Love is a ring, the telefone”; “Here in our bed until the morning comes”. Patti Smith canta em unisso com o público: “The way I feel under your command”; o recrudescer do ritmo impregna-a de uma urgência inesperada: “feel”; “take my hands”; “Can't touch you now, can't touch you now”; empunha o microfone ao público: “Because the night belongs to lovers/ Because the night belongs to us”. Ovação. “People Have The Power” é dotada de uma melodia Pop com as guitarras eléctricas a revelarem-se rock, Patti Smith dança sobre a sua cadência alegre, “I was dreaming in my dreaming”, ganha uma progressão que mistura a pop com o rock, “And I awakened to the cry”, emancipam-se epicamente quando Patti Smith canta: “And the people have the power”, que é gritado em uníssono pela multidão; o baixo eléctrico ganha supremacia sobre os outros instrumentos que expectantes se secundarizam, “Vengeful aspects became suspect”, o baixo impõe-se como denominador comum imolando os acordes festivos, “And they laid among the stars”; “dust”, ouve-se o solo do baixo a acompanhado por palmas ritmicamente sintonizadas, “cry”. A banda redesenha a melodia pop/rock que extravasa com o refrão cantado pelo coro: “People have the power/People have the power”; “to dream”; a banda encara o público saltitante e encetam um contínuo assalto bíblico à democracia: “People have the power”. Patti Smith não poderia ser mais explícita: “Don`t forget it!”. A última ovação da tarde despede os quatro músicos, Patti Smith junta e ergue as mãos simbolicamente numa exortação de sincera e profunda gratitude.
“Horses”, Patti Smith and Band, NOS Primavera Sound Porto, 5 de Junho@ Porto
“Horses”, Patti Smith and Band, NOS Primavera Sound Porto, 5 de Junho@ Porto
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