quinta-feira, 26 de agosto de 2021
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
John Gabriel Borkman
Bruno Simões desapareceu
em 2016 e foi músico de bandas como Tu Metes Nojo ou Sean Riley & The
Slowriders, julga-se que partiu para um lugar melhor do que Coimbra ou Lisboa
cidade onde se encontrava quando se deu o acaso, não se sabe ao certo quais ou
qual a motivação para deixar órfão uma trupe de amigos que o adoravam e o acarinhavam
assim como uma a mãe e uma irmã, algo terá sido mais forte do que toda essa
força que o levava a compor e a subir a um palco, o mistério envolve a sua
motivação poder-se-á presumir que foi um acto desesperado por uma causa maior
que os amigos e os familiares. Por isso hoje vinte e quatro de Agosto (dia do
seu aniversário) reúnem-se inúmeras almas que o conheceram ou que apenas
furtivamente tiveram essa oportunidade (como foi o meu caso) no Tributo
Acidentalista no Grémio Operário de Coimbra. Paulo Lima é quem toma a palavra
para enaltecer as características do Bruno Simões “que era um verdadeiro
acidentalista”, ou grita para o microfone palavras de ordem que faziam parte da
tribo na qual se inseria o músico, hoje tornado mito porque tem um culto à sua
volta.
O primeiro a subir ao
palco é o To Rui (foi colega do Bruno Simões no Tu Metes Nojo) que com a
guitarra acústica canta de voz continuamente embargada, dedica uma canção à mãe
do Bruno que se encontra na plateia e ainda se atreve a tocar uma versão do
“Bird on the Wire” do Leonard Cohen que “diz muito sobre o Bruno”, pouco ou
nada se compreende de qualquer uma das canções, mas isso não importa porque o
que está em causa é a homenagem a um amigo que merece que o To Rui tenha a
coragem de subir ao palco sozinho e relembra-lo e com toda essa emotividade
realçar o quanto lhe era valiosa essa amizade.
The Grau não chegam a
ser uma banda pop ou rock talvez mais um conjunto de amigos onde pontuou o
Bruno Simões como convidado, as canções são cantadas em português mas num
português muito primário onde a repetição de um termo torna-se o refrão ou o
drama é sublinhado por acordes densos plenos sentimento, com alguma
benevolência poderão ser caracterizados de naive, poderiam ser jovens que
chumbaram na disciplina de português que mais tarde ou mais cedo cairiam na
rede dos bailes da paroquia ou outras festividades populares.
Subway Riders rasgam a lógica do noise ou da
new wave ou do free pop ou outras quaisquer decomposições, energia crua não lhes
falta nem tão pouco loucura-- com os quais o Bruno Simões tocou themerim num Salão
Brazil de lotação esgotada-- será que uma das sua características mais fundas
seria dar-se sem preconceito a músicos de diferentes proveniências sonoras? A
banda continua a tocar o seu compendio de canções demoníacas que tanto é um
jogo de espelhos em relação ao que é bom e deve ser respeitado e o que é mau e
deve ser ignorado, a violência sonora é de uma violência estonteante onde se
encontram os músicos é onde paradoxalmente diferem, foram no total três canções,
a última dedico-a ao Bruno Simões por ser mais brava a mais desvairada a que
enche estádios e encerra clubs cheio de moscas, por não ter sentido e o pouco
que lhe resta é a demência viva e crua como é ou poderá ser uma vida, não a do
Bruno Simões, mas a que surgiu para alguns de nós após o seu desaparecimento.
Tributo Acidentalista,
24 de Agosto, Grémio Operário de Coimbra, Coimbra.
Em memória do Bruno Simões.
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
domingo, 22 de agosto de 2021
Parasites of Heaven
“Os Jardins de Verão”
assim se denomina os concertos que têm sido realizados no grande auditório do Centro
Artes e Espectáculos da Figueira da Foz e os escolhidos para esta noite fria de
Verão foram os a jigsaw e a Rita Redshoes poderá a acrescentar-se que seria uma
dupla improvável porque não há pontos de contacto entre ambos, algo que não
provoca qualquer perturbação ou reticencias, antes pode-se acrescentar que roça
o absurdo.
Os a jigsaw apresentam
o seu repertório que transversalmente é corroído por uma densidade cromática
substancialmente fúnebre a partir da qual brotam inúmeros géneros musicais seja
o country, o rock, americana, delineados de forma tão soberba quanto elegante
sem que haja espaço para qualquer devaneio seja de que ordem for, há concentração
da qual resulta uma sensibilidade que por um lado é frágil por outro lado é
encantatória, e neste quadro ainda há a sublinhar a segurança e a sensualidade
da voz dramática de Tracy Vandal assim
como os solos delicados e subtis do teclado do Sérgio Costa.
Rita Redshoes é uma
mulher que ainda guarda algo na sua imagem de menina traquina-- pois sabe jogar
com essa imagem e joga-la e a seu favor-- e para completar tem as canções pop que
espelham essa menina-mulher de forma simples recorrendo a melodias que têm como
objectivo supremo alegrar o público faze-lo sentir em “casa” assim se refere ao
palco decorado como se fosse uma casa de bonecas; as canções cantadas em inglês
são substancialmente melhores do que as em português, porque não se percebe
exactamente o que canta e porque canta (quais são as motivações da artista)-- há
um outro problema que se prende com o desacerto da secção rítmica com os
teclados/samples e com o isolamento ou deslocamento no enquadramento sonoro da
harpa-- quanto às canções cantadas em
português derivam de um “álbum editado há quase um ano” mas devido à pandemia
foi adiando a sua execução ao vivo, mas durante a feitura do mesmo ocorreu o
milagre da gravidez da Rita Redshoes, que um dia decidiu “que vinha aí uma
Rosa, e não é que veio mesmo” e por isso compôs “Rosa” que se resume a uns
versos a enaltecer a felicidade de ser mãe e a repetir “Rosa” por diversas
vezes numa das quais chega a desafinar….
Os Jardins de Verão
(Rita Redshoes + a jigsaw), 21 de Agosto, Centro Artes e Espectáculos da
Figueira da Foz, Figueira da Foz.
segunda-feira, 2 de agosto de 2021
domingo, 1 de agosto de 2021
Ballet of Lepers
Na galeria das fotografias
amarelecidas algumas exibem vómitos alheios de figuras esqueléticas que se
atiram para o chão com dor no ventre algum veneno tomaram ou algum desejo lhes tenha
corroído o organismo não sabiam se estavam doentes se em êxtase por ejacularem vertiginosamente
sobre os seios da mulata feia velha ou nova um ponto de encontro de forasteiros
e viajantes e encantadores de serpentes ou domesticadores de elefantes ela
aceitava quem se venha por bem mas somente se for pago antes do acto imundo
numa favela ou numa barraca na Jamaica ou noutro bairro qualquer de
arranha-céus de pele vermelha e ossos de madeira e cornos de marfim e água da
chuva e electricidade roubada à EDP haja despacho para salva-los de um
terramoto ou tempestade ou da noite ou do dia esses são cárceres para os que
vivem subjugados à sujidade do vento e à perenidade do presente porque o futuro
e o passado estão fundidos num só como se fossem matéria orgânica que cozinham
para que possam sobreviver e alimentar a bicha-solitária ou solitárias que
vivem alojadas no organismo sem qualquer encargo ou perturbação que parasitam o
interior e revelam um exterior carcomido e que se desmorona em cada dia que
passa elas e eles têm sorrisos de marfim; Ensemble Decadente são um colectivo
que se movimenta no interior da Igreja de São Pedro e o que se ouve são os seus
passos e a respiração funda e alternada que ecoa nas abobadas que transmite
algo que se poderá associar às almas, esta primeira fase é por um lado
angustiante por ser confessional de uma mortalidade atroz por outro é
libertadora porque enuncia a existência e prevalência de algo (por mais ínfimo
que seja) para além da vida; as fases seguintes são substancialmente menos
dolorosas há diálogos inconsequentes, uma das almas dá ordens gestuais (como um
Mestre de Orquestra) e estas reagem e silenciam-se, ou, essa mesma segura um
microfone e processa a sua respiração exorbitando-a para a era digital; haverá
micro momentos como o de uma alma que chora para um outro microfone como se
fosse um rouxinol agastado com uma austera Primavera, há o silêncio o fim do
silêncio e o início de um outro surto sonoro que se ensimesme com o reinar da
rotina; que contrasta com a pobreza que os rodeia e os limita a uma constância
tão decadente quanto imunda mas para eles o que ferve é o calor não são fezes
mas rosas vermelhas o que se canta é a preguiça da cigarra é impossível
oferecer-lhes uma consciência tortuosa ah mas se eles fossem esculpidos como se
fossem de terra e de cinza seriam um mero fruto do escárnio de silêncios
escassos de noites de doenças prolongadas como sentimentos que jamais foram
sentidos pelas pessoas que por estarem vivas parecem que espelham os mortos que
se movimentam normalmente mas na veracidade do seu interior há felicidade mas
uma felicidade tolhida por uma tristeza profunda que iludem com sorrisos e
gargalhadas estão vivos e são como eu e tu como nós meu irmão e irmã se fosse
possível rezar por um mundo melhor onde imperasse a igualdade da felicidade que
deveria ser oferecida de peito para peito aberto onde palpita o coração órgão tão
possante quanto sentimentalmente repleto do mais puro do amor provindo do
coração de Jesus.
Ensemble Decadente são
um colectivo que se movimenta no interior da Igreja de São Pedro e o que se
ouve são os seus passos e a respiração funda e alternada que ecoa nas abobadas
que transmite algo que se poderá associar às almas, esta primeira fase é por um
lado angustiante por ser confessional de uma mortalidade atroz por outro é
libertadora porque enuncia a existência e prevalência de algo (por mais ínfimo
que seja) para além da vida; as fases seguintes são substancialmente menos
dolorosas há diálogos inconsequentes, uma das almas dá ordens gestuais (como um
Mestre de Orquestra) e estas reagem e silenciam-se, ou, essa mesma segura um microfone
e processa a sua respiração exorbitando-a para a era digital; haverá micro
momentos como o de uma alma que chora para um outro microfone como se fosse um
rouxinol agastado com uma austera Primavera, há o silêncio o fim do silêncio e
o início de um outro surto sonoro que se ensimesme com o reinar da rotina.
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