segunda-feira, 27 de setembro de 2021
domingo, 26 de setembro de 2021
Book of Longing
Encontro-me numa fila à
espera de entrar no festival Gliding Barnacles, porém não tenho bilhete apenas
o convite oral de um amigo que está a cumprimentar-me e a dar-me ânimo para que
espere que a questão do bilhete é de somenos, (será?): que me encontro em lista
de espera para entrar num centro recreativo e diversão do long board, porque há
inúmeros rostos conhecidos de edições anteriores e que fazem do festival um
ponto de encontro apesar de estar actualmente agendado no Outono, mas isto
pouco importa aos estrangeiros que andam de chinelos ou às surfistas que exibem
as longas pernas como se estivesse um dia radiante de Agosto, oiço ao longe uma
banda a tocar uma versão dos Nirvana e uma outra dos Rolling Stones: que
infelizmente perderam o Charlie Watts que os acompanhava há quase seis décadas
e estão por estes dias a enfrentar a primeira digressão americana sem ele na
bateria, parece que não há nada que pare os Stones, talvez quando tiverem cem
anos cada um estarão a rockar em holograma e nessa altura até o espírito do Brian
Jones poderá ser reintegrado na banda; e ouve-se Nirvana ou o tiro fatal do
Kurt Cobain, tal foi o embate da bala no meu cérebro que morri mas contrariamente
ao Kurt Cobain ressuscitei, isto é, enterrei o grunge e libertei-me do seu jugo
estético; o que sobrevém das colunas são os Artic Monkeys ou melhor uma banda
que faz covers dos músicos ingleses, e o que aparenta serem originais não são
muito originais porque remetem para a banda do Alex Turner, não deixa de ser
uma boa surpresa encontrar-me sentado num sofá com os amigos e a ouvir uma
banda tão cobiçada, para além de que o que tocam por norma é complexo e estes
rapazes tocam com a mesma ou maior complexidade, os meus parabéns; para
encerrar a noite de sexta-feira alinham os Wipeout Beat que se apresentam segundo
a regra mais simples e por acaso a mais complexa retirar de uns míseros teclados
matéria suficiente para que a multidão entre em delírio e isso passa pela mosh
intensa, há quem se pendure a um barrote no tecto e faça o papel do fã surfista
enlouquecido, mas o delírio é incontrolável assim como a fonética kraut rock
trans pop que incute aos surfistas que estão perante uma onda de tubo perfeito;
mais simples e rápida a minha entrada no segundo dia de festival, mas menos
diversificada a nível de bandas a que se encontra no palco toca António
Variações misturado com originais em inglês, há pouca coesão apesar da
tentativa de anular esse senão algo que é pontualmente conseguido; alguém
acende um misto de cigarro com THC que rodopia de boca em boca sem medo do Covid
que tem condicionado a vida deste país e de tantos outros, sinto-me orgulhoso
com o acto tresloucado dos fumadores que diria que se tivessem um coração tão
benigno que não fosse capaz de infectar com um vírus potencialmente fatal;
parece que é a vez de um tal Narciso que tem maquinaria suficiente para
apresentar num conjunto de instrumentais destituídos de qualquer sentido
estético, que torna o seu desempenho em algo entediante; Victor Torpedo and the
Pop Kids apresentam a sua ementa onde constam pratos partidos pelo punk mas que
nunca é totalmente deixado ao seu livre arbítrio e os Pop Kids seguem o líder
seja quando deambula pelo lo-fi ou se transfere para a dança desalinhada com a
realidade, é determinante que se esclareça que a ambiguidade pop/rock apenas
joga em favor do Victor Torpedo porque questiona o ouvinte sobre a sua
capacidade em se integrar nos diversos e divertidos géneros musicais e nesse
plano é didáctica.
Gliding Barnacles, 24 e 25 de Setembro, Praia do Cabedelo, Figueira da Foz.
terça-feira, 14 de setembro de 2021
segunda-feira, 13 de setembro de 2021
The Favourite Game
A viagem até à Ilha foi
quase um episódio trágico caso não tivesse curvado quando era suposto curvar, estaria
ainda encarcerado no meu carro que é tão velho quanto eu, decerto que tive
sorte e pode-se acrescentar que foi mera suposição da minha parte dada a má
visibilidade apesar do sol raiar e o tempo se aproximar das dezoito, à hora que
estão escalonados os Cariño Muerto (excelente nome) na Ilha de baixo ou de cima
(não sei em qual)-- o que sei é que fica algures no fim desta estrada sinuosa e
verdejante— ; que felizmente surgem atrasados no palco do “Isto não é um
Arraial de Verão”, um festival organizado pelos Arcups também responsáveis pelo
festival “Ti Milha”, quanto à dupla há a destacar as programações com origem no
início da década de oitenta que sintetizam a new wave de Madrid ou de Valência
e esta geografia prende-se com o facto da vocalista cantar em castelhano algo
que oferece um exotismo decadente às canções que são sublinhadas pelos acordes
do guitarrista, é certo que arriscam o inglês e o português mas não são tão
sedutoras, também é verdade que há que ganhar um maior dinamismo conjugado com
uma melhor estruturação das canções, e sobre este casal luso-mexicano não há
mais nada a acrescentar.
Luz Clandestina é a
designação de um trio que tem por missão dizer poesia popular ou de cariz
sentimental-- aparentemente memórias da adolescência já que dois dos seus
membros apresentam uma calvície tão precoce quanto pronunciada-- um dos quais
canta umas cantiguinhas à guitarra acústica, um outro faz apologia do
Salazarismo para pôr “ordem” nos políticos corruptos (palmas do público,
cúmplice nesta idiotice) e a jovem de cabelo avermelhado e de vestido preto é a
que se pronúncia eroticamente sobre alguém que conhece fisicamente à lupa.
Left são dois músicos
um dos quais canta e toca guitarra ao estilo digital r&b e o colega tem os
samples e tudo o resto que é preciso para a recriar esse género, são tão
eficazes quanto profissionais, o problema é que a identidade é similar a outros
produtos norte americanos que pululam nas rádios portuguesas.
10000 Russos são um
trio explosivo dada a mistura entre o stone rock e o psicadelismo que são
complementados com uns teclados decadentes, aliás o centro nevrálgico desta
banda é equilibrar esses dois géneros musicais e recoloca-los na década de
setenta, inflamando-os com texturas diversas tão atraentes quanto repulsivas, e
é neste paradoxo que se estruturam as canções, e há que adicionar uma voz
monótona mas que é fantasmagórica e que os coloca num âmbito estético
simultaneamente ficcional quanto real.
Segundo Dia
Labaq corresponde a uma
loura que canta com o violão amores e desamores num brasileiro doce, que
poderia tocar para além do tempo que lhe está destinado que seria maravilhoso,
somente m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o.
O Rapaz Improvisado
faz-se acompanhar com um contrabaixista e passeiam por uma Lisboa mestiça do
fado vadio ou por exemplo pelo nacional cançonetismo, numa abordagem não de minimização
mas de recorrer a essas memórias e recria-las de forma a oferecer-lhe uma contemporaneidade
retro.
The Miami Flu
(excelente nome) reverberam diversas tonalidades mas a que domina é o funk
psicadélico executado de forma eficaz e que lhes permite arriscar pela soul ou
ainda pelo blues estes géneros são ora compostos ora decompostos de forma
abrasiva e sintética que é difícil exercer a destrinça, supremos nessa
heterogenia mesclada por pontuações kitsch.
Isto Não É Um Arraial de Verão, 11 e 12 de Setembro, Ilha, Pombal.
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