sábado, 22 de março de 2025

Surrender (quarenta canções e uma história)

Gavin Friday apresentou-se na sala 2 do Hard Club no Porto no dia 21 de Março, com um trio de músicos que se dividiam por vários instrumentos como os teclados, baixo, sopros, estes elementos foram fundamentais para oferecer às canções um nível de profundidade assinalável já que os temas primavam por serem construídos através de ritmos dançáveis. Quero com isto afirmar que a sala facilmente se transformava numa pista de dança, mas com ritmos atuais, e letras que versavam sobre o amor assim foi, por exemplo, em “The Church of Love”, ou o afirmar de uma determinada masculinidade em “Ecce Homo” ou “Best Boys in Dublin”.

Na biografia de Bono “Surrender (quarenta canções e uma história)” refere que dos seus amigos de infância um deles era gay; e esse era precisamente Gavin Friday, não deverá ter sido fácil sê-lo na década de setenta numa Irlanda dividida e católica, e nessa altura liderar os Virgin Prunes (dos quais tocou dois temas).

A presença de Gavin Friday preenchia o palco e com a sua voz de tenor oferecia às canções um caracter muito especial, se me permitirem, quase divino. A excentricidade de Gavin Friday liberta os outros dos seus complexos e medos, a sua forma guerreira de se expressar é de confrontação ao outro sobre as implicações que tem em manter a homossexualidade escondida ou encoberta com um manto de medo. É este o fundamento de um alinhamento composto por sucessivas canções que ampliam o desejo de liberdade-- de emancipação de algo que possa estar escondido somente para que o ouvinte se integre facilmente na sociedade.

 Gavin Friday, Ecce Homo, 21 de Março, Sala 2 do Hard Club, Porto.