Gavin Friday
apresentou-se na sala 2 do Hard Club no Porto no dia 21 de Março, com um trio de
músicos que se dividiam por vários instrumentos como os teclados, baixo,
sopros, estes elementos foram fundamentais para oferecer às canções um nível de
profundidade assinalável já que os temas primavam por serem construídos através
de ritmos dançáveis. Quero com isto afirmar que a sala facilmente se
transformava numa pista de dança, mas com ritmos atuais, e letras que versavam
sobre o amor assim foi, por exemplo, em “The Church of Love”, ou o afirmar de
uma determinada masculinidade em “Ecce Homo” ou “Best Boys in Dublin”.
Na biografia de Bono “Surrender
(quarenta canções e uma história)” refere que dos seus amigos de infância um
deles era gay; e esse era precisamente Gavin Friday, não deverá ter sido fácil sê-lo
na década de setenta numa Irlanda dividida e católica, e nessa altura liderar
os Virgin Prunes (dos quais tocou dois temas).
A presença de Gavin Friday preenchia
o palco e com a sua voz de tenor oferecia às canções um caracter muito
especial, se me permitirem, quase divino. A excentricidade de Gavin Friday
liberta os outros dos seus complexos e medos, a sua forma guerreira de se
expressar é de confrontação ao outro sobre as implicações que tem em manter a
homossexualidade escondida ou encoberta com um manto de medo. É este o
fundamento de um alinhamento composto por sucessivas canções que ampliam o
desejo de liberdade-- de emancipação de algo que possa estar escondido somente
para que o ouvinte se integre facilmente na sociedade.