sábado, 20 de setembro de 2008
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Dancing Queen
O Parque da Bela Vista está composto por cores exóticas, as mulheres retiraram a sensualidade do armário, ao exibir decotes generosos, cavaleiras de chapéu de cowboy, muito “Music”. É o mega-concerto da Madonna, cinquenta anos, branca e americana, amiga de Andy Wharhol e de Keith Haring. A artista atrai 70 mil pessoas, a um anfiteatro incapaz de oferecer conforto ou visibilidade adequada para o palco, mas onde resistem três gerações, tias perfumadas e com plásticas envelhecidas, adolescentes, casais de mão dada.O palco é constituído por quatro partes: uma estrutura amovível que se encontra sobre o palco principal, uma passadeira que permite o acesso a um outro palco mais pequeno e circular com elevador, mecanismo também usado nas laterais (do palco principal), para permitir a entrada e a saída dos bailarinos e não perturbar os excelentes músicos que a acompanham. A animação nos ecrãs, induz os portugueses para a biografia musical de Madonna, que surge sentada num trono de estofo preto, com as pernas abertas e uma bengala na mão direita, casaco de cetim negro. Desce os degraus que a conduzem para a boca de cena, os bailarinos despem-na, “dance floor”, “Hello Lisboa!”, ou, a conduzem para dentro de um carro dos anos cinquenta prateado, que circula sobre a passadeira e faz a rotunda da direita para esquerda. Madonna abandona o veículo e empurra-o para a garagem, para cantar “Human Nature”, à guitarra distorcida. Revive “Vogue”, “I `m not your bitch!”, coloca-se na lateral direita e desaparece estaticamente, as palmas bombeiam o Parque. Vídeo projectado nos ecrãs: “Die Another Day”. Transforma “Into the Groove”, num ginásio com adolescentes a brincar na hora do recreio das aulas, predominam os fatos de treino Run-D.M.C, do “into the Groove”, dos anos oitenta. “Borderlaine”, “loose my mind”, é transcrita numa vertente distorcida com a rainha da pop à guitarra, “ladies are you going to fuck with your boyfriends?” Em “She is not Me”, Madonna confronta-se com quatro mulheres, instaladas no exterior do segundo palco, revolta-se com a presença da Madonna-virgem, Madonna-marilyn, Madonna-streaper, Madonna-efémera, “she is not me!”, dança e os carros animados encontram-se num choque frontal e a música pára e as luzes apagam-se. Ouvem-se os coros “last night a Dj save my life”, e Madonna gatinha na passadeira em direcção ao palco principal, ergue-se para cantar “Music”, “boogie, boogie”, pouco antes do fim a cantora-ícone encena um orgasmo, inclinando-se de frente sobre o palco. Vídeo: “Rain”. O ecrã led circular, que ilumina o segundo palco, desce e encobre-o com uma luz aquática, entreabre-se e descobrimos Madonna-romântica sobre um piano negro, slow, “Devil Won`t Recognize you”. O centro de luz ergue-se, a cantora-actriz despe o casaco e a forra do casaco cor-de-rosa cobre o piano, os bailarinos totalmente encobertos com hábito negro, quando os retiram surgem toreros: “obrigado Lisboa? Habla español?”; “besa-me, besa-me mucho, are you having good time? Are you going to sing these song? Do you promise?”, sobre a cantora o ecrã circular emite imagens do terceiro mundo. “La isla Bonita” é irmanada com um grupo de ciganos do leste, que a retalham em “Lela Pala Tute”, um quadro cénico à Zorro. E as imagens dos ecrãs flutuantes emitem Madonna ajoelhada, que ouve “Doli Doli”, e contempla o universo dos explorados. Com o apoio do trio em regime acústico canta, “You Must Love Me”, com imagens de um filme de Hollywood em fundo, é encoberta pelo ecrã led circular, e sai de cena. Vídeo : “Get Stupid”, o voto da “Sticky and Sweet Tour” à campanha de Obama. Os bailarinos colocam paralelamente ecrãs que circulam pelo palco, ouve-se o “tiquetaque” de Timbaland. Madonna dança com Justin Timberlake, que em quatro minutos querem “save the world”, através de um jogo de sedução. “Life is a mistery”, ganha uma ovação colectiva, um dos bailarinos negro encarna Jesus Cristo, o tecno toma partido do ritmo, “feel like home”, dramático, com os ecrãs a arderem. “Ray of Light” à guitarra e cantada sem o apoio das coristas, é uma canção falhada, o erro, desafina e o vento perturba-a. “Do you want to hear a song? How about a old song? Will you sing along? ´Your love is real, Express Your Self”, as palmas acompanham os acordes da guitarra da Madonna, “that`s an extra!”. “Tell me, is these song, is that you are going to sing along? Are you fucking ready?” é a Madonna travesti rodeada dos bailarinos: “time goes by, so slowly”, com sample Abba, “I`m the Queen, the King… Mothefuckers” e as guitarras distorcem, roçadas nos amplificadores a pontuar e rebeldia de uma outsider. Madonna convoca Pharell para cantar “give it to me”, “give me a record and I break it”, “give it to me yeah!”; “give it to me Lisboa, it`s your last chance, give it to me” reina a apoteose, Madonna, despede-se: “Game Over”. “God Save the Queen”.
“Stick and Sweet Tour”, Madonna, Parque da Bela Vista (Lisboa), 14 de Setembro.
“Stick and Sweet Tour”, Madonna, Parque da Bela Vista (Lisboa), 14 de Setembro.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Twin Peaks
1- Estou num não-espaço. Terreno baldio junto a um cemitério, o bilhete para os dois dias do Festival Brenha Arder, é de dez euros e permite conhecer bandas punk-rock, beber Super-Bock, sentar algures sobre o pasto arenoso iluminado pela Lua cheia e acometido por um frio crescente. No primeiro dia, predominou a vanguarda do noise-metal. “Bora lá pessoal somos os M.O.T.U”, a voz distorcida numa língua inexacta, “boa noite caralho! A próxima malha é ´Six Full`”, e, “isto até tem fumo sem ser das ganzas”, o guitarrista da direita: “diz não à heroína”, o baixista tem rastas, o quinteto veste roupas escuras de cabedal.
O Festival começa a ganhar força com o power-trio Freedom, descendentes de um expoente sonoro violento, agressivo, quer no ritmo ou na distorção, o vocalista/guitarrista ainda é adolescente, mas a bateria e o baixo distorcido completam o vértice, perfeito-punk-noise.
Os Motornoise, são do Porto, “não se nota pelo sotaque?”, pergunta o vocalista careca, de estatura baixa, que digladia para segurar o microfone das investidas do público, ele aproveita para beber. O saxofone é devedor de Zorn, mas há partículas de Morphine, “tu aí o que estás a pensar?”, questiona o Frágil. “Esta música é dedicada a todos vocês que não gostam de rezar”, a sua voz ganha uma pausa inesperada, que flutua no ar, a banda marca o ritmo fúnebre, o vocalista de mão direita ao microfone e a outra no ar, as luzes estáticas iluminam-no, durante o espectáculo bebeu de um garrafão, “lá, lá, lá”, e tudo o que criaram através da harmonia, destroem-na numa aceleração distorcida.
O quarteto SubCaos, são rapazes de cabelos compridos, caem à cintura, a tatuagem do guitarrista com a cruz de Cristo no ombro direito, debita solos épicos em canções pungentes, e o vocalista é o elemento que une todos os outros músicos, num efeito de dominó paradoxal.
2-Estou num espaço entaipado, com barracas da Super-Bock, uma mesa de mistura, punks, ex-punks, rockabillys. A afluência à hora do início dos Factor Biótico, é escassa. A cantora, movimenta-se a dançar e canta letras, como: “sou o último punk de Portugal”, sobre estruturas melódicas naïfs. “Arrastados pela lama”, pop-rock que rima com “cama”. “Parecem orelhas gigantes”, a cantora cobre a cabeça com um capucho tricotado, saia comprida e sandálias completam a sua indumentária. O guitarrista, “a Isabel é a primeira mulher [a subir a um palco] no Brenharder!”.
“Não há mulher que não me resista, não há fogo que não arda”, a voz dos Midnight Priest, ora é declamada ou cantada, a primeira parte é composta pelo refrão. Um quinteto corajoso: “Como é que é caralho?”. É frequente subirem ao palco retirarem-lhe a voz, que passa de boca em boca, numa ampla e democratica anarquia. “Esta é para quem gosta de punk/metal, do verdadeiro, quem não gosta, o cemitério é já ali ao lado!”. “Como é que é caralho, é para a facada?”, é a introdução para uma canção dramática, durante a qual ninguém lhe rouba o microfone.
Killer Karma estão no epicentro nu-metal, que foi enterrado nos Estados Unidos, bandas como os Korn já faliram, os Rage Against the Machine, dos quais tocaram uma versão, reuniram-se para os festivais. As chamas próximo da entrada, parecia que estavam a deflagrar nos tapumes, o público foge para o exterior do perímetro do recinto, os Killer Karma desligam-se da corrente. Homens com caixotes de lixo com água, correm sobre a terra árida e apagam a crista luminosa, após gritos de pânico entre os membros da organização.
Os Capitão Fantasma são um foguete de demência, um shot-billy, comandados por um guitarrista talentoso, a lançar os riffs numa cadência incendiária. Do seu lado esquerdo, delira o vocalista, de rosto esguio que se prolonga numa careca cavernosa, os óculos escuros impedem-nos de ver para dentro de Brutos. “O teu sutiã cai no chão, faz-me sentir”, e mete a mão sobre o coração, é um poeta das ruas calcorreadas por Nosferatu: “O que é que é mais doce do que a morte?”. Brutos é favorável aos touros de morte, “vai”, “para te levar”, “esquecer”, “auuuuu” e atira-se para o chão e erguendo as pernas para cima, dobrando-as, como uma morte macabra. Os Capitão Fantasma estão “à margem da lei” com o guitarrista a partir uma corda, “o que fizeste não tem perdão”, socorrendo-se de uma outra viola que se subjuga às necessidades: “Cidade Suja” e Brenha arde. Brutos trepa às colunas e atira-se, “dei-te o meu amor”, “cabra do caralho, vou-te matar! Cabra do caralho, vou-te matar!”, “podes esconder, mas não irás escapar, já matei o teu amante, a seguir vou-te matar!”. Próxima: “Lisboa em Chamas” leva Brutos a cabecear o palco, e o guitarrista a delirar: “tudo à estalada!” Soberbo.
Os Bunnyranch liderados por Kalo (voz/bateria), de calça branca e blazer preto, entra em palco e vem recolher as palmas que não eclodem. São um agrupamento de rock and roll americano, numa aceleração rítmica do blues, para suportar a voz do cantor. Que podia ser um vendedor da Bíblia ou um ex-Tédio Boys. Os interludios são acompanhados por comentários do Kalo: “não precisam responder, já estão todos com uma grande bezana? Eu vou trabalhar para isso quando sair daqui.”. Às primeiras palmas rejeita o público: “é suficiente obrigado!”. “Esta música é dedicada ao Boo Didley e ao Belmiro de Azevedo. Esta música faz parte da campanha da Worten. Estou muito mais rico? Mais rico, meus caros”; “´To fuck to Boogie`, está à venda junto na régie”. A constatação: “eu conheço a maioria das pessoas que estão aqui: o Dr. Vasco, o engenheiro António, o jovem empresário que não vou dizer o nome dele, mas ele sabe…” . “O Verão ainda não acabou, este é um dos nossos primeiros singles. E alguém um dia vai conceber uma criança ao som desta música”. “Can´t stop the ranch, can´t stop the ranch!”. “Nós somos os Bunnyranch, vocês, foram Brenha Arder!”
Festival Brenha Arder, Brenha, Figueira da Foz, 12/13 de Setembro
O Festival começa a ganhar força com o power-trio Freedom, descendentes de um expoente sonoro violento, agressivo, quer no ritmo ou na distorção, o vocalista/guitarrista ainda é adolescente, mas a bateria e o baixo distorcido completam o vértice, perfeito-punk-noise.
Os Motornoise, são do Porto, “não se nota pelo sotaque?”, pergunta o vocalista careca, de estatura baixa, que digladia para segurar o microfone das investidas do público, ele aproveita para beber. O saxofone é devedor de Zorn, mas há partículas de Morphine, “tu aí o que estás a pensar?”, questiona o Frágil. “Esta música é dedicada a todos vocês que não gostam de rezar”, a sua voz ganha uma pausa inesperada, que flutua no ar, a banda marca o ritmo fúnebre, o vocalista de mão direita ao microfone e a outra no ar, as luzes estáticas iluminam-no, durante o espectáculo bebeu de um garrafão, “lá, lá, lá”, e tudo o que criaram através da harmonia, destroem-na numa aceleração distorcida.
O quarteto SubCaos, são rapazes de cabelos compridos, caem à cintura, a tatuagem do guitarrista com a cruz de Cristo no ombro direito, debita solos épicos em canções pungentes, e o vocalista é o elemento que une todos os outros músicos, num efeito de dominó paradoxal.
2-Estou num espaço entaipado, com barracas da Super-Bock, uma mesa de mistura, punks, ex-punks, rockabillys. A afluência à hora do início dos Factor Biótico, é escassa. A cantora, movimenta-se a dançar e canta letras, como: “sou o último punk de Portugal”, sobre estruturas melódicas naïfs. “Arrastados pela lama”, pop-rock que rima com “cama”. “Parecem orelhas gigantes”, a cantora cobre a cabeça com um capucho tricotado, saia comprida e sandálias completam a sua indumentária. O guitarrista, “a Isabel é a primeira mulher [a subir a um palco] no Brenharder!”.
“Não há mulher que não me resista, não há fogo que não arda”, a voz dos Midnight Priest, ora é declamada ou cantada, a primeira parte é composta pelo refrão. Um quinteto corajoso: “Como é que é caralho?”. É frequente subirem ao palco retirarem-lhe a voz, que passa de boca em boca, numa ampla e democratica anarquia. “Esta é para quem gosta de punk/metal, do verdadeiro, quem não gosta, o cemitério é já ali ao lado!”. “Como é que é caralho, é para a facada?”, é a introdução para uma canção dramática, durante a qual ninguém lhe rouba o microfone.
Killer Karma estão no epicentro nu-metal, que foi enterrado nos Estados Unidos, bandas como os Korn já faliram, os Rage Against the Machine, dos quais tocaram uma versão, reuniram-se para os festivais. As chamas próximo da entrada, parecia que estavam a deflagrar nos tapumes, o público foge para o exterior do perímetro do recinto, os Killer Karma desligam-se da corrente. Homens com caixotes de lixo com água, correm sobre a terra árida e apagam a crista luminosa, após gritos de pânico entre os membros da organização.
Os Capitão Fantasma são um foguete de demência, um shot-billy, comandados por um guitarrista talentoso, a lançar os riffs numa cadência incendiária. Do seu lado esquerdo, delira o vocalista, de rosto esguio que se prolonga numa careca cavernosa, os óculos escuros impedem-nos de ver para dentro de Brutos. “O teu sutiã cai no chão, faz-me sentir”, e mete a mão sobre o coração, é um poeta das ruas calcorreadas por Nosferatu: “O que é que é mais doce do que a morte?”. Brutos é favorável aos touros de morte, “vai”, “para te levar”, “esquecer”, “auuuuu” e atira-se para o chão e erguendo as pernas para cima, dobrando-as, como uma morte macabra. Os Capitão Fantasma estão “à margem da lei” com o guitarrista a partir uma corda, “o que fizeste não tem perdão”, socorrendo-se de uma outra viola que se subjuga às necessidades: “Cidade Suja” e Brenha arde. Brutos trepa às colunas e atira-se, “dei-te o meu amor”, “cabra do caralho, vou-te matar! Cabra do caralho, vou-te matar!”, “podes esconder, mas não irás escapar, já matei o teu amante, a seguir vou-te matar!”. Próxima: “Lisboa em Chamas” leva Brutos a cabecear o palco, e o guitarrista a delirar: “tudo à estalada!” Soberbo.
Os Bunnyranch liderados por Kalo (voz/bateria), de calça branca e blazer preto, entra em palco e vem recolher as palmas que não eclodem. São um agrupamento de rock and roll americano, numa aceleração rítmica do blues, para suportar a voz do cantor. Que podia ser um vendedor da Bíblia ou um ex-Tédio Boys. Os interludios são acompanhados por comentários do Kalo: “não precisam responder, já estão todos com uma grande bezana? Eu vou trabalhar para isso quando sair daqui.”. Às primeiras palmas rejeita o público: “é suficiente obrigado!”. “Esta música é dedicada ao Boo Didley e ao Belmiro de Azevedo. Esta música faz parte da campanha da Worten. Estou muito mais rico? Mais rico, meus caros”; “´To fuck to Boogie`, está à venda junto na régie”. A constatação: “eu conheço a maioria das pessoas que estão aqui: o Dr. Vasco, o engenheiro António, o jovem empresário que não vou dizer o nome dele, mas ele sabe…” . “O Verão ainda não acabou, este é um dos nossos primeiros singles. E alguém um dia vai conceber uma criança ao som desta música”. “Can´t stop the ranch, can´t stop the ranch!”. “Nós somos os Bunnyranch, vocês, foram Brenha Arder!”
Festival Brenha Arder, Brenha, Figueira da Foz, 12/13 de Setembro
domingo, 14 de setembro de 2008
sábado, 13 de setembro de 2008
Manoel de Oliveira
É uma overdose, será o termo mais adequado? A displicência é algo que se acomoda lentamente com o passar dos anos? Pouco importa. O Museu Serralves está consignado à penumbra, a razão desta iluminação prende-se ao cineasta Manoel de Oliveira. Os comissários desta exposição foram o Presidente da Cinemateca Portuguesa, João Bernard da Costa e João Fernandes, director artístico da Fundação.
Numa das salas principais encontra-se uma máquina de projecção onde roda um filme de 57 milímetros “O Homem da Câmara de Filmar” , obra que influenciou o realizador no início da sua carreira. O filme é de Dziga Vertov, é-nos permitido conhecer a máquina usada na sala de montagem pelo realizador.
De seguida, metade do Museu rende homenagem ao mais ancestral dos realizadores, as paredes são usadas para projectar filmes como: “Douro, Faina Fluvial”; “Acto da Primavera”; “Benilde ou a Virgem Mãe”.
Instalaram cubículos de madeira onde é permitido sentar e ver com mais exactidão os filmes do Mestre, usufruir do tempo e senti-lo, subjugar o ritmo do Porto, à pulsação de capítulos da história do cinema. Seja a sua relação com o documentário, pintura, a censura da Pide aos guiões, e à sua relação com o teatro e a literatura como é o caso, “O Passado e O Presente” de 1971.
Toda esta dinâmica de ecrãs suspensos, telas que são paredes, fotografias, cartazes, imprensa, argumentos manuscritos, confissões à João Bernard da Costa e a Agustina Bessa-Luís; é abrasador, violento, desconcertante, perpetua e enaltece uma memória fílmica que deveria constar dos manuais escolares, celebrado anualmente e elevado a feriado. Viva o Mestre! Viva Manoel de Oliveira!
Manoel de Oliveira, patente de 13 de Julho-2 de Novembro
“Todas as Histórias” ocupa a sala inferior de Serralves onde há salas escuras, através de headphones ouvimos as vozes dos actores. Dos ecrãs podemos ver um filme de dois ângulos diferentes em simultâneo, e, a rotação da câmara sobre um casal pintado a sépia, o vídeo também é usado como suporte em “Rua Islam”. Obras assinadas por Tacita Dean, Marcel Broodthaers, Michael Snow, Cristian Boztanski, Francesco Vezzoli, João Onofre. Desta forma o espectador pode visualizar a vanguarda do documentário, ou, da falsa ficção, da repetição de um plano, a frase e o rosto perturbado de uma actriz que está preparada para o seu close-up.
“Todas as Histórias”, patente de 26 Julho-02 Novembro
O sul-africano David Coldblatt apresenta fotografias de media dimensão coladas directamente na parede. São retratos essencialmente do passado, e do presente. Vemos rostos negros, cemitérios, crianças descalças, olhos com hematomas, sinais de trânsito que discriminam os pretos/negros que eram escravizados por uma minoria africânderes. Que impedia a comunidade negra de circular em artérias “brancas”, o casamento entre ambos era proibido, o olhar, a crítica sobre um branco era ameaçado de prisão e violentado à queima-roupa. O Apartheid manteve cativo Nelson Mandela, condenado a prisão perpétua, por somente exigir a igualdade racial. As fotografias são testemunho do princípio e do fim de uma segregação que acabou em 1987, apenas há 21 anos. É emotivo ser testemunha desta tragédia, deste apocalipse racial, que vitimou gerações de seres humanos.
“Intersecções Intersectadas”, patente de 25 de Julho-12 de Outubro
Museu Serralves, Museu de Arte Contemporânea (Porto), 12 de Setembro
Numa das salas principais encontra-se uma máquina de projecção onde roda um filme de 57 milímetros “O Homem da Câmara de Filmar” , obra que influenciou o realizador no início da sua carreira. O filme é de Dziga Vertov, é-nos permitido conhecer a máquina usada na sala de montagem pelo realizador.
De seguida, metade do Museu rende homenagem ao mais ancestral dos realizadores, as paredes são usadas para projectar filmes como: “Douro, Faina Fluvial”; “Acto da Primavera”; “Benilde ou a Virgem Mãe”.
Instalaram cubículos de madeira onde é permitido sentar e ver com mais exactidão os filmes do Mestre, usufruir do tempo e senti-lo, subjugar o ritmo do Porto, à pulsação de capítulos da história do cinema. Seja a sua relação com o documentário, pintura, a censura da Pide aos guiões, e à sua relação com o teatro e a literatura como é o caso, “O Passado e O Presente” de 1971.
Toda esta dinâmica de ecrãs suspensos, telas que são paredes, fotografias, cartazes, imprensa, argumentos manuscritos, confissões à João Bernard da Costa e a Agustina Bessa-Luís; é abrasador, violento, desconcertante, perpetua e enaltece uma memória fílmica que deveria constar dos manuais escolares, celebrado anualmente e elevado a feriado. Viva o Mestre! Viva Manoel de Oliveira!
Manoel de Oliveira, patente de 13 de Julho-2 de Novembro
“Todas as Histórias” ocupa a sala inferior de Serralves onde há salas escuras, através de headphones ouvimos as vozes dos actores. Dos ecrãs podemos ver um filme de dois ângulos diferentes em simultâneo, e, a rotação da câmara sobre um casal pintado a sépia, o vídeo também é usado como suporte em “Rua Islam”. Obras assinadas por Tacita Dean, Marcel Broodthaers, Michael Snow, Cristian Boztanski, Francesco Vezzoli, João Onofre. Desta forma o espectador pode visualizar a vanguarda do documentário, ou, da falsa ficção, da repetição de um plano, a frase e o rosto perturbado de uma actriz que está preparada para o seu close-up.
“Todas as Histórias”, patente de 26 Julho-02 Novembro
O sul-africano David Coldblatt apresenta fotografias de media dimensão coladas directamente na parede. São retratos essencialmente do passado, e do presente. Vemos rostos negros, cemitérios, crianças descalças, olhos com hematomas, sinais de trânsito que discriminam os pretos/negros que eram escravizados por uma minoria africânderes. Que impedia a comunidade negra de circular em artérias “brancas”, o casamento entre ambos era proibido, o olhar, a crítica sobre um branco era ameaçado de prisão e violentado à queima-roupa. O Apartheid manteve cativo Nelson Mandela, condenado a prisão perpétua, por somente exigir a igualdade racial. As fotografias são testemunho do princípio e do fim de uma segregação que acabou em 1987, apenas há 21 anos. É emotivo ser testemunha desta tragédia, deste apocalipse racial, que vitimou gerações de seres humanos.
“Intersecções Intersectadas”, patente de 25 de Julho-12 de Outubro
Museu Serralves, Museu de Arte Contemporânea (Porto), 12 de Setembro
domingo, 7 de setembro de 2008
sábado, 6 de setembro de 2008
Palácio Sotto Mayor
A tarde está tão copiosa que sentenceia um Verão de chama vã, que arde com as barracas na praia, onde se recostavam os conimbricenses e castelhanos, há mais de um século que é assim. Para que mudar? À porta do Palácio Sotto Mayor está um polícia, uma senhora muito bem composta e escuteiros, que entrega o bilhete para “Sentidos de Estado”. Uma colectiva de obras de arte provenientes do Museu da Presidência da República, que foi inaugurado por Jorge Sampaio, pouco antes de abandonar o cargo.
A exposição inicia com bustos em bronze de Manuel Teixeira Gomes, Costa Gomes, Ramalho Eanes, e a estatueta de Sidónio Pais, todas da autoria de Irene Vilar; já o de Cavaco Silva é em terracota e tem a assinatura de José Dias, Mário Soares pertence a colecção particular e foi Lagoa Henriques quem o esculpiu. Este grupo, é constituído por peças de cariz moderno, tecnicamente irrepreensíveis, e a matéria nobre eleva-as a peças de recorte clássico.
No capítulo do óleo sobre tela: António Spinola está fardado com as insígnias do exército, sentado num maple, sob os braços e sobre as pernas, tem um livro e do seu rebordo lê-se: “Portugal e o Futuro”, obra que assinou e que causou impacto em 1974. Atrás de si, a perspectiva encaminha-nos para uma parede cinzenta, discreta que pretende sobressair o antigo chefe de Estado, do pós-25 de Abril. Tem uma dignidade inerente à sua postura, e o seu olho direito coberto com um óculo, empresta-lhe um pormenor excêntrico. Está datado de 1988 e assinado por Jacinto Luís.
Paula Rego é de facto um génio. As suas pinceladas transformaram um homem frágil, inseguro, desatento, palavroso para esconder o excesso de fluidez de ideias, num Presidente da República: Jorge Sampaio que teve a coragem de destituir um Primeiro-Ministro, incompetente com laivos de egocentrismo ditatoriais: Pedro Santana Lopes. Sampaio está sentado num cadeirão de veludo e de madeira banhada a ouro, atrás de si um pano verde, as cores nacionais cobrem uma mesinha, do lado esquerdo do Presidente, onde abre os olhos a República. Parecem meia dúzia de traços, em que Paula Rego engrandece Jorge Sampaio, apesar da leveza das pinceladas, como se o óleo e a tela estivessem omnipresentes.
Não se encontra o famoso retrato de Pomar a Mário Soares, em que este tem o rosto feliz e a mão direita levantada, e os traços a fazerem sobressair o seu corpo engravatado. Mas apenas um grande plano do rosto redondo do ex-Presidente da República, de Júlio Pomar.
Numa sala está um serviço de mesa: pratos e copos com as armas de Portugal, terrina no centro da mesa, salva e candelabros de prata, sobre uma toalha branca, poderíamos imaginar a receber Ceauşescu ou José Eduardo dos Santos, Reagan, Kadafi.
Há presentes oferecidos aquando da viagem ao estrangeiro dos representantes do Estado. Do reino do Gabão, uma figura feminina em pedra e ouro. Medalhões com a esfinge de João Paulo II. As estrelas deste grupo são o presépio oferecido por Yasser Arafat, em madeira de oliveira e madrepérola, e uma salva de prata de dimensões generosas comemorativa dos 500 anos de independência do Brasil.
A partir deste ponto em diante a colecção sublinha o óleo sobre tela de Eduardo Malta, que colocou num varandim Oscar Carmona, que tem Lisboa atrás de si. Obra de elegância e astúcia extrema, conjugando perspicazmente as cores quentes e frias, sumptuoso, brilhante dado o equilíbrio entre o retratado e a capital.
Apresenta o busto de Teófilo de Braga, Bernardino Machado, Manuel Arriaga, como se o curador desta exposição fecha-se o círculo da narrativa. Apenas abriu um posfácio nas viaturas que se encontram nas cavalariças: duas carruagens provenientes do Museu Nacional do Coche, e Mercedes Benz 600 S de 1966, Citröen Prestige CX de 1986.
“Sentidos de Estado” é um agrupamento sintético das obras pertencentes à presidência. Que permite uma aproximação à história da República, espelha Portugal através de elementos simbólicos, ou, representa os gostos dos Presidentes da República, e consequentemente o dos portugueses, naturalmente sóbrio e austero.
"Sentidos de Estado", Palácio Sotto Mayor, Figueira da Foz, 5 de Setembro, patente de 21 de Julho a 5 de Outubro.
A exposição inicia com bustos em bronze de Manuel Teixeira Gomes, Costa Gomes, Ramalho Eanes, e a estatueta de Sidónio Pais, todas da autoria de Irene Vilar; já o de Cavaco Silva é em terracota e tem a assinatura de José Dias, Mário Soares pertence a colecção particular e foi Lagoa Henriques quem o esculpiu. Este grupo, é constituído por peças de cariz moderno, tecnicamente irrepreensíveis, e a matéria nobre eleva-as a peças de recorte clássico.
No capítulo do óleo sobre tela: António Spinola está fardado com as insígnias do exército, sentado num maple, sob os braços e sobre as pernas, tem um livro e do seu rebordo lê-se: “Portugal e o Futuro”, obra que assinou e que causou impacto em 1974. Atrás de si, a perspectiva encaminha-nos para uma parede cinzenta, discreta que pretende sobressair o antigo chefe de Estado, do pós-25 de Abril. Tem uma dignidade inerente à sua postura, e o seu olho direito coberto com um óculo, empresta-lhe um pormenor excêntrico. Está datado de 1988 e assinado por Jacinto Luís.
Paula Rego é de facto um génio. As suas pinceladas transformaram um homem frágil, inseguro, desatento, palavroso para esconder o excesso de fluidez de ideias, num Presidente da República: Jorge Sampaio que teve a coragem de destituir um Primeiro-Ministro, incompetente com laivos de egocentrismo ditatoriais: Pedro Santana Lopes. Sampaio está sentado num cadeirão de veludo e de madeira banhada a ouro, atrás de si um pano verde, as cores nacionais cobrem uma mesinha, do lado esquerdo do Presidente, onde abre os olhos a República. Parecem meia dúzia de traços, em que Paula Rego engrandece Jorge Sampaio, apesar da leveza das pinceladas, como se o óleo e a tela estivessem omnipresentes.
Não se encontra o famoso retrato de Pomar a Mário Soares, em que este tem o rosto feliz e a mão direita levantada, e os traços a fazerem sobressair o seu corpo engravatado. Mas apenas um grande plano do rosto redondo do ex-Presidente da República, de Júlio Pomar.
Numa sala está um serviço de mesa: pratos e copos com as armas de Portugal, terrina no centro da mesa, salva e candelabros de prata, sobre uma toalha branca, poderíamos imaginar a receber Ceauşescu ou José Eduardo dos Santos, Reagan, Kadafi.
Há presentes oferecidos aquando da viagem ao estrangeiro dos representantes do Estado. Do reino do Gabão, uma figura feminina em pedra e ouro. Medalhões com a esfinge de João Paulo II. As estrelas deste grupo são o presépio oferecido por Yasser Arafat, em madeira de oliveira e madrepérola, e uma salva de prata de dimensões generosas comemorativa dos 500 anos de independência do Brasil.
A partir deste ponto em diante a colecção sublinha o óleo sobre tela de Eduardo Malta, que colocou num varandim Oscar Carmona, que tem Lisboa atrás de si. Obra de elegância e astúcia extrema, conjugando perspicazmente as cores quentes e frias, sumptuoso, brilhante dado o equilíbrio entre o retratado e a capital.
Apresenta o busto de Teófilo de Braga, Bernardino Machado, Manuel Arriaga, como se o curador desta exposição fecha-se o círculo da narrativa. Apenas abriu um posfácio nas viaturas que se encontram nas cavalariças: duas carruagens provenientes do Museu Nacional do Coche, e Mercedes Benz 600 S de 1966, Citröen Prestige CX de 1986.
“Sentidos de Estado” é um agrupamento sintético das obras pertencentes à presidência. Que permite uma aproximação à história da República, espelha Portugal através de elementos simbólicos, ou, representa os gostos dos Presidentes da República, e consequentemente o dos portugueses, naturalmente sóbrio e austero.
"Sentidos de Estado", Palácio Sotto Mayor, Figueira da Foz, 5 de Setembro, patente de 21 de Julho a 5 de Outubro.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
-
A veia é espetada por uma agulha grossa e o sangue é consumido por uma narrativa violenta do Conde Lautréamont: “Direi em poucas palavras co...
-
E se durante a manhã o nevoeiro apague o rosto maquilhado a pó de terra e se a chuva se retenha no seu rosto e o manche de lágrimas colorida...
-
Vivencio uma daquelas tardes de Setembro em que o calor é algo ténue e por essa razão efémero. No palco da Praça da Canção em Coimbra a ensa...