sábado, 30 de março de 2019
sexta-feira, 29 de março de 2019
George Harrison: Behind the Locked Door
Se decorre uma tempestade que luta contra uma outra tempestade e após diversas investidas de parte a parte há uma que é dominante e em rodopio dá movimento aos elementos naturalistas que se contorcem e por vezes partem-se em pedaços de lenho inerte que será consumido pela terra que se estrumara em favor do nascimento de rosas e malmequeres e como é possível que algo tão belo tenha origem em algo tão negro e esse mistério poderá estar no meu pensamento vegetal que vive condicionado com as estações do ano e envenenado por uma crescente poluição mas mesmo assim as flores irrompem ao sol que tem os mandamentos energéticos para as fazer crescer até ao Outono e nesse estorvo se tento folhear-me indisciplinadamente à procura de um sentido à essa fatalidade através do encadeamento aleatório de diversos quadros que se remetem para um obscurantismo bucólico que é por vezes alimentado por uma luz que palpita de satisfação por se manter activa e se fosse regar as plantas e podar as árvores e se tivesse que estrumar-me para que deste peito fosse possível irradiar a beleza que este rochedo é incapaz de tornar visível às investidas do sol à melanina que parece bater palmas no subsolo da minha pele sinto as ondas de calor a espalharem-se anarquicamente e resisto-lhes heroicamente para defender os aglomerados inertes que parecem abatidos por resplandecerem contrariadamente e tento reescrever a árvore da vida e a do destino mas nesta equação há uma distopia que me fragiliza como ser vegetativo que se limita a consternar a sua condição de espectador e se as pedras fossem eternas e os rochedos penedos da saudade haveria fé nessas árvores que se limitam ao assalto do céu na tentativa frustrada de lhe cravar as unhas pode ser que amanhã haja outros nessa predisposição na busca infinita de um paraíso que somente será descoberto se for fiscal; Wipeout Beat são um trio que faz uso predominantemente de teclados vintage e a sonoridade é uma expressão repetitiva e ou progressiva de uma textura que é aguda que é reveladora de um conjunto de ressonâncias com um timbre que remetem para o sinfónico pop que é elevado à uma condição de exacerbação tal que é hipnótico emanando um universo inapropriadamente decadente e se à pop adicionam o kraut rock este é vilipendiado e reinscrito num outro tempo que é imperscrutável que tenha uma baliza a cerceá-lo e a isto soma-se uma tempestuosa e por vezes anarca representação do que é estranho por ser deveras marginal; sinto a minha folhagem a divagar na brisa quente que é um continuo entre mim e o desconhecido e prevejo que se eventualmente me libertar desta raiz que me segura à vida que encontrarei num destino plausível de ser descrito por outras palavras que não estas que pecam por se nutrirem de seiva e que engordam como os meus anéis ano após ano não quero que os pássaros se pendurem nas minhas tatuagens de autores enamorados que com uma navalha inscreveram corações partidos e ou feridos por setas do doido do Cupido e nesta preze reinscrevo-me no decair da luz que escurece o eu esse que substantivamente luta diariamente por uma eternidade que se esvai num relógio de areia que verdadeiramente parecem as cinzas de outrem que amei durante um incêndio de almas que fugazmente me rodeiam como se fossem árvores fantasmagóricas a absorverem-me numa levitação que me parece perniciosa mas não há tempo para reagir e alimento-me destas de forma a crescer para fora da minha casa em madeira parda que treme se algo intempestivamente numa circularidade me tinge de uma fragilidade inapropriada para uma figura que tenta verticalmente agrupar-se num circuito que à partida está de tal forma viciado que é frustrante descreve-lo porque é dominado por limitações de um organismo que simultaneamente se encontra no limite da sua existência.
Wipeout Beat, Quintas da (In)certeza, 28 de Março, Fábrica das Ideias, Gafanha da Nazaré, Ílhavo.
Wipeout Beat, Quintas da (In)certeza, 28 de Março, Fábrica das Ideias, Gafanha da Nazaré, Ílhavo.
terça-feira, 26 de março de 2019
segunda-feira, 25 de março de 2019
Nada del otro mundo
Talvez sempre haja este sol e este céu azul e não percebo porque o centro comercial está repleto de formigas em redor de formigueiros de fiambre e de queijo na colecta para enfrentar o Inverno durante o qual vivem no subsolo a carregar com bagos de arroz e outras miudezas e tento identificar no azul as tonalidades do lapis lazuli mas somente encontro pontos esbranquiçados que desaparecem num milésimo de segundo e oiço o chilrear de pardais que idolatram a Primavera e o Verão apesar de vestirem as vestes castanhas do Outono e saltitam de estrado em estrado como se fossem os palcos onde os actores se resumem a uma absurda didascálica revejo-me na transcrição do mundo animal para o racional que identifica a delicadeza dos pulos das aves e a movimentação das asas pergunto-me como serão os dias destes animais que perante a escassez das árvores; Her Name Was Fire é um dueto composto por guitarra eléctrica/voz e bateria/voz percorrem as linhas rectas do hard rock e por vezes alguma cedência ao heavy metal e tanto numa quanto na outra as soluções que empregam (variações rítmicas) são insidiosas e agrestes e isto servido com poder sónico a questão é que sobra pouco para algo essencialmente marginal às linhas mestras que desenvolvem continuamente; sobrevivem neste reduto que circunscreve a minha existência que se assemelha a uma constante procura pelo verso perfeito que seja tão divino quanto a energia que os corpos irradiam luminosamente para quem amam e se giram são versões humanizadas de girassóis e se falam exprimem-se através de frases que não evocam a destruição de tudo o que é belo sendo que esta é uma concepção dos homens assim como o feio que sofrem com a passagem do tempo ganhando diversas variantes e prosseguem a questionar-se sobre o sentido da vida animal não estou certo que a deles seja mais valiosa do que o homem que carrega a bigorna ou o saco o carteiro e se sou assim como eles é porque rejeito a supremacia de qualquer individuo e medito sobre o que representam os actores com fatos velhos e rotos e que esperam por alguém que teima em não aparecer e nesta eterna espera há uma suspensão do tempo num outro que é de origem mental numa recriação de um continuo estado de vigília para com o que não tem uma lógica e que parecem cristalizar na espera talvez se eu fosse quem eles desejam encontrar para os alertar sobre a sua condição de mendigos que da vida apenas exigem que a sociedade os deixe em paz; Baleia Baleia Baleia tem o mesmo número de elementos que Her Name Was Fire mas o baterista não canta e o vocalista toca baixo eléctrico e as diferenças entre estes são que se relegam para a pop cantada num português pobre esta ilação decorre de um outro concerto onde os vi já que aqui felizmente a voz está de tal forma secundarizada que é impossível ouvir com acuidade o que canta quanto à música resume-se a ilustra-la de forma simplista; associo outras imagens de um imaginário que pertence a um outro lugar que desconheço as características mas não percebo o que faço aqui rodeado por água que flui indolentemente como se fosse o único precursor da ideia de tempo que envelhece o meu rosto e no intimo encaro-me friamente sem que tenha que me afastar do meu reflexo que é página onde gravitam os versos que são assinados por James Dunn que se desfaz em cada palavra omissa e que o representa assim como a tudo e a todos mesmo que isto seja uma impossibilidade pois instala o critério do nada como elemento transgressor para com uma sociedade que compra tudo mesmo que tenha origem criminosa e nessa medida há uma conivência perversa mas isso pouco importa se este céu desaparece-se para ser substituído pela noite e os pássaros vivem essa tragédia diariamente que em ramos dependurados esperam que o dia nasça para os libertar da cegueira que nem a lua cheia é capaz de os libertar para que fugir daqui se nesta ilha é porto de encontro de golfinhos e de baleias que cortam o mar à procura de águas tépidas um dia sonho que também me possa fazer marinheiro que no barco a remos tenha a coragem de navegar sem rumo ou se este é de facto algo impossível de descrever é porque a minha memória se faz carregar por figuras que se limitam a acordar para ir trabalhar no turno da manhã e se eu sou como eles é porque os canto e faço deste o meu centro de onde a melodia é tolhida por uma métrica que se expande para lá da página e é nesse espaço que eu existo; Lu Lu Blind são uns veteranos que se reagruparam para dois concertos isto no Sabotage em Lisboa e no Barreiro Rocks e a terceira e aparentemente última data é no Ceira Rock Fest e a sonoridade é reminiscente da década de noventa algo que se associa ao punk filtrado pelo noise e por vezes pelo grunge com uma contínua exacerbação do noise que é de facto assertiva e violenta associada a uma voz aguda e que canta/fala como se estivesse a discursar para uma plateia de potências criminosos.
14º Ceira Rock Fest, 23 de Março, ARMC - Associação Recreativa e Musical de Ceira, Coimbra.
14º Ceira Rock Fest, 23 de Março, ARMC - Associação Recreativa e Musical de Ceira, Coimbra.
segunda-feira, 18 de março de 2019
domingo, 17 de março de 2019
Peregrinação
Esta carta de amor não tem remetente e ou destinatário e nem tão pouco palavras dantes passava os dias à janela para ver uma nesga do seu cabelo que por vezes penteava na varanda do prédio vizinho suponho que ao sol as suas melenas louras vibravam e rasgavam a minha visão de um prazer inexcedível e perguntava-me porque era dominado pela angustia quando desaparecia e as lágrimas continham um salitre que me levava a pensar que não eram reminiscentes do Atlântico que tanto amaram os portugueses mas para mim tal era somente poesia que estudava na secundária na qual era tolhido pela sua imagem a soprar bolas de sabão na noite de São João onde saltávamos à fogueira ou atirávamos latas de laca para provocarem explosões que pareciam incendiarias e os dias eram tão lentos quanto em qualquer estabelecimento prisional à qual ganhei uma fobia que me levou a reprovar constantemente como se tal fosse um sinal de que não queria ser um burguês porque estes pensavam baixo e eu não sabia o que me vinha à cabeça para ter tomado tal resolução a minha mãe comunista ambicionava que eu fosse médico e preferencialmente cardiologista para que tivesse a ciência de fazer parar o coração de quem fosse de direita e ao pensar nela esse futuro parecia-me inalcançável e mesmo que estivesse concentrado à locução da professora perdia-me num emaranho de cabos que não se conectavam com o que era dito e o tédio tolhia-me como se fosse uma característica da minha personalidade e se me assaltava a tristeza seguia a linha da automotora para casa e encontrava o minifúndio seguido de urbanizações para os pobres e de auto-estradas e outras eloquentes arquitecturas que deviam à Suíça ou ao Luxemburgo somente faltavam os carros desportivos e os iates nas garagens; Toy são um quinteto de rapazes que estão constantemente imersos numa escuridão somente manchado pelos holofotes ténues de diversas cores e a isto junta-se um pó branco que é aspergido pelo palco e musicalmente são diversos ora a pop que lhes fica mal porque é somente delineada sem que seja efectivamente assumida e este meio-termo é fatal e isto repete-se quando se limitam ao rock com reminiscências góticas e há uma que é de uma atroz resolução e se espraia numa conformidade ingénua resta o noise que pejam de cores negras e com progressões eloquentes que são psicadélicas isto é quase épicas mas que estão feridas de algo novo que as destaque de outras que fizeram parte da história do noise do Reino Unido; e é obvio que tudo isto era tão deprimente quanto nefasto para quem desejava que as diferenças não tivessem agredido a paisagem e naturalmente cagava sobre estes dejectos de tijolo e cimento sem qualquer climatização para enfrentar o Inverno e se este se enunciava as sombras espessas absorviam a luz que contrariadamente se dissipava algo que a levava a evitar a varanda para se pentear ou dependurar os tapetes de feira e deprimia-me e naturalmente ou não perdia o apetite e emagrecia e no Verão engordava de prazer e perante a minha continua observação a minha mãe perguntava-se o que me atraia para algo que se resumia a uma estrada que rodeava os prédios que por vezes me pareciam gigantes que lutavam contra as intempéries ou se derretiam à luz intensa que provocava fins de tardes suados julgava que estava a criar um poeta meramente contemplativo que via a beleza em tudo e em todos algo que a fazia rir pois o associava ao materialismo dialéctico mas perturbava-lhe a minha falta de apetite e para o sanear fazia receitas que havia visto na televisão e tristemente informei-a o porque da minha obsessão algo que a levou à risota de quem estranha que o amor esteja em alguém tão minúsculo e inexpressivo e numa amanhã fomos acordados por máquinas que iniciaram as obras de construção de um muro entre nós e os meses que se seguiram foram de uma constante tristeza que acompanhava o crescimento desse obstáculo que quando foi completado me impôs uma solidão que recordo como sendo a primeira vez que compreendi o que ela significava.
Toy, 16 de Março, Casa da Música (Sala 2), Porto.
Toy, 16 de Março, Casa da Música (Sala 2), Porto.
terça-feira, 12 de março de 2019
segunda-feira, 11 de março de 2019
Diana o la cazadora solitaria
Wackadelics são um quarteto que tem por princípio diversos pontos como uma base rítmica prog a partir da qual acrescentam diversos estilos como o funk ou o flamenco a bossa nova e outros tantos que se os tivesse que transcrever dariam para preencher uma página A4 há que sublinhar a eficácia com que mudam de arranjos numa única canção isto é nesta há outras tantas enunciações numa lógica jazzistica algo vanguardista há décadas atrás e que não são devidamente calibradas com uma maior assertividade estilística; o contorno dos lábios pintados de refresco de caramelo com gás oxidado e antes havia sombras entre nós que arrefeciam os nossos corpos de adolescentes magoados pela libido e pergunto-me onde está onde parecer que se encontra talvez ao meu ombro a segregar um romantismo tipicamente de novelo que se desenrola e enrola a sua língua para sublinhar as palavras com intensidade emocional e julgo que se cala e que pela calada desaparece com o cair do manto escuro sobre a sua silhueta que se assemelha à de uma idosa que em tempos foi uma sanguessuga que se pendurava no pescoço do marido para lhe extrair a diabetes e eram-lhe ofertadas flores no dia dos namorados pelo seu vizinho que a espreitava para dentro do cofre onde se aninhava para miar à lua que vertia a sua luz tímida sobre Ratos a sua cidade natal onde nasceu supostamente ainda em casa dos pais dos quais herdou o pêlo cinzento que penteava para trás ou por vezes pintava-o de preto para se parecer com a tia-avó de gordura aburguesada que lhe dava as prendas desejadas na quaresma ou no seu aniversário que coincidia com o 13 de Maio; Victor Torpedo é o homem de cabedal que enfrenta o público que em pé o circunda e esta premissa de confronto provoca risos de quem não reconhece na performance o domínio do absurdo que procura perturbar a vivencia destes jovens que habitam numa zona rural de tão recôndita e as canções são de um despretensiosíssimo desarmante onde predomina a pop com distorções melódicas que aprofundam a sua expressão corporal de quem está contra o mundo que estaticamente limita o pensamento e o anestesia tal como no início do século passado foi premissa do Dada ou dos Futuristas; por vezes faziam-se à estrada para cumprirem a promessa secreta de um dia poderem trocar de maridos por outros mais jovens e por isso mais esbeltos talvez se os estrangulassem com uma toalha de secar os cães ou incendiassem a associação onde jogavam às cartas e vibravam com a bola mas são meros esquemas que jamais conseguiram desenvolver porque tinham medo que os ratos desaparecessem e levassem em procissão os piolhos e as moscas varejeiras e isso torná-las-ia em solitárias que nem os crimes emitidos pela televisão local mitigariam e nem o passatempo aos Domingos duvido como posso amar alguém assim ou talvez somente assim assim sim porque julgo que não domino os meus sentimentos expurguei-os ontem mas parece-me que o fiz há décadas quando ainda estava a gatinhar como um hamster a brincar às escondidas e a minha audição anula-se quando sorri e depois passa a língua discretamente pelo meu doce rabinho de rabino que ela tanto elogia como se fosse um troféu que a delicia e inesquecivelmente lamento o seu desejo que me parece impróprio para alguém tão principescamente belo e que sedutoramente é um poço com lagartixas e outros seres que somente se encontram em enciclopédias nas bibliotecas da especialidade se o tempo se desse por extinto escapulir-me-ia mas o seu hálito seco é afectado por um arrefecimento nocturno; Marufa têm uma presença em palco de quem aparentemente está habituado a tocar em festivais patrocinados por drogas leves e isto é um elogio mesmo que por vezes pequem por excesso e quanto às canções são derivações do nu metal algo que é infecto-contagioso e como tal é provável que não se distingam de um milhar de agrupamentos similares; que a torna numa negra de proporções indisciplinadas que tem como centro um vulcão que por vezes entra em erupção quando precisa de se satisfazer como se ciclicamente entra-se num outro domínio onde é tacteada pelos seus dedos de unhas de ratazana pintadas de vermelho soa o telemóvel e quem fode quem é o sinal que a faz despertar e fala num timbre meloso e mente ao seu ratinho que do outro lado do mundo se sacrifica por ela e pelas filhas siamesas que dividem a massa cinzenta como se fossem parasitas uma da outra o que uma sonha a outra transforma em pesadelos o que uma deseja a outra rejeita e assim sucessivamente e se uma estiver deprimida a outra está feliz e assim eternamente responde que estão a acasalar com o perdigueiro para que possam vender as crias para a China onde são cobiçadas para os pratos adornados com cebolas e caviar e se quando se despede dá-me um outro beijo que eu retenho na memória para um dia esquece-la como se fosse somente uma abstracção ou a realidade porque entre ambas é o seu estado febril que inconformadamente revejo enquanto escrevo ou talvez somente o faça para a testemunhar que estou aquém das minhas forças de estrela disforme ou diamante cravado de plástico.
Wackadelics, 9 de Março (matínê), Pinga Amor, Coimbra.
Marufa + Victor Torpedo, 9 de Março, Antiga Escola Primária da Ilha de Baixo, Pombal.
Wackadelics, 9 de Março (matínê), Pinga Amor, Coimbra.
Marufa + Victor Torpedo, 9 de Março, Antiga Escola Primária da Ilha de Baixo, Pombal.
domingo, 10 de março de 2019
sábado, 9 de março de 2019
Spleen de Madrid
Os caminhos que se cruzam formam uma cruz que questiona se é possível escolher uma das quatro alternativas talvez se ficar no centro sinta o fluxo que a oriente na direcção que deseja mas escolhe um aleatoriamente para se desresponsabilizar de uma eventual desorientação que lhe proporciona simultaneamente um prazer estranho que desconhece que esteja na origem a adrenalina pode ser que detrás dos arbustos esteja numa paisagem paradisíaca mas o que encontra são restos de ossadas de cães abandonados pelos donos antes de partirem de férias para um sítio onde não os oiçam a latir enquanto morrem à fome ou ao veneno dos vizinhos que habitam cavernas de plástico onde se escondem os parasitas que sugam a electricidade das tomadas e se metamorfoseiam em imagens voláteis que desaparecem em rasgos fugazes e se ela ainda se encontra nas proximidades é porque está estática a mitigar o medo que a sua decisão a levou a tomar e se fosse um lugar familiar estaria rodeada pelos seus filhos e netos e bisnetos e pelos gatos siameses que ouve a ronronar de uma brisa que teima em despenteá-la; The Stoneman são um colectivo que tem como centro o rock em subsequentente canções a meio tempo numa contenção sónica desarmante que são tolhidas pelo americana e por alguns resquícios de country-folk assim como dos blues e deixam para o fim o grunge acresce que executam-nas com um primor que as eleva a um estado de eloquência sublime mas o que as fere são as fronteiras estéticas das quais são incapazes de as transgredir; e tenta seguir em frente pois julga que esse é o futuro mesmo que tal seja uma abstracção que lhe foi imposta pela sociedade servil ao tempo e às suas cambiantes que sem ele seriam felizes deixaria de existir espelhos e outros artefactos que impõe a sua passagem desmedidamente louca e voraz que limpa a terra dos seus rochedos e os transforma em areia que serpenteia como uma cobra cascavel e isto perturba-a e tenta regredir mas o tempo impede-a somente há futuro para desbravar minha querida amiga diz-lhe ela que se não fosse assim ainda estaria mais perturbada e dá passos a medo sobre o soalho de azulejos pretos e brancos e sobe e desce e numa planície tenta fugir mas encontra um abismo que lhe provoca vertigens mas o espaço transforma-se num quadro de insectos que voam ao seu redor e a sirene que ecoa parece que está do outro lado do mundo que lhe é impossível de visionar desconhecia que havia esse género de fantasma nas imediações e não sabe o que pode fazer para se libertar da liberdade que a está a aprisionar se pensa em Deus; IAN actua sozinha e a música é debitada em playback mas que encontra elementos que a tornam orgânica isto é ganha uma dinâmica humana seja através da sua voz ou do violino ou do teclado veste um macacão escuro e enverga uma peruca e estes elementos enquadram-na num artificialismo de boneca de corda mas IAN supera este elemento ao protagonizar uma performance tão equilibrada quanto explosiva que expressa fisicamente as canções que se alicerçam na electrónica que se traduz no hip hop ou no drum and bass e no trip hop que são continuamente decompostos quebrando as regras que os dominam e isto repercute-se numa surpresa que provoca espanto se há algo mais para acrescentar é que Portugal é um “palco” exíguo para IAN; que julga que está sentado num trono de ouro à espera de um outro anoitecer onde debate com violência o Demo que demoniacamente se entrelaça nos tubos de aço que abastecem um navio de fantasmas dispostos a conquistar o além para o desalojarem da sua condição de depósito de almas benignas e malignas julga uma e outra e é incapaz de decidir qual é a sua natureza esse interior que está em turbulência e que se converge contra os ditames morais que a aprisionam mas que encontra neles a segurança para continuar a prevaricar por causa de algo que reconhece que lhe é pernicioso mas mesmo assim bebe do cálice uma e outras vezes para se tentar rejuvenescer e anular a viscosidade que exala pela sua pele que a enoja e lhe provoca vómitos que cobrem a sua cara e nesse sufoco tenta respirar mas ingere os sólidos e os líquidos que a asfixiam lentamente se tem alma esta não se emana do seu cadáver que é perfurado por facas de dois gumes que lhe retiram o sangue e a secura invade as veias e exangue é observada por si como se ela não existisse.
Clap Your Hands And Say F3st! (IAN + The Stoneman), 8 de Março, Teatro Miguel Franco, Leiria.
Clap Your Hands And Say F3st! (IAN + The Stoneman), 8 de Março, Teatro Miguel Franco, Leiria.
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